"Vou libertar a cidade desse cárcere social e deixá-la mais justa e unida"

Há mais de 30 anos na Polícia Civil, a delegada Adriana Belém quer melhorar o Rio de uma outra forma. Depois de lutar pela segurança da cidade nas ruas e delegacias, ela parte para um novo desafio: lutar pela segurança no Legislativo. A primeira delegada a comandar a 16ª DP, na Barra, Adriana passou por outros 20 distritos - alguns até na Baixada Fluminense -, além da Delegacia da Mulher e de Proteção ao Meio Ambiente. Nesta entrevista ao JORNAL DA BARRA, ela detalha seus projetos como vereadora. 

JDB: Quem é a Adriana Belém?

AB: A minha história está intrinsecamente ligada ao povo. Venho de família muito pobre, nascida e criada no Largo do Tanque, em Jacarepaguá. Nasci num casebre de madeira bem simples, com telhas de zinco, na Caicó, de frente para o morro da Covanca. Era um quintal, onde moravam meus pais, minha irmã, minha avó e meus tios. As condições de vida eram bem precárias! Desde menina, eu enxerguei nos estudos o caminho para trilhar uma vida digna e honesta e não ser mais uma vítima da violência e desprezo dos que nascem pobres nessa cidade. Com muita luta fiz o primeiro grau na Escola Municipal Gal João Mendonça Lima e o antigo segundo grau no Colégio Estadual Carmela Dutra, em Madureira. Fiz faculdade com recursos do Crédito Educativo. Prestei meu primeiro concurso e mais perigoso da Polícia Civil, o de carcereira. Foram sete anos enfrentando motins, rebeliões, fugas, até conseguir me formar em direito, prestar concurso para delegada e passar em primeiro lugar. Uma mulher, negra, pobre, sofrendo todo tipo de preconceito, maledicência. Desacreditada por muitos. Divorciada, criei meu filho Gabriel sozinha desde que nasceu. Com toda essa carga de vida, eu não podia titubear diante dos desafios, e bota desafios que essa cidade enfrenta até os dias de hoje. Como diz a música do Paulinho da Viola "...foi um rio que passou na minha vida..." . E assim fui construindo a minha história. Considero-me mulher valente, resiliente, justa, contra todo tipo de preconceito e apaixonada pela vida!

JDB: A última delegacia ao qual você ficou à frente foi a da Barra da Tijuca, região da Zona Oeste do Rio. Como foi a sua passagem por lá?

AB: Foi muito bom, na minha posse, a região da Barrinha parou e engarrafou de tanta gente que veio participar. Havia cones dentro da delegacia, indicando onde poderíamos pisar (risos). Meses depois, a delegacia estava reformada com a ajuda do Conselho Comunitário, do nosso Jecrim, através do promotor de Justiça Márcio Almeida, e de todos os demais segmentos da nossa sociedade civil, cidadãos atuantes na região, Comlurb, demais órgãos, vocês do próprios do Jornal. Sempre me doei muito. Chegou um tempo em que mudou a administração e as pessoas fizeram “abaixo assinado” para eu não sair, assim como houve no Recreio, onde estive por duas vezes. Acharam que eu sairia. Mas logo veio a resposta que não sairia .. Gostei demais de trabalhar aqui apesar de por vezes ter ficado esgotada (rsrs ) por morar aqui há anos, ter vida social, conhecer muita gente... Não havia sábado, domingo e nem feriado.. Qualquer problema: “Liga para a Adriana Belém”. Mas sempre gostei disso.

JDB: Não te incomodou em nenhum momento esse fácil acesso das pessoas com você?

AB: E nunca deixei ninguém sem acolhimento. Eu gosto desse contato com o povo, por isso sempre adorei trabalhar em delegacia distrital (de bairro), onde você pode atender ao público. Até hoje, continuo em contato com muitos amigos aqui das associações, almoço com eles, falo sempre.. amigos que fiz no decorrer da minha permanência, amigos com quem falo diariamente.

JDB: Como foi seu período na Delegacia da Barra?

AB: Foi tão intenso que as pessoas não acreditam que fiquei por menos de dois anos. Foram tantas as ocorrências que geraram repercussões até internacionais e necessidade de respostas rápidas que às vezes eu vinha em casa, mudava a roupa e voltava para continuar as investigações. Quando dava tempo de voltar, é claro. Foi o caso do Dr. Bumbum, desabamento na Muzema, prisão de quadrilhas de ladrões de residências, de restaurantes e de shoppings, tentativa de feminicídio que chocou a cidade, falsas comunicações de crimes, flagrante até de sequestro relâmpago que consegui dar na Avenida Lúcio Costa durante uma blitz – eu adorava participar de blitz - , além de várias outras prisões que geraram ampla divulgação. Foi assim que pudemos dar respostas a quem é de nossa circunscrição. Quanto ao aspecto físico, reformei toda a delegacia com o apoio da sociedade civil organizada. Pude dar condições para meus funcionários trabalharem de uma forma mais digna e de receber os moradores da região.

JDB: Agora você está em uma nova fase, de onde veio a Ideia de entrar para a política?

AB: Eu nunca pensei em ser política, não por que eu não goste, até mesmo por que já dizia Aristóteles: "O homem é um animal político. Tem primeiro na família sua socialização e garantia da manutenção da vida e está em sua natureza viver em sociedade. E nela se realiza plenamente, encontrando no fiel cumprimento das leis, a justiça, dado que só podemos ser felizes no exercício da justa medida, ou seja, sendo prudentes e encontrando o meio termo em nossas ações.". A atuação de velhas práticas políticas sempre me incomodou. Acredito que pessoas bem intencionadas, honestas, que acreditam numa política com ideias e princípios, ficam receosas de entrar nesse meio. Eu sempre me inspirei na minha história de luta e superação. Desde menina vivendo de perto as mazelas sociais da vida. A minha vida toda foi executando a lei, prendendo, reprimindo o crime. No contraponto disso está o acesso à educação. Fomentar políticas públicas que incentivem o jovem a seguir um rumo justo, honesto e com esperança foi um dos pilares que motivou a fazer parte desse processo de transformação da cidade.

JDB: O que você acredita que possa fazer de bom para a cidade?

AB: Numa outra esfera do poder público, mais abrangente, poderei fazer muito mais do que sempre fiz porque transcende a Segurança Pública, apesar de estar também no meu foco com a efetiva integração das polícias com a Guarda Municipal. Poderei atender a um número maior de pessoas. Como delegada sempre fui muito atuante no cotidiano da comunidade da Barra, Recreio, Vargem Grande, Vargem Pequena e Jacarepaguá, assim como em todos os bairros em que atuei, do subúrbio à Baixada, sem exceção. O meu telefone sempre esteve à disposição. Quando acontece algum problema, sobretudo relacionado à violência, etc., as pessoas não ligam para o 190, ligam para a Adriana Belém (risos). O meu estilo de trabalhar sempre foi esse, colocando a polícia nas ruas, participando das operações. Nunca fiquei sentada esperando os problemas. Como candidata a vereadora posso afirmar que estarei imbuída em solucionar as demandas que a comunidade precisar, seja um buraco que comprometa a locomoção das pessoas, uma rua mal iluminada que facilita a criminalidade, um projeto social que contribua para o desenvolvimento do cidadão, a dedicação em participar de políticas públicas para resgate de menores para, ao invés de apreender adiante, transformá-los em homens dignos, problemas afetos à acessibilidade de deficientes físicos, a efetiva fiscalização do Executivo Municipal nos gastos públicos. E ter um canal de comunicação estreito com associação de moradores, representantes dos bairros, acredito nisso!

JDB: O que podemos esperar da Adriana Belém dentro da política?

AB: Como eu sempre digo: me desafiou, eu dobro a aposta! Cheguei aonde cheguei enfrentando muitos preconceitos, sempre dei a cara a tapa. Nos meus 30 anos dentro da polícia, tenho um histórico irrefutável, construído em sólidos valores éticos, morais e de vida, sem nenhum desvio de intenção. Na política, irão ver essa mulher empoderada, enfrentando todos os desafios, lutando por uma cidade justa, unida. Brigando por uma saúde adequada, uma educação que possa formar cidadãos plenos, respeitando suas liberdades individuais indiscriminadamente. Eu vim do povo, e tenho essa empatia comigo! Libertar nossa gente desse cárcere social!

JDB: Para que cargo você quer se candidatar e por quê?

AB: Estou chancelando minha pré-candidatura à vereança municipal do Rio de Janeiro. A nossa cidade está sendo tão castigada, a saúde na lona, a violência demasiadamente alta, falta de acessibilidade aos deficientes, o transporte público sobrevivendo a duras penas, muitas crianças ainda sem condições adequadas de estudo. Eu já fiz muito ao longo desses trinta anos na máquina pública, mas o escopo é limitado. Quero ajudar a transformar as políticas públicas do nosso município. O papel crucial do cereador é fiscalizar essa seara. Ouvir de perto os anseios da população, fazer chegar com eficiência: Saúde, Educação e Segurança! Um exemplo próprio: meu pai faleceu tem três anos, num hospital público sem recursos, os médicos fazendo malabarismo. Fui visitá-lo e o encontrei num saco preto. A vida humana reduzida ao descaso. Anos antes, perdi minha mãe aos 44 anos, em decorrência do alcoolismo, desassistida. Esses fatos marcam a nossa história e daí esse anseio de fazer muito mais do que já fiz.