O transporte sobre rodas está fora de moda em muitas capitais além de nossas fronteiras. Após o Rio de Janeiro ser a capital do mundo durante as Olimpíadas do ano passado, surge, finalmente, o projeto que promete diminuir o número de carros nas ruas e avenidas da Barra da Tijuca e Recreio.

A solução para desafogar o trânsito na Avenida das Américas, uma das principais da Barra, está nas lagoas

Por Ive Ribeiro e Yuri da Cunha

O transporte sobre rodas está fora de moda em muitas capitais além de nossas fronteiras. Após o Rio de Janeiro ser a capital do mundo durante as Olimpíadas do ano passado, surge, finalmente, o projeto que promete diminuir o número de carros nas ruas e avenidas da Barra da Tijuca e Recreio.

O Vice-Prefeito e Secretário Municipal de Transportes do Rio, Fernando Mac Dowell, em entrevista ao jornalista Claudio Magnavita, disse que pretende interligar o modal aquaviário ao metrô, para facilitar a integração e estimular a redução dos engarrafamentos. Com esse sistema operando nas Lagoas da Barra, aliviaria todo o tráfego das Avenidas das Américas e resolveria muito bem o problema do trânsito na região. ”Nós já estamos estudando e estamos bem adiantados, vamos fazer um sistema de hovercraft (tipo de embarcação que pode flutuar sobre as águas, a neve e sobre a areia; usando a força das hélices), para que a gente consiga fugir da dependência do assoreamento”, disse Fernando.

Para o presidente da Associação de Moradoresda Rua Aroazes (AMA), a Rua Aroazes fica em frente ao Parque Olímpico, Luciano Dias, o trânsito no bairro é um problema
e o transporte hidroviário seria uma solução exemplar para acabar com os congestionamentos, tendo em vista que as ruas não suportam mais o número crescente de veículos e de condomínios. Além de diminuir o trânsito, melhora a qualidade de vida das pessoas, que poderiam passar mais tempo com a família. De acordo com Luciano, mais de 60 condomínios podem vir a ser beneficiados com a mudança no sistema de transporte na Grande Barra. Em números absolutos, dados por ele, aproximadamente 50 mil moradores apenas nas proximidades do Parque Olímpico.

Ainda de acordo com o presidente da Associação, a integração com os ônibus dos condomínios pode aumentar o fluxo de passageiros e fazer com que o trânsito, que hoje tira a paciência de muitos moradores, seja apenas mais um capítulo na história do bairro.

Empresa de transporte por balsas aguarda prefeitura e avalia possível licitação

Enquanto a prefeitura do Rio não emplaca o transporte hidroviário para a população carioca, desde 2013, um grupo de empresários especializados em mobilidade marinha cuida disso. Trata-se da Eco Balsas. Localizada na Avenida Lúcio Costa, a empresa fornece diferentes itinerários nos complexos lagunares da região, como a Lagoa de Marapendi, Lagoa da Tijuca e Lagoa de Jacarepaguá. A principal rota é a que leva o usuário ao metrô de Jardim Oceânico. O recente trajeto dobrou o número de passageiros das balsas, chegando a 2 mil passageiros por mês. Além disso, diversos barqueiros da região aproveitaram para fazer o mesmo caminho.

Atualmente, a empresa de balsas conta com 20 embarcações e trabalha com rotas regulares, em transportes fretados para atender aos interesses dos moradores dos condomínios que rodeiam as lagoa. Também prestam serviço de passeios turísticos para escolas e demais interessados em conhecer a região, com direito a guias e biólogos ministrando a viagem e ensinando sobre o ecossistema. Entretanto, Georges Bittencourt, um dos donos da Eco Balsas, confirma que “aguarda a maturidade do projeto” da prefeitura para uma possível licitação para a concessão do transporte aquaviário.

“Nossa especialidade é trabalhar para os condomínios da Barra, com os fretamentos, mas se a prefeitura decidir criar rotas (de transporte público) nós vamos avaliar as condições e, se acharmos que são reais, a gente vai se pronunciar e participar”, afirma Georges, que reitera que o transporte hidroviário na região precisa ser estudado, pois, na visão da Eco Balsas, nem todos os pontos das lagoas sustentariam um transporte de massa. Nesses locais, o transporte particular continuaria sendo a melhor opção.

Possibilidade do uso do sistema de hovercraft (que também é chamado de aerobarco) não elimina a necessidade da despoluição

“A gente ouve a prefeitura falar que alguns equipamentos poderiam navegar nessas condições, mas a gente não acredita que o ser humano deva navegar ou conviver nesse ambiente”, diz Georges que, além da questão ecológica, também responsabiliza a poluição nas lagoas pelo aumento do custo operacional com a manutenção de equipamentos e reparos de pequenos acidentes e pela impossibilidade de navegar em certas áreas, o que acaba reprimindo algumas rotas em que as balsas não conseguem chegar.

Para Haroldo Mattos, professor da Fundação Getúlio Vargas e da Escola Politécnica da UFRJ e presidente do Conselho Empresarial de Meio Ambiente e Sustentabilidade da ACRio, a despoluição é fundamental. “A despoluição das lagoas da Barra é uma atividade essencial para este tipo de transporte e, certamente, iria possibilitar um grande aumento das atividades de turismo na região, com reflexos positivos no comércio. É indispensável também para a melhoria das condições de saúde da população.”

Quem compartilha da mesma opinião é Alfredo Lopes, presidente da Associação Brasileira de Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro (ABIHRJ). Para ele, além de dificultar o transporte, a poluição também reprime uma demanda turística numa região que é naturalmente privilegiada com suas lagoas. “O Recreio e a Barra têm lagoas próximas ao Rio Centro, próximas de grandes condomínios, grandes hotéis e não é nada interessante você ter um hotel que também é um centro de convenções de frente para uma lagoa que está poluída”, afirmou.

A despoluição das Lagoas de Marapendi, Jacarepaguá e da Tijuca eram um compromisso do legado olímpico, mas que não foi cumprido. O custo para as obras de recuperação das águas que passam próximas à Avenida das Américas, por exemplo, era de 673 milhões de reais.

Entenda como surgiu o projeto do transporte nas Lagoas

Atentos às necessidades dos moradores da Barra da Tijuca, principalmente com a crescente demanda de carros nas ruas e avenidas, os vereadores Carlo Caiado e Thiago K. Ribeiro criaram a lei 5.751/ 2014, que regulamenta o transporte lagunar na região. Segundo o vereador Caiado, usar as águas da Barra é imprescindível para dar fluidez na região e diminuir os engarrafamentos nos horários de pico.

“Naquela região (Barra e Recreio) é fundamental. Isso significa resolver um grande problema: o deslocamento interno. Para isso, primeiro criamos a lei e depois a prefeitura conseguiu uma parceria com uma empresa de barcos para fazer um estudo prévio, com a finalidade de sabermos a viabilidade técnica e operacional. O novo governo fez o que esperávamos. Como a Barra tem potencial turístico, acreditamos que vai haver grande movimentação no comércio local, pois andar de barco já vai ser um passeio. As linhas podem atender os condomínios e os principais pontos de interesse de quem circula por ali”, disse o vereador.

Estudos apontam que o tipo de embarcação depende do quão assoreada está à área a ser utilizada. A dragagem dos canais e a completa despoluição não são os objetivos do modal, que pode iniciar suas atividades assim que todo o processo for concluído. O modelo de operação deve seguir o mesmo das demais concessionária da cidade, como a SuperVia e o MetrôRio, por exemplo. A empresa que demonstrar interesse em operar o sistema, em contrapartida à exploração do serviço, por um tempo que ainda será determinado, poderá ser a responsável pela limpeza superficial dos espelhos d’água.

Assim, o bairro agraciado pela natureza com vastos complexos lagunares, que um dia foi totalmente rodoviário e que agora recebe os modelos metroviários e de ônibus articulados em corredores expressos (BRT), pode, finalmente, ter em suas águas uma solução simples, barata e não poluente para desafogar o caos de locomoção na região.