Alerta é importante para manter cobertura vacinal e evitar circulação da doença
A maior epidemia de meningite da história do país ocorreu na cidade de São Paulo nos anos 70. A omissão das autoridades auxiliou o terreno para o avanço da doença, que atingiu todos os bairros e chegou a registrar a média de 1,15 óbitos por dia em 1975, em plena ditadura militar no Brasil. A cobertura vacinal no Brasil é de 92% até o ano de 2021, o que é considerado bastante adequado. No entanto, Rodrigo Benevenuto Cantalejo, médico infectologista da Unigranrio, afirma que pesquisas mostram que houve atraso de até 50% na aplicação das vacinas durante a pandemia de COVID-19 na procura dos pais pela imunização de seus filhos. E, com isso, retardo na atualização do calendário vacinal, que vem preocupando as autoridades sanitárias.
A meningite é uma inflamação dos fluídos e da membrana que envolve o cérebro e a medula espinhal. Pode ser causada por infecções advindas de bactérias, vírus, fungos ou parasitas, além de doenças não infecciosas como câncer e lúpus, por exemplo. A doença pode acometer pessoas de qualquer idade, mas crianças, em especial as menores, são as que estão sob maior risco. E o mais importante: se não for devidamente identificada e tratada, pode levar à óbito.
Os médicos explicam que a prevenção e tratamento da doença depende da causa. A maioria dos agentes causadores é transmitido pelo contato pessoal com pessoas acometidas por estes germes. A transmissão se dá pelo contato com gotículas de saliva ou secreções corporais. Ou seja, a boa higiene das mãos e evitar o contato com pessoas sabidamente doentes é extremamente recomendado por especialistas.
– No caso das meningites causadas por vírus, não existe tratamento específico, na grande maioria dos casos. Mas a evolução é benigna. No caso das meningites causadas por bactérias, usamos antibióticos potentes para erradicar a infecção, além de glicocorticóides (dexametasona) – destacou Rodrigo Cantalejo.
Todavia, existe uma forma mais eficaz, simples e segura de prevenção da doença: as vacinas. Antes da introdução da vacina tríplice viral (para Rubéola, Sarampo e Caxumba), sarampo e caxumba estavam entre as principais causas de meningite e encefalite viral. Daniel Schachter, neurologista da Unigranrio, explica que encefalite é a infecção do cérebro, sem acometer tanto as meninges.
– Recentemente, com a queda da adesão às vacinas, temos visto um aumento grande de casos de caxumba e sarampo, com consequente aumento de casos de meningites e encefalites por estes vírus, infelizmente causando até algumas mortes, que seriam evitáveis, se a adesão às vacinas fosse maior – alertou o médico.
Dados do Boletim Epidemiológico divulgado em janeiro de 2022 pelo Ministério da Saúde mostram mais de 40 mil casos e 40 mortes causadas pelo sarampo desde 2018 – sendo mais da metade em crianças menores de 5 anos. Este ano, até março, o Ministério da Saúde confirmou 14 infectados, sendo 12 no Amapá e dois em São Paulo, além de 98 casos suspeitos da doença no período. A queda da cobertura vacinal contra o sarampo, e outras doenças, provoca o aumento no número de pessoas suscetíveis e, consequentemente, ao reaparecimento da doença. Campanhas e especialistas reforçam que a cobertura vacinal da tríplice viral é administrada em duas doses.
Existem também vacinas contra as bactérias e que podem prevenir as meningites. São elas:
- A vacina para Haemofilus Influenzae do tipo B é aplicada junto com as vacinas para difteria, tétano e coqueluche e hepatite B, chamada de Pentavalente.
- A Vacina pneumocócica 10-valente (conjugada) protege contra as doenças mais graves provocadas pelo pneumococo, incluindo meningite.
- A vacina meningocócica C (conjugada) protege contra a doença meningocócica causada pelo meningococo do sorotipo C que é o mais comum e prevalente no Brasil. Esta é fornecida pelo SUS. Existem, no entanto, vários outros subtipos de meningococo, como os sorotipos A, B, C, W e Y e vacinas para estes outros subtipos está disponível na rede privada.
- A vacina BCG, tomada ao nascer por todos os brasileiros, protege justamente da meningite tuberculosa, uma das formas mais graves da tuberculose.
Os Sintomas diante de quadros de meningite se apresentam com:
• febre,
• cefaleia (dor de cabeça),
• vômitos,
• desidratação e
• fotofobia (sensibilidade à luz)
• Nos casos mais graves, pode ocorrer sonolência,
• crises convulsivas (convulsões),
• podendo levar o paciente ao coma.
– Às vezes o quadro clínico inicial se assemelha a uma gripe comum, mas em poucos dias pode haver a progressão para os sintomas clássicos. É importante lembrar sempre que meningites são graves e tendem a evoluir bem rápido, às vezes em poucas horas! Então é importante ter atenção redobrada quando surgir a combinação de febre, dor de cabeça e confusão mental ou sonolência – comentou Daniel.
O especialista lembra que quanto mais cedo o tratamento for iniciado, melhor será a chance de o paciente ter uma boa recuperação. E destaca que casos mais graves de meningite podem ter um índice alto de mortalidade: 30%, ou seja, mais de 3 em cada 10 não sobrevivem, mesmo com tratamento.
– A atual campanha de vacinação para sarampo é por causa de uma redução da aderência às vacinas, em parte por essas campanhas antivacinas malucas que rolam nas redes sociais. A aplicação dos imunizantes é quase sempre por injeção intramuscular. Não podemos deixar de alertar a população sobre a importância da vacinação. O calendário está no site do Ministério da Saúde e as vacinas estão disponíveis no SUS – indicou o neurologista.