Profissionais, gestores e organizações precisam se adaptar ao sistema, que alterna home office e atividades presenciais

Redação 

Em março de 2020, quando a covid-19 chegou ao país, as empresas se viram obrigadas a acelerar a implantação de um modelo de trabalho que, até então, era somente tendência: o home office. Passado mais de um ano desde aquele período, com adaptações de todos os lados envolvidos na mudança e alteração da legislação trabalhista para se adequar ao momento, o mercado já tira suas conclusões. A principal delas é a de que, sim, o trabalho em ambiente domiciliar veio para ficar, mas não compreenderá a totalidade do tempo da equipe, o que manterá escritórios e sedes ainda ativos.

Segundo pesquisas recentes - após o período inicial que envolveu reformulações de rotinas e criação de soluções para as dificuldades de equilibrar tarefas do lar e do emprego -, tanto colaboradores quanto empresários depositam suas preferências no modelo híbrido, que alterna a rotina de trabalho entre a casa e o escritório. Na retomada de atividades por parte de determinados setores, com protocolos de segurança contra o contágio do coronavírus, algumas organizações inclusive já adotaram o sistema e estão se adaptando a ele. Aquelas que ainda não voltaram, por continuar conciliando todas as demandas pelo tele-trabalho, precisam começar a, ao menos, planejar esse retorno, sob pena de ficar para trás na adequação necessária.

Um estudo realizado pela Accenture, multinacional de consultoria de gestão, aponta que 83% dos trabalhadores indicam o modelo híbrido como ideal para se trabalhar, com carga horária remota variando de 25% a 75% do tempo contratual. O mesmo levantamento, que ouviu 9.326 pessoas de 11 países, aponta que 40% dos entrevistados acreditam que podem ser produtivos e saudáveis em qualquer lugar, seja em casa, no escritório, ou na combinação entre os dois.

“Cada vez mais, trabalharemos onde quisermos e precisarmos estar, trata-se de um movimento necessário para ambos os lados, que melhora processos de execução, proporciona uma dinâmica de trabalho agradável e gera uma conexão mais ágil entre pessoas, o que facilita a abertura de mercados e a formação de novas parcerias sem mais a limitação ao espaço físico”, explica Jeff Wendell Macedo, professor do Centro Universitário IBMR e coordenador do Núcleo de Práticas e Negócios da instituição.

O atual momento exige, também, que os contratantes atentem para as preferências dos seus colaboradores e dos candidatos a um lugar na estrutura organizacional da empresa.  Outra preocupação que veio à tona neste momento é com a saúde e o bem-estar dos funcionários fora do horário de serviço. “Esse novo momento está contribuindo para o surgimento de uma cultura de preocupação com saúde mental, bem-estar e qualidade de vida das pessoas, que precisam estar bem para produzir e trabalhar com motivação”, pontua o professor.

A nova rotina nas empresas é de aprendizado constante e modificações no papel das lideranças, com gestão clara e eficiente no dia a dia da equipe. “Com o grupo intercalado no ambiente físico, faz-se preciso cuidar para que o movimento de gerar ideias aconteça, com soluções de aproximação entre as pessoas, como uso de ferramentas e canais de comunicação que possibilitem a manutenção do contato, da troca, do espírito colaborativo e de feedbacks”, explica Macedo.  

Mais uma pesquisa recente, esta da KPMG, concluiu que 87% das organizações brasileiras irão combinar o trabalho remoto com o local. O levantamento aponta 2022 como o ano de retorno aos escritórios.

“Ainda temos uma visão de mercado bastante tradicional, na qual o espaço físico tem uma representação importante. A localização do escritório tem peso de imagem no mercado. Estamos em transformação, são necessidades que vão se diluir, mas permanecem, e esse é um dos fatores para a predileção pelo híbrido. Outro aspecto bem importante é que uma parcela significativa de profissionais competentes não se adaptou ao home office e não precisa ser excluída do mercado por conta disso. Além disso, valorizamos, culturalmente, o contato olho no olho e o relacionamento interpessoal com os colegas, o que contribui para a preferência", conclui.

Confira abaixo dicas para adaptar a empresa ao formato, que incluem aspectos legais e comportamentais.

 

10 dicas de preparação ao modelo híbrido

 

1 – Buscar respaldo jurídico e efetuar aditivos contratuais que incluam o trabalho remoto;

 

2 – Solucionar o controle de ponto (obrigatório para empresas com mais de 20 funcionários). Há sistemas e aplicativos que oferecem o serviço para registro fora da sede;

 

3 – Utilizar ferramentas de interatividade para estabelecer métodos de gestão de equipes;

 

4 – Criar mecanismos para zelar por proteção de dados e informações sigilosas que possam ser encontradas fora do ambiente da empresa (evitar o risco de que terceiros acompanhem a rotina de trabalho do colaborador);

 

5 – Realizar reuniões frequentemente, para alinhamento de pautas;

 

6 – Mudar práticas de RH. Líderes devem ser capacitados e treinados, cada vez mais, para gerir as pessoas e não os processos;

 

7 – Revisar antigos procedimentos para encaixar no novo modelo;

 

8 – Estabelecer estratégias para manutenção do vínculo com o colaborador, a fim de mantê-lo próximo e em conformidade com a política da empresa;

 

9 – Contemplar, ou aprimorar, programas de QVT (Qualidade de Vida no Trabalho);

 

10 – Investir no desenvolvimento de gestores e colaboradores focados no novo formato.