Delegados Marcus Neves (16ª DP) e Márcia Julião (42ª DP) dão suas opiniões sobre o assunto

O Rio, exaltado por suas belezas naturais, pela hospitalidade de seu povo, sofre pela violência urbana. Assaltos, roubos e furtos são assuntos comuns no dia a dia do carioca. Principalmente porque atualmente eles acontecem nas ruas e avenidas da cidade. E dentro desta estatística existe um item que, cada vez mais, vem atraindo os assaltantes: os celulares.

Mês a mês, mais de mil aparelhos telefônicos, em especial os smatphones, são roubados.  Dados esses retirados do Instituto de Segurança Pública (ISP). Avaliado como “roubo de rua”, esse ato pode muito bem representar uma nova aba na estatística, pois, depois da entrada do Iphones no mundo comercial, a marca Apple é a mais visada pelos meliantes, assim como o roléx é para os relógios.

Desde o início da série história, iniciada no ano 2000, para averiguar esse tipo de crime, mais de 170 mil celulares foram roubados no Estado. Em 2016, neste mesmo período, 1.805 aparelhos foram furtados, um aumento de 51% em relação ao mesmo período no ano anterior. Neste ano foram registradas 13.502 ocorrências em todo o Estado do Rio de Janeiro, no primeiro semestre.

Segundo os dados da Polícia Civil, a quantidade de roubos de rua, categoria da qual celular está incluso, na região aumentou em 10% de 2016 para 2017. Por isso, esse é um tema que merece destaque e compreensão na mídia, como relata Márcia Julião, delegada da 42ª DP, do Recreio.

- Você pode dizer que o número de roubos de celulares vem crescendo, apesar de não ser um dos líderes da cidade. Roubo de rua, que engloba o roubo de celular, é algo que a gente discute bastante. Eu, Marcus Neves (delegado da 16ª DP) e o Coronel Schalioni (comandante do 31º BPM) nos preocupamos e nos debruçamos sobre esse tema. Tira o nosso sono sempre. Quem trabalha com segurança se inquieta com alguém perdendo a vida por causa de um celular. Temos que ter estratégia, mapear os pontos em que isso mais acontece e policiar melhor – disse Márcia, ressaltando que a polícia civil já está se arquitetando para diminuir isso:

 - A Polícia Civil fez um convênio com as operadoras e, quando alguém é roubado, eu bloqueio o celular dessa pessoa e ninguém mais vai poder instalar outra linha nesse celular. Se não tiver receptador, não tem ladrão. Se eu conseguir bloquear os telefones roubados, não adianta você roubar, não vai poder instalar nada neles. Eu bloqueio o IP da maquina, não bloqueio a linha, bloqueio o aparelho. E isso a Polícia Civil tem com todas as operadoras. Até na hora de despachar os procedimentos, a gente tem um item de aprovar ou não aprovar o bloqueio. Em alguns casos não interessa para a gente bloquear, porque o celular pode servir como fonte de investigação, mas em outros, em que a investigação já começa muito atrasada, ai a gente bloqueia.

A delegada, no entanto, tem uma linha de raciocínio bem crítica ao assunto. Para ela, quem compra celular roubado é tão bandido quanto quem pratica o crime.

- A verdade é que só existe o ladrão porque existe o receptor. Ninguém rouba dez celulares para usar. O ladrão não vai ficar com dez celulares para ele, ele rouba para vender. E quem compra é tão bandido quanto o ladrão. Muitas vezes o cara que compra um celular roubado não sabe que a vítima daquele celular foi morta, assassinada por causa dos bens que foram subtraídos. Ele está alimentando a violência. . A banalização da vida passa por essas coisas, por esses bens materiais de pouco poder. Às vezes a pessoa perde a vida por causa de um celular, e tem alguém que compre esse celular. Esse cara que comprou o celular não é tão bandido quanto o que roubou? Para mim, é – afirma Márcia.

Marcus Neves, delegado da 16ª DP, compartilha da mesma opinião de Márcia, sobre pessoas que querem levar vantagem comprando mercadorias roubadas.

- Elas praticam um crime. Qualquer atividade que envolva receptação de produtos de crime estimula os crimes contra o patrimônio. Isso vale para celular, carro roubado que vai parar em ferro velho para revender peças – diz Marcus.

Ainda de acordo com o delegado, os assaltantes costumam praticar este tipo de roubo com armas curtas e revolveres. Outros, porém, usam as chamadas armas brancas, que são canivetes e estiletes. As principais vítimas, segundo Marcus, são mulheres, menores de idade e idosos. Ou seja, pessoas que não vão oferecer reação.

Para reverter este quadro, Marcus Neves entende que a integração entre aa Polícias Civil e Militar de diferentes regiões é fundamental. Principalmente pelo fato de que muitos criminosos que assaltam na Barra da Tijuca saem de outras áreas da cidade.

- Eu mantenho contato permanente com o comandante do 31º batalhão, que é o coronel Schalioni e com o coronel Sena (subcomandante do 31º BPM) e a gente tem feito um planejamento para o aumento do policiamento preventivo, que é atribuição da Policia Militar, e qualificado a nossa investigação voltada para este tipo de crime. A gente sabe que uma grande parte de criminosos que atuam na Barra da Tijuca vem de duas regiões: da Cidade de Deus e da Rocinha, que são circunscrições que não estão no limite da 16ª DP, então, além de manter contato com o 31º Batalhão, eu tenho mantido contato com os delegados de Jacarepaguá e com o delegado que cobre a Rocinha – afirma Marcus, que já colhe os frutos dessa aliança com a identificação de alguns criminosos.

Para que o quadro mude, o delegado ressalta o quanto é importante que as vítimas façam o registro de ocorrência.

- É muito importante. Muitas pessoas quando tem um bem de menor valor subtraído, às vezes quando é um cordão de bijuteria ou um relógio de pouco valor, evitam procurar um órgão de polícia porque dá trabalho, perde-se tempo... Mas a orientação é que comunique imediatamente o fato a Policia Civil. Esses dados serão repassados para a PM, e através do que chamam de “mancha criminal”, o policiamento será melhor distribuído – explica.

Outro ponto importante levantado pelo delegado é para que as pessoas evitem o uso de muitas joias expostas, principalmente em locais mais movimentados. Além disso, ele pede para que as vítimas jamais reajam a qualquer tipo de abordagem quando os assaltantes estivem com algum tipo de arma.