O TCU (Tribunal de Contas da União), por exemplo, já colocou em operação desde o mês passado um plano de acompanhamento das ações de combate à pandemia em âmbito federal

Por José Marques/ Folhapress

A flexibilização nas contratações públicas durante a pandemia do novo coronavírus acendeu o alerta de órgãos de controles e entidades de combate à corrupção e tem levado estados e municípios a serem cobrados por mais transparência. Alguns casos já chegaram à Justiça.

Em crises como essa, apontam esses órgãos e entidades, os riscos de desvios de dinheiro, favorecimento de empresas e mudanças legislativas que afrouxem o controle sobre a destinação do dinheiro público aumentam exponencialmente.

O TCU (Tribunal de Contas da União), por exemplo, já colocou em operação desde o mês passado um plano de acompanhamento das ações de combate à pandemia em âmbito federal.

Um dos primeiros governos a parar na Justiça foi o de Ibaneis Rocha (MDB), no Distrito Federal, após uma ação do Ministério Público que pedia a divulgação na internet, em tempo real e numa página específica, de todas as contratações emergenciais para combater a Covid-19.

O governo federal já tem feito isso, em conformidade com uma lei de fevereiro que estabeleceu medidas contra a pandemia.

"Temos o direito de saber de forma imediata e clara de que forma os recursos públicos estão sendo aplicados", diz o procurador distrital José Eduardo Sabo, que lidera força-tarefa local de combate à pandemia.

No mês passado, a Justiça determinou que o Governo do Distrito Federal cumprisse o pedido da Promotoria. A gestão Ibaneis acatou o pedido, sem recorrer, e criou um portal com as informações sobre os gastos com a pandemia.

No Tocantins, o Ministério Público do estado ingressou com ações civis públicas tanto contra o governo Mauro Carlesse (DEM) como contra a Prefeitura de Palmas, também cobrando transparência nas contratações.

"Cumpre observar que a transparência ativa e passiva se revela como uma das mais eficazes formas de prevenção à corrupção e aos ilícitos administrativos", diz ação civil pública assinada pelos promotores Edson Azambuja e Thais Massilon Bezerra.

No último dia 1º, o Governo do Tocantins passou a publicar todos os gastos emergenciais em seu Portal da Transparência. A reportagem não conseguiu contatar a Prefeitura de Palmas.

Em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, a Promotoria instaurou processo administrativo e pediu cópias de contratações sem licitação por causa da pandemia, com a justificativa para cada escolha de fornecedor e a justificativa de preço.

A prefeitura informou que todas as suas licitações seguem a legislação vigente e que as dispensas de concorrências estão sendo publicadas no Portal da Transparência da cidade. "Portanto, não há descumprimento da legislação, de qualquer natureza", diz a prefeitura, em nota.

"Eventualmente, em razão do quadro reduzido de servidores públicos pelo alto grau de afastamentos decorrentes do coronavírus, pode haver um atraso na disponibilização dos respectivos processos no sistema, o que já está sendo regularizado através do sistema de revezamento entre os servidores."