Destino Sombrio mostra um certo desgaste da saga, a falta de novas e boas ideias deixa tudo um pouco repetitivo demais, fazendo ele quase pedir “chega!” depois de 30 anos

Por: João Victor Ferreira

A franquia Exterminador do Futuro talvez seja uma das mais maltratadas do cinema. Depois do sucesso estrondoso de Exterminador do Futuro 2 - O Julgamento Final de 1991, a franquia rendeu inúmeras continuações que exponencialmente decresceram a qualidade dos primeiros filmes, além de confundir em grande parte a cronologia e a grande história da saga. Pois bem. Em 2019, James Cameron volta a ter direitos sobre a franquia e volta como produtor da série, confiando a Tim Miller (Deadpool) essa mais novo capítulo dos filmes que aparentemente ignora todas as últimas sequências e nos volta ao final do filme de 1991.

Dani Ramos (Natalia Reyes) é uma jovem mexicana que vive a sua vida comum com seu pai e irmão, até que tudo muda quando dois viajantes do futuro vêm atrás dela. Grace (Mackenzie Davis) tem a missão de salvar a vida de Dani, enquanto o Exterminador (Gabriel Luna) é programado para matá-la. A trama gira em torno dessa dinâmica de “gato e rato”, de forma que Dani e Grace precisam da ajuda de antigos e experientes combatentes para acabar com essa ameaça do futuro.

O filme aposta muito na estratégia do recente Star Wars: O Despertar da Força. Apresentar o universo para uma nova geração, ao mesmo tempo que o filme se respalda e sustenta na emoção nostálgica de um público velho fiel à saga. Temos aqui novamente Linda Hamilton e Arnold Schwarzenegger, trazendo toda a aura dos filmes que tanto fizeram sucesso antes dos anos 2000. O filme se utiliza de uma desculpa na construção da premissa para que ele funcione. Há aqui uma desconsideração em relação andamento da cronologia de toda a franquia, algo que já havia sido feito na segunda parte da saga, com o respaldo de criar um filme antológico e icônico que funcionasse melhor no tempo presente do que nos famosos “vai e vem” entre presente, passado e futuro. De fato, o filme que melhor funciona em termos narrativos, em uma história fechada e coesa é, sem dúvida, o primeiro filme de 1984. Dito isso, é muito problemático interpretar isso como um problema, visto que filmes atrás já fizeram o mesmo. A ideia de Tim Miller aqui é dar um restart nessa grande história.

O filme é bem dirigido dentro das limitações do gênero que ele próprio se coloca. As cenas de ação são fluidas e bem enquadradas, de modo que você consegue entender bem o que está acontecendo. Em algumas cenas a computação gráfica pesa demais e a direção parece ter noção disso, uma vez que muda a estratégia e deixa o plano muito entrecortado e frenético, causando certa confusão no público. O design de som é muito bom nos efeitos de tiros e dos vários objetos mecânicos. A luta de robôs contra robôs é sensacional e muito bruta muito visceral, trazendo de volta o elemento quase industrial de James Cameron nos primeiros filmes.

A atualização da linguagem tecnológica é muito válida e coerente nesse filme. Lembrando que anos atrás não existia internet e um mundo completamente conectado. O Exterminador era limitado a listas telefônicas e relatórios policiais para achar os seus alvos. Drones, satélites e smartphones deixam tudo mais interligado e tornam o grau de ação e perseguição do novo Exterminador muito mais frenético e implacável.

Arnold continua muito carismático no papel de T-800: ele entende muito bem o personagem e as suas particularidades entre os humanos e isso passa aqui no filme. Linda Hamilton está sensacional, voltando ao corpo de Sarah Connor. No filme, a personagem carece de mais de um background, podendo se tornar em alguns momentos até rasa. Mas o carisma da personagem e se pensando no arco que ela sofreu depois de três filmes, redime essa falta de trabalho e justificam a sua presença na trama. O personagem de Mackenzie Davis é bem interessante e traz um novo olhar para resistência humana contra os robôs. A justificativa do personagem da Natália Reyes é boa e é interessante atualizar a discussão da premissa da franquia para os dias atuais, mas a atriz não entrega tão bem assim a importância que a personagem têm na trama.

Exterminador do Futuro - Destino Sombrio não é o melhor da saga, mas também não é o pior também. Depois da saga ter sido escandalizada tantas vezes, o filme surge quase como um alento. O filme passa a emoção nostálgica necessária e ainda assim funciona melhor sozinho do que os últimos. Ainda assim, Exterminador do Futuro - Destino Sombrio mostra um certo desgaste da saga, a falta de novas e boas ideias deixa tudo um pouco repetitivo demais, fazendo ele quase pedir “chega!” depois de 30 anos.

Nota: 7