A doença impacta uma em cada oito mulheres ao longo da vida e se move de forma silenciosa, mas perceptível a partir de cuidados com a saúde e exames periódicos
Por: Déborah Gama e Mariana Aguiar
Mãe, esposa, filha, psicóloga, advogada, executiva do mercado financeiro e uma mulher de fé inabalável. Aos 53 anos, Jade Martins foi diagnosticada com câncer de mama e, desde então, encara uma nova realidade da vida que sempre conheceu. Na luta pela própria saúde e bem-estar, a esperança, o autocuidado e as boas relações interpessoais são a base para o tratamento contra a doença que afeta uma em cada oito mulheres ao longo da vida, de acordo com a Sociedade Americana de Câncer.
O que é o câncer de mama?
O câncer de mama é resultado de um tumor maligno que se prolifera inicialmente na mama, sendo apresentado principalmente em mulheres. A doença é uma multiplicação desordenada de células anormais, que podem formar um tumor na região da mama. E, segundo o Ministério da Saúde, este é o tipo de câncer que mais causa a morte de mulheres no país.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer nas mamas é o tipo mais comum entre mulheres no Brasil e no mundo, mesmo que também possa ser apresentado em homens (sendo raro e somando 1% do total de casos do câncer de mama segundo o Observatório de Saúde Pública). A doença mamária pode ser vista de diversas formas no corpo humano, principalmente por meio do surgimento de nódulos, alterações na pele da mama (muitas vezes ficando com o aspecto de “casca de laranja”) e secreções no mamilo.
A causa da doença está relacionada principalmente com a biologia celular, mas também pode ser agravada a partir de condições endócrinas, comportamentais e/ou hereditárias. O tratamento para o câncer de mama varia, de acordo com o estágio da doença, o tipo de tumor e características específicas de cada paciente.
O diagnóstico não é uma sentença
Muita coisa pode mudar na vida de uma mulher a partir do diagnóstico de câncer de mama. O processo pode ser definido como desafiador, amedrontador, solitário e tantos outros adjetivos, mas também pode ser ressignificado para uma jornada de autodescoberta e amor próprio.


Mesmo em meio ao diagnóstico e à diversas outras dificuldades de saúde, Jade acredita que exercer a gratidão é essencial e, junto com a escolha constante de não se isolar na própria dor, torna o tratamento emocionalmente mais leve. (Foto: Mariana Aguiar)
Jade relata que, embora já desconfiasse que os nódulos eram malignos, sentiu o peso da notícia em fevereiro de 2024 e reagiu de forma intensa, se isolando por algumas horas para processar melhor o que sentia. A psicóloga, entretanto, decidiu não se esconder atrás da dor porque, por ser uma pessoa comunicativa, entendeu que estar com pessoas e compartilhar o que estava passando era essencial no seu processo de cura. "Eu me acolhi, processei os meus sentimentos e escrevi uma mensagem para minha família e os meus amigos. Nela eu dizia que tinha entrado para a estatística, mas que aquele não era o fim, porque eu tinha um Deus que a vida inteira tinha cuidado dos meus medos e desafios. Aquele era apenas mais um que Ele cuidaria”, destacou a advogada, com olhos marejados.
A importância de uma boa rede de apoio
Além das dificuldades físicas em meio aos tratamentos oncológicos, a mente e o emocional também são afetados e necessitam de atenção em meio à luta contra o câncer de mama. Jade Martins passou por um processo extenso de exames e procedimentos, como a cirurgia de retirada dos linfonodos e radioterapia, quando percebeu a fraqueza no corpo e feridas nas unhas. Contudo, o quadro piorou quando a advogada teve um quadro de Herpes Zóster, que deixava a pele vermelha, com bolhas, extremamente sensível, vermelha e com sensação de queimação. “Até mesmo vestir a roupa me incomodava, porque a pele fica muito sensível. Então foi um processo de redescoberta de força, de quem eu sou, porque tive que achar forças de onde eu nem imaginava que tinha”, relatou a advogada.
Jade também destaca que a rede de apoio da família foi essencial, assim como a presença do marido, sogra, cunhada, prima e de amigos próximos, que a acompanhavam no dia a dia, ou mandando mensagens regularmente e fazendo parte do apoio emocional, mesmo que distantes. “O que acontece muitas vezes é que as pessoas se envergonham de perguntar sobre o tratamento, de falar sobre. Por isso, antes que as pessoas ficassem com vergonha de falar, eu já compartilhava nas redes sociais como estava o processo do tratamento, as medicações, para quebrar essa barreira”, destaca a psicóloga.
Tratar do câncer de mama como um tabu pode afetar diretamente a rede de apoio. O isolamento, a vergonha e o constrangimento não devem ser nutridos nesta relação – tanto por parte da paciente, quanto dos familiares e amigos ao redor. Desta forma, a doença é tratada com leveza e, a partir do amor, o processo se torna uma jornada nem tão solitária.
A importância de exames periódicos
Jade se reconhece como alguém ligada aos estudos e profundamente disciplinada, característica que ela credita à sua criação. Essa disciplina se estendeu à sua saúde de uma forma metódica e, hoje se prova, salvadora. “Eu sempre fui muito disciplinada. Eu tirava férias todo ano: 15 dias para passear e 15 dias eu tirava para cuidar da saúde”, conta.
Para ela, esse período não era negociável. Exames de sangue e check-ups faziam parte dessa rotina inegociável. A preocupação surgiu anos atrás, após ler artigos sobre a alta incidência do câncer de mama no público feminino. Mesmo sem histórico familiar, ela agiu de forma preventiva, chegando a fazer um seguro saúde em 2006, preparada para o que pudesse vir.
Segundo a Dra. Liliane Fagundes, ginecologista e dermatologista, “o câncer diagnosticado precocemente torna a chance de cura bem maior”. Essa afirmação implica na necessidade de exames periódicos de mamografia, para que se garanta o bem-estar físico das mulheres e, caso haja necessidade, o tratamento em fase inicial da doença.

A Dra. Liliane Fagundes responde ao mito de que desodorantes em aerosol possam causar câncer, apontando que não existem estudos que comprovam a hipótese. (Foto: Arquivo pessoal)
A recomendação do Ministério da Saúde é que mulheres entre 50 e 69 anos realizem a mamografia a cada dois anos e, em casos individuais, o exame pode ser solicitado em uma idade mais jovem ou com um intervalo menor.
Além da mamografia, a ida ao ginecologista anualmente também auxilia na detecção de uma possível doença, visto que durante a consulta o especialista examina a mama da paciente para a possibilidade de nódulos e avalia a necessidade de exames exploratórios.
Entre os sinais de alerta que podem indicar um câncer de mama estão: nódulo palpável na mama, pele avermelhada ou retraída sem respostas a tratamentos tópicos, alteração no mamilo, dor ou inchaço na mama e nódulos cervicais ou nas axilas.
Ainda segundo a ginecologista Liliane Fagundes, o autoexame também é de extrema importância para que ocorra um diagnóstico precoce. “Notando algo de diferente ao fazer o autoexame, vá até o seu médico que lá ele vai te examinar e verá a necessidade de um possível exame ou se está tudo normal”, recomenda a especialista.
Fatores de risco e possibilidades de tratamento
Como já estabelecido, quanto antes o diagnóstico acontecer maior a chance de um tratamento de sucesso, porém existem outros fatores que também implicam na aparição da doença. São eles: histórico familiar do paciente, no qual a hereditariedade corresponde entre 5% e 10% do desenvolvimento da doença; fatores comportamentais como obesidade, sedentarismo e exposição à radiação; além de questões hormonais relacionadas ao estímulo de estrogênio.
Ainda de acordo com o Observatório de Saúde Pública, a adoção de hábitos saudáveis para o controle dos riscos comportamentais é um exemplo de prevenção primária que pode reduzir a possível incidência do câncer de mama.
O tratamento para a doença varia de acordo com cada paciente e pode ser dividido entre diversas modalidades, entre elas: a quimioterapia, que utiliza de medicamentos por via oral ou intravenosa para destruir células cancerígenas ou interromper a capacidade delas de crescer e se dividirem; a cirurgia, que faz parte de uma tratamento inicial do câncer de mama dependendo do paciente e extensão do tumor; e a radioterapia que utiliza radiação ionizante para destruir ou diminuir o crescimento das células do tumor. Podendo também tratar com hormonioterapia (na qual o uso de medicamentos é utilizado para bloquear ou reduzir a produção de certos hormônios que estimulam o crescimento de alguns cânceres), e reconstrução mamária a depender do caso.
A campanha do Outubro Rosa e seus efeitos
Segundo a Dra. Liliane a Campanha do Outubro Rosa é de extrema importância para relembrar a população, principalmente mulheres, da necessidade de exames regulares para a prevenção do câncer de mama.
A psicóloga Jade Martins aponta para além do papel informativo da campanha, atuando também como uma ferramenta de dessensibilização. “Eu tive contato cedo com pacientes oncológicos e pude ter acesso a informações sobre a doença, então por mais que eu tivesse medo, eu conseguia enfrentá-lo porque já havia esse preparo mental”, finaliza.
Esse tipo de ação tem o poder de disseminar informações cruciais sobre a doença, criando uma luta conjunta contra o câncer de mama e que vai muito além dos procedimentos de prevenção, mas que também prepara a mente para a possibilidade de um enfrentamento.