Saber morar na Baixada de Jacarepaguá é como comprar um carro. Se fizermos as revisões adequadas e com a periodicidade devida, o bem dura por tempo indeterminado.

Saber morar na Baixada de Jacarepaguá é como comprar um carro. Se fizermos as revisões adequadas e com a periodicidade devida, o bem dura por tempo indeterminado. Sem as manutenções necessárias em pouco tempo se perde a qualidade e a segurança desejada. O Complexo Lagunar da Baixada de Jacarepaguá segue este princípio natural.

Ao longo dos últimos 40 anos(1975-2015), período de desenvolvimento urbano da região, muito pouco ou quase nada foi feito em termos de ações de manutenção ou recuperação do ecossistema lagunar. Afora a dragagem da Lagoa de Camorim e a instalação do emissário submarino, obtidos após muita briga por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta-TAC e pressão da comunidade organizada, nada significativo e digno de nota foi realizado. Por outro lado o crescimento urbano e a pressão do uso do solo acelerou muito nos últimos 15 anos. Sem um plano urbanístico e equipamentos urbanos condizentes, o lançamento de poluentes (esgoto e água pluviais contaminadas) nos rios e canais além da devastação da cobertura vegetal das encostas e da faixa marginal de proteção dos corpos
d'água, se intensificam . O resultado é a perda do patrimônio ambiental que é a razão principal da qualidade de vida da região.

Acredito que a capacidade de auto depuração das lagoas costeiras já se esgotou em meados
da década de 1990 pelo volume de dejetos fugitivos lançados. O crescimento extraordinário a partir de 2000 acelerou ainda mais a degradação e a morte de extensas áreas da Lagoa de Camorim e da Tijuca (100% e 75% do espelho d'água respectivamente). Como consequência surge o progressivo aumento da frequência dos desequilíbrios ambientais representados pelos surtos de mau cheiro, bloom de algas tóxicas e da mortandade de peixes.

A expansão da mancha de degradação é evidente. O assoreamento lagunar, o gradual acumulo de lixo nas margens e manguezais, a perda do paisagismo natural, o desaparecimento de muitas espécies de pescado além da perda da qualidade e da transparência das águas saltam aos olhos da opinião pública. A revolta social é eminente.

Pior que estas evidências é a falta de iniciativas para reverter esta situação progressiva. As poucas soluções oferecidas passam por um processo velado de canibalismo onde aparecem mais críticos para destruir do que pessoas dispostas a ajudar a implementar. A eloquência dos discursos dos oportunistas de plantão desaparecem no momento seguinte quando se necessita do trabalho para execução. Isto quando não acontece o pior, que é a nulidade das ações pois as mesmas foram excluídas para dar lugar a propostas inexequíveis. A oportunidade da visibilidade oferecida para estes críticos de plantão que não vivem na região e que só confundem a opinião dos moradores locais, perpetuam a falta de ações e intensificam os problemas ambientais através da obstacularização das iniciativas de recuperação. Destruir é mais fácil do que construir. Em outras palavras, é mais cômodo ser estilingue para quebrar, do que vidraça para proteger.

Nós, moradores da Baixada de Jacarepaguá, não podemos assistir passivos a destruição do nosso patrimônio natural do nossa região. Precisamos estar atentos para identificar os falsos profetas do apocalipse que só sobrevivem da desgraça e do conflito que não nos interessa. Precisamos de ação para o início das obras de recuperação.

Atualmente ainda existe recursos alocados, projeto, estudos e medidas ambientais preventivas para realizar o desassoreamento profilático dos canais e lagoas da Baixada de Jacarepaguá. Contudo é necessário que a sociedade organizada seja proativa e apoie a iniciativa dos órgãos públicos empenhados neste objetivo. Inclusive o anuncio da dragagem e a discussão dos possíveis desdobramentos ambientais já foi exaustivamente apresentado e
discutido com especialistas e moradores que vivem no entorno destas lagoas. A procrastinação da perfeição vem se perpetuando nos últimos 3 anos e particularmente não se tem conhecimento de nenhuma iniciativa de recuperação ambiental ser tão estudada e de ter tantas medidas preventivas esquecendo-se que a cada dia que passa ela se inviabiliza cada vez mais. Vai chegar o momento em que não teremos como ressuscitar um paciente já morto. Não podemos esquecer que o tempo também um elemento limitante da nossa capacidade de reabilitar um paciente moribundo.

Neste sentido a Câmara Comunitária da Barra da Tijuca não tem medido esforços para encontrar caminhos que acelerem este penoso processo tentando conciliar diferenças justas e repudiar aquelas que só iludem a opinião pública.

Prof.  David  Zee
Vice-Presidente  da  Câmara Comunitária Barra da Tijuca