Congresso da União Internacional de Arquitetos coloca o Rio no centro das discussões globais sobre urbanismo

Por: Affonso Nunes*

Obra-prima quando o assunto é natureza, a cidade mais bonita do mundo tem mais um motivo para se orgulhar. Em 2020, o Rio de Janeiro será oficialmente a capital mundial da arquitetura. Por decisão da Unesco, a partir de agora, as cidades que sediarem o Congresso Mundial da União Internacional dos Arquitetos, realizado a cada três anos, serão também designadas pelo organismo internacional como capitais da arquitetura.

Mas o título não é apenas honorífico: as cidades tornam-se responsáveis pela organização de eventos relacionados às questões urbanas ao longo de todo o ano. Por isso, em julho, será realizado o Congresso Mundial da Arquitetura, que terá como tema “All the worlds. Just one world” (“Todos os mundos. Apenas um mundo”, em tradução livre).

Para o presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Nivaldo de Andrade, a escolha da cidade para sediar um evento dessa relevância é natural pelo fato do Rio ser referência da arquitetura – é a terra de arquitetos e paisagistas mundialmente conhecidos, como Oscar Niemeyer, Roberto Burle Marx e Lucio Costa.

- São nomes que ajudaram a construir a paisagem urbana do Rio - comenta.

A cidade também é reconhecida por abrigar dois sítios do Patrimônio Mundial Cultural: “Rio de Janeiro, paisagens cariocas entre a montanha e o mar” e “Sítio Arqueológico Cais do Valongo”.

Referência

Andrade observa que a cidade é referência de desafios contemporâneos para os arquitetos e de experiências positivas no campo do urbanismo, a exemplo dos programas de urbanização de comunidades.
- O Rio sintetiza características encontradas em cidades não só do Brasil, mas de diversos países.

A Prefeitura vê a condição de capital mundial da arquitetura como um marco na história da cidade.

- Além da visibilidade internacional, teremos a oportunidade de ampliar a relação de pertencimento dos moradores da nossa cidade com o seu patrimônio histórico e arquitetônico, difundindo e preservando esse acervo. A arquitetura do Rio reflete a riqueza de culturas que formam a sociedade brasileira, por ter sido porto e capital do Brasil por mais de dois séculos – lembra o prefeito Marcelo Crivella.

Mas os desafios são grandes. Do tamanho das contradições da cidade. Espremido entre a montanha e o mar, o Rio de Janeiro forjou-se como uma metrópole derrubando morros, avançando sobre aterros, abrindo grandes avenidas no coração da velha cidade e erguendo colossos arquitetônicos como o Theatro Municipal, a Biblioteca Nacional, o Maracanã, o Sambódromo e o Museu do Amanhã. Sua arquitetura rica e complexa atravessa importantes períodos estilísticos, mas a pólis ainda tem um dever de casa por fazer: oferecer espaços inclusivos, racionalizar o uso do solo, ser sustentável e promover políticas públicas justas nas áreas de habitação e mobilidade.

No campo das políticas globais, eventos como o Congresso da UIA reforçam a necessidade de cumprimento de duas importantes agendas de desenvolvimento das Nações Unidas: a principal delas, a Agenda 2030, sobretudo em seu Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, que tem como foco as cidades e os assentamentos humanos.

Há também a Nova Agenda Urbana, documento firmado durante a realização da Habitat III, em Quito (Equador), em 2016. “Até 2050 espera-se que a população urbana quase duplique fazendo da urbanização uma das mais transformadoras tendências do Século XXI. À medida que a população, as atividades económicas, as interações sociais e culturais, assim como os impactos ambientais e humanitários estão cada vez mais concentrados nas cidades, constituem-se desafios de sustentabilidade massivos em termos de habitação, infraestrutura, serviços básicos, segurança alimentar, saúde, educação, empregos decentes, segurança, e recursos naturais, entre outros”, destaca o texto oficial.

Desafios

A diretora da Unesco no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, ressalta que “a cultura e a arquitetura são fundamentais para a superação de desafios e soluções inovadoras para os espaços urbanos em áreas como cultura, planejamento urbano, mobilidade, obras públicas que tornem as cidades mais inclusivas para suas populações”.

O Comitê Executivo do Congresso Mundial da UIA, que chega à 27ª edição, é presidido pelo arquiteto Sérgio Magalhães.

- Arquitetos e urbanistas, acadêmicos, estudiosos e produtores de cultura de todo o mundo estarão reunidos no Rio em 2020 para chamar a atenção da sociedade e dos governos sobre questões urbanas de interesse global a fim de construir uma agenda positiva para os próximos anos. Conhecendo o valor e os desafios do espaço urbano, podemos alcançar respostas e soluções capazes de conduzir a um futuro mais justo - acredita.

*reportagem publicada na edição especial de fim de ano do CORREIO DA MANHÃ