Olimpíada de Paris acontecerá daqui a três anos, um a menos do que os ciclos olímpicos comuns

Adalberto Leister Filho (Folhapress)

O mais curto ciclo olímpico da história exigirá adaptações. Serão apenas três anos de preparação para as Olimpíadas de Paris-2024, com um calendário de competições carregado após vários adiamentos de eventos durante o período mais crítico da pandemia do novo coronavírus.

Diante disso, o COB (Comitê Olímpico do Brasil) já faz planos para o período imediatamente anterior às disputas na França. A ideia é ter bases de preparação perto de onde ocorrerão as competições, marcadas para o período entre 26 de julho e 11 de agosto. A principal deverá ser em Portugal.

O país já foi uma parada no caminho para os recém-encerrados Jogos de Tóquio. No ano passado, no auge da pandemia, o COB realizou o que chamou de Missão Europa, enviando cerca de 200 atletas para treinamento no Rio Maior Sports Centre, 75 quilômetros ao norte de Lisboa.

Esse período de preparação, em um momento no qual vários locais de treino permaneciam fechados no Brasil, foi considerado fundamental para o bom desempenho da delegação verde-amarela, que conquistou no Japão o número recorde de 21 medalhas (7 ouros, 6 pratas e 8 bronzes).

A 12ª colocação no quadro de medalhes foi a melhor já obtida pelo país na história dos Jogos Olímpicos. E, das 13 modalidades que treinaram em Portugal, nove subiram ao pódio em Tóquio.

"A base principal deve ser Portugal. Temos uma relação muito boa com o comitê olímpico deles, que foi extremamente parceiro durante a pandemia. Essa deve ser nossa base-mãe na preparação que antecede os Jogos", diz Jorge Bichara, diretor de esportes do COB.

Algumas modalidades ficarão em outros locais. É o caso da vela, que deve finalizar preparação em Marselha, no sul da França. Membros do COB visitarão o local em outubro para fechar os detalhes.

"Durante o evento teremos também uma base em Paris dando suporte aos atletas. Nesse momento, vamos identificando os locais e decidindo internamente quais são as melhores alternativas por questões logísticas e de custo", explica Bichara.

Se o tempo será reduzido, a volta das Olimpíadas à Europa oferece algumas vantagens na preparação. A adaptação ao fuso horário é mais tranquila do que no Japão. Muitas modalidades também estão acostumadas a competir no velho continente e possuem alguma estrutura por lá. O hipismo, por exemplo, já conta com montarias em bases europeias.

"Aparentemente, teremos uma dinâmica mais tranquila do que no Japão, já que muitas confederações já têm suas estruturas tradicionais da Europa. Gostamos muito de Espanha e Portugal pela proximidade de cultura e idioma que facilita para os atletas. Vamos buscar o melhor para dar todo o suporte aos nossos atletas", afirma Bichara.

Tóquio-2020 exigiu uma reprogramação de treinamentos e competições após o adiamento em um ano do início do evento por causa da pandemia do novo coronavírus. O esporte ficou paralisado por meses e muitos torneios pré-olímpicos só aconteceram semanas antes dos Jogos.

Por causa disso, houve atletas que conquistaram vagas às vésperas das Olimpíadas. Foi o caso de Rebeca Andrade, que se classificou no Pan-Americano de ginástica artística, no Rio, em junho. Um mês depois, ganhou ouro no salto e prata no individual geral.

Já Luisa Stefani e Laura Pigossi só garantiram lugar às vésperas da competição graças à desistência de outras tenistas. Em Tóquio, ganharam o bronze no torneio de duplas.
O basquete, por sua vez, tentou classificação no Pré-Olímpico de Split, na Croácia, finalizado em julho. O sonho olímpico da seleção masculina não se concretizou após derrota para a Alemanha na final do torneio. Apenas uma vaga estava em disputa.

Problema semelhante deve ocorrer com Paris-2024, o que demanda um planejamento rígido. O excesso de competições também preocupa.

Por causa da pandemia, houve adiamento de eventos importantes, que ficaram encavalados no calendário dos próximos anos. É o caso do atletismo, esporte-base das Olimpíadas, que
distribuiu no Japão 144 medalhas.

A modalidade faria o Mundial de Eugene, nos Estados Unidos, neste ano. Mas, por causa do adiamento das Olimpíadas, passou o evento para 2022. Com isso, pela primeira vez na história do Mundial de atletismo, haverá edições em dois anos consecutivos. Em 2023, Budapeste será sede da competição.

No mesmo ano, de 20 de outubro a 5 de novembro, haverá a disputa dos Jogos Pan-Americanos de Santiago, no Chile. É outra competição que costuma atrair muito interesse dos atletas, embora o nível técnico esteja bem abaixo do visto no Mundial.

"Temos de buscar soluções para potencializar o resultado dos nossos atletas. Também já temos mais domínio sobre o sistema de qualificação e uma grande oportunidade na mão, com renovação, para Paris. Agora é organizar o futuro, pensando no Mundial de 2022 e nas Olimpíadas de Paris", afirma Cláudio Castilho, diretor executivo da CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo).

Na modalidade, o Brasil conquistou, em Tóquio, dois bronzes, com Thiago Braz, no salto com vara, e Alison dos Santos, nos 400 m com barreiras, uma das provas mais fortes do atletismo em Tóquio.

Chegaram perto do pódio Darlan Romani, quarto colocado no arremesso do peso, e Érica Sena, que vinha em terceiro lugar na marcha atlética de 20 km, quando tomou punição de dois minutos e acabou ficando na 11ª posição. Como comparação, no Rio-2016, o país havia conquistado apenas uma medalha, mas de maior valor: o ouro de Thiago Braz no salto com vara.

Os esportes aquáticos também terão um calendário cheio por causa do adiamento das Olimpíadas de 2020 para 2021. O Mundial, com disputas de natação, maratona aquática, saltos ornamentais, nado artístico e polo aquático, seria disputado neste ano, em Fukuoka, no Japão. Por causa dos Jogos Olímpicos, foi postergado para 2022. No ano seguinte, também de maneira inédita, já haverá outra edição do evento, marcada para Doha, no Qatar.

Nas modalidades na água, o Brasil conseguiu, em Tóquio-2020, o ouro inédito na maratona aquática com Ana Marcela Cunha e dois bronzes na natação, com Bruno Fratus (50 m livre) e Fernando Scheffer (200 m livre). No Rio, há cinco anos, a delegação passou em branco nas piscinas e só obteve o bronze de Poliana Okimoto na maratona aquática.