O Jornal da Barra preparou uma coletânea de editoriais escritos ao longo desses 28 anos de trabalho que contam um pouco da história da região da grande Barra e do Rio, destacando os fatos mais marcantes de diversos segmentos.

"O importante é que emoções eu vivi!!!”

Outro dia, uma amiga chamada Maria Rita me procurou, se lamentando porque seu marido, também sexagenário, não queria mais sair de casa, ir ao cinema ou fazer uma viagem de final de semana. O casal conhecia praticamente o mundo todo, gastou muito, mas muito mesmo, nos áureos tempos, mas agora o marido já estava cansado...gostava mesmo de ficar vendo a paisagem da linda varanda de seu apartamento num condomínio da Av. Sernambetiba. A rica mulher reclamava sem parar, sentia-se triste, deprimida mesmo, a ponto de chorar e se desesperar, pois sua vida estaria se transformando num verdadeiro inferno...ela mencionou até que teria pensado em por um fim a sua vida.

Na verdade, ela tinha tudo, marido, saúde, dinheiro, e vivia uma crise existencial. Só se sentia feliz quando ia ao Barra Shopping comprar o que precisava e o que não precisava, pelo simples prazer de extravasar todas as suas angústias. Muitas vezes, sua mesada já havia sido gasta, porém ela não se continha, comprava roupas caras e outros objetos de uso pessoal, usando o limite do cartão de crédito muitas vezes, estourado.

Católica de nascimento, ao invés de ir a sua igreja, buscava amparo na igreja evangélica, no centro kardecista, e algumas vezes em rituais de candomblé, tudo isso na companhia de amigas e escondida do marido. Ela se sentia a mais infeliz dos seres humanos.

No dia seguinte, convidei-a a dar uma volta de carro, aqui pela Barra da Tijuca mesmo.

Disse a ela que ela tinha tudo para ser feliz, mas que só ela não sabia ou não enxergava.

Iniciei nosso pequeno tour no cruzamento do Barra Bali, e logo apareceu um pedinte, sem camisa, usando um calção amarelo e um boné de sol. Seus braços não existiam, eram apenas 2 dedinhos ou 3, na altura do ombro. Mas o pobre homem andava com suas próprias pernas e falava bem. Ao que parecia era uma das vítimas da talidomida e seu defeito de nascença. Por coincidência descobri que este homem tem até conta bancária.

E continuando nosso”tour”, chegando ao retorno em frente ao número 1055 da av das Américas,ali nos deparamos com um homenzinho raquítico e paraplégico, numa cadeira de rodas, sendo empurrado por uma menina branca e cheia de saúde. O sinal fechava e os dois percorriam todos os carros coletando esmolas. Quando o motorista não dava nada sentíamos até um ar de reclamação. Minha amiga já estava mudando seu modo de ver as coisas...Mas não parei por aí. Entramos no Extra, antigo Paes Mendonça, e na saída encontramos outro paraplégico se movimentando sozinho e com muita agilidade em sua cadeira de rodas. Ele não pedia esmolas, procurava vender balas e chocolate, muito simpático e sempre sorridente, apesar de todos os problemas e dificuldades que enfrenta, há muitos anos. Maria Rita já admitia:-“ que homem de fibra, como ele pode ser feliz com tantos problemas?” Mas eu queria que ela conhecesse mais uma pessoa maravilhosa que está sempre entre nós da Barra e que muita gente até hoje não se apercebeu. Voltando pela Via Parque, entrando pela rua do Hospital Lourenço Jorge, esquina da Av Ayrton Sena, encontrei o quarto e mais importante personagem dessa história. O sinal fechou, e logo se aproximou do carro, um homenzinho sem pernas arrastando-se pelo chão, apoiando-se em suas calejadas mãos. Mais do que depressa, peguei uma moeda de 1 Real e dei em sua mão. Ele já me conhecia, já era bem tarde e o dia meio chuvoso. Ele agradeceu e com muita simpatia e se dirigiu a mim, cantando uma música e me perguntando se eu sabia quem era o cantor...Por acaso ele cantava a música de Roberto Carlos, Emoções, e dizia sorridente:-“o importante é que emoções eu vivi...”Maria Rita ficou tão sensibilizada que não conteve as lágrimas.