Moro foi contratado pela consultoria de gestão de empresas internacional Alvarez & Marsal, que administra o processo de recuperação judicial da Odebrecht

Por Igor Gielow

A ida do ex-ministro Sergio Moro à iniciativa privada foi recebida com surpresa por entusiastas de sua eventual candidatura à Presidência, vista agora como uma possibilidade mais remota por políticos com quem ele vinha conversando.

Moro foi contratado pela consultoria de gestão de empresas internacional Alvarez & Marsal, que administra o processo de recuperação judicial da Odebrecht. O anúncio foi feito nesta semana.

Empresa no centro das investigações da Operação Lava Jato, a construtora teve seu ex-presidente Marcelo Odebrecht preso e condenado por Moro, então juiz federal em Curitiba.

Para políticos ouvidos pela reportagem, tanto apoiadores seus quanto detratores, o ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro sinalizou com a escolha que não quer ser candidato.

O emprego é considerado um seguro milionário, ainda que valores sejam sigilosos.

Moro não avisou integrantes de siglas interessadas em filiá-lo, como o Podemos, de sua decisão.

Um líder do DEM, partido que não via com bons olhos as conversas entre Moro, o apresentador Luciano Huck e o governador João Doria (PSDB) mirando 2022, diz que a margem de manobra do ex-ministro se reduziu.

Para ele, a associação com uma empresa com ligação com a Odebrecht, por mais que não haja conflito de interesses no trabalho de ajudar com o compliance de clientes, dilapida a imagem de justiceiro da Lava Jato de Moro, talvez seu único patrimônio político.

Além disso, há o fato de que Moro viu sua estatura se reduzir após a estrondosa crise de sua demissão do governo.

Naquele momento, em abril, líderes de partidos de centro-direita e mesmo na esquerda, onde Moro é tão odiado quanto, viam nas acusações do ex-ministro a chave para um eventual impeachment de Bolsonaro.

Só que o inquérito acerca da influência, acusada pelo ex-ministro, do presidente na Polícia Federal se arrastou e perdeu gás político. E, após ver a crise institucional chegar a um paroxismo em junho, Bolsonaro acomodou-se com o centrão.