Serão investidos R$300 milhões em obras como viadutos, rotatórias e prolongamentos de vias, enquanto projetos como o sistema aquaviário e a troca do sistema BRT por VLT são planejados de forma paralela
Por: Déborah Gama
Na Barra da Tijuca, as grandes avenidas lotadas de carros revelam um cenário conturbado para a mobilidade urbana. Segundo dados do IBGE, o bairro ocupa a 9ª posição entre os mais populosos do Rio e, em 25 anos, teve um crescimento de 64% no número de habitantes. Com grandes fluxos de veículos, novos empreendimentos, eventos e outros atrativos turísticos, o trânsito está prestes a receber um alívio significativo. No dia 7 de outubro, o novo plano de mobilidade para a Barra foi apresentado na Câmara Comunitária da Barra da Tijuca, com a presença de Delair Dumbrosck, presidente da entidade, o subprefeito Leandro Marques e o Presidente da Câmara dos Vereadores do Rio, Carlo Caiado (PSD).

A reunião sobre o Plano de Mobilidade da Barra da Tijuca apresentou soluções que prometem transformar o dia a dia de quem vive e transita pela região. (Foto: Reprodução/@camaradabarra)
R$ 300 milhões de investimento em mobilidade urbana na Barra
Regulamentada pela Prefeitura no fim de 2024, após aprovação na Câmara Municipal, a Operação Urbana Consorciada (OUC) de São Januário permitiu que o Clube de Regatas Vasco da Gama comercializasse o potencial construtivo não aproveitado dentro do complexo do estádio. Esse mecanismo permite que, em troca da adesão às obras do clube, haja a construção de novos prédios residenciais com gabarito acima do que hoje é autorizado pela legislação, principalmente no entorno da Avenida das Américas, na Barra, e em parte da Zona Norte do Rio.
Com novos prédios, mais moradores chegam à região e, para que a Barra consiga comportar o maior fluxo de pessoas, a Câmara Comunitária da Barra da Tijuca (CCBT), que representa síndicos dos maiores condomínios da região, acordou R$300 milhões em obras para a região. O edital já foi apresentado ao Tribunal de Contas e aprovado em setembro de 2024.

Delair Dumbrosck conta que o projeto será apresentado oficialmente em novembro e a previsão é que as obras comecem em fevereiro de 2026. (Foto: Mariana Aguiar)
“Concordamos que o potencial viesse para cá, mas com a condição de melhorias para a nossa comunidade. E conseguimos fechar um pacote de 300 milhões de obras de mobilidade para a Barra. É o nosso 'toma lá, dá cá'”, aponta Delair Dumbrosck.
Obras previstas devem começar em 2026
Em entrevista ao Jornal da Barra, Delair Dumbrosck revelou os detalhes das intervenções que prometem desafogar importantes corredores viários da Barra, como a Av. das Américas, Av. Ayrton Senna e Av. Salvador Allende. Alguns destaques são:
- Proposta variante para a Transcarioca, no Centro Metropolitano: Com um novo corredor de BRT que liga o Centro Metropolitano e Curicica, indo da estação Rede Sarah até a Arroio Pavuna, aproximadamente;

Projeto da proposta variante para a Trasncarioca. (Foto: Divulgação)
- Prolongamento da Av. Via Parque: A via que hoje termina no shopping de mesmo nome será estendida, com a construção de dois viadutos, desembocando próximo à entrada da Linha Amarela. A obra criará uma opção paralela à Avenida Ayrton Senna;
- Rotatória na Av. Ayrton Senna com Av. Lúcio Costa: Uma grande rotatória será implementada na Ayrton Senna, perto do Alfa Barra, resolvendo o complexo acesso à praia e facilitando o trânsito de quem vem do Recreio;

Projeto da rotatória entre Av. Ayrton Senna e Av. Lúcio Costa. (Foto: Divulgação)
- Liberação da Av. Prefeito Dulcídio Cardoso (Orla): A avenida será liberada, do Jardim Oceânico até próximo ao Golden Green, oferecendo uma opção paralela à Lúcio Costa em caso de engarrafamentos;
- Alça de viaduto na Av. das Américas com Av. Salvador Allende: Para facilitar o fluxo de veículos que vão para o Recreio, para que não precisem entrar na Salvador Allende para fazer a volta de retorno;

Projeto de alças de viaduto entre a Av. das Américas e Av. Salvador Allende. (Foto: Divulgação)
As obras aguardam a apresentação oficial do prefeito e a licitação do projeto, mas tem previsão de início em fevereiro de 2026. “Nós já temos negociado essas obras há um bom tempo”, reforça Delair.
Transporte aquaviário vai somar ao cenário de mobilidade urbana
Em um futuro próximo, os moradores da Zona Sudoeste poderão optar por mais uma forma de transporte público na região: as barcas. O prefeito Eduardo Paes apresentou, no início do mês de outubro, durante evento no píer da estação Jardim Oceânico, um projeto inédito de transporte público aquaviário que promete facilitar ainda mais a mobilidade na região. Batizado de Lagunar Marítima, o sistema prevê a criação de linhas de barco interligando as lagoas da Tijuca, Jacarepaguá, Marapendi e Camorim, em uma área de 12 milhões de metros quadrados.
O sistema de barcos contará com cinco terminais, seis estações, oito linhas e será integrado ao transporte municipal, adotando a mesma tarifa já cobrada em outros modais: atualmente em R$4,70. A expectativa é que o novo modal transporte 85 mil pessoas por dia, além de oferecer mais qualidade de vida, novas alternativas de deslocamento e melhora no tráfego nas principais vias da região, como as avenidas das Américas e Ayrton Senna.
Com o contrato já assinado, o Consórcio Lagunar Marítimo tem até 30 dias para apresentar o cronograma de trabalho, e até 36 meses para construir cinco terminais obrigatórios: Gardênia Azul, Jardim Oceânico/Metrô, Linha Amarela, Muzema e Rio das Pedras; e seis estações/píeres: Arroio Pavuna, Barra Shopping, Bosque Marapendi, Parque Olímpico, Salvador Allende e Vila Militar.
Ao todo serão oito linhas obrigatórias. São elas:
- Linha 1: Expressa Rio das Pedras – Linha Amarela
- Linha 2: Expressa Rio das Pedras – Jardim Oceânico
- Linha 4: Expressa Rio das Pedras – Barra Shopping
- Linha 5: Muzema – Jardim Oceânico
- Linha 7: Linha Amarela – Muzema – Jardim Oceânico
- Linha 9: Circular Lagoa de Jacarepaguá
- Linha 12: Expresso Gardênia Azul – Jardim Oceânico
A expectativa é que as obras tenham início no primeiro semestre de 2027, passando as etapas de apresentação do plano de implementação, dos projetos básico e executivo e da obtenção de licenças.
Delair Dumbrosck afirma acreditar que o projeto aquaviário – que também já era uma reivindicação da CCBT – e que será um diferencial no cenário de mobilidade urbana da região. “As obras vão precisar passar por um processo longo, principalmente nas questões de dragagem. E isso não apenas para montar os decks do transporte, mas para garantir que a lagoa toda será dragada”, apontou o presidente da Câmara Comunitária da Barra da Tijuca.
A Iguá, concessionária de água e esgoto, executa as obras de dragagem das lagoas da região desde abril de 2024, como contrapartida prevista no contrato de concessão de saneamento, em uma ação por período determinado. Neste escopo, a Iguá está investindo R$250 milhões e tem a estimativa de remanejar aproximadamente 2,3 milhões de metros cúbicos de sedimentos e lodo acumulados no fundo das lagoas, em áreas onde, por décadas, foram descartados resíduos sólidos e esgoto in natura.
Esse processo permitirá restaurar a profundidade original de áreas das lagoas, com o objetivo de aprimorar a circulação hídrica com o oceano, elevando os níveis de oxigenação da água e contribuindo para o fortalecimento da biodiversidade.
Veículos Leves sobre Trilhos (VLT) nas principais vias
No dia 23 de outubro, a Câmara dos Vereadores aprovou em segunda discussão o Projeto de Lei Complementar que prevê a troca dos ônibus do sistema BRT por Veículos Leves sobre Trilhos (VLT), Veículos Leves sobre Pneus (VLP) ou tecnologia similar, nos corredores Transcarioca e Transoeste. A proposta, enviada pelo Poder Executivo, agora seguirá para sanção ou veto de Eduardo Paes.
O prefeito e a secretária de Transportes, Maína Celidonio, explicaram que o objetivo é aproveitar a infraestrutura implantada para o BRT, como as 86 estações que existem nas suas vidas, calhas e áreas desapropriadas. O projeto, no entanto, traz preocupações acerca do “esquecimento” do antigo projeto de expansão do metrô até o Recreio. O projeto de lei afirma que o VLT “pode carregar até quatro vezes mais pessoas do que um ônibus, pela metade do custo de implantação de uma linha de metrô, já que não possui paradas subterrâneas”.
O VLT tem uma vida útil maior que a dos ônibus e é uma opção mais sustentável, mas quando cruza o trânsito dos carros, perde velocidade, embora trazendo um número maior de passageiros. Delair Dumbrosck acredita que o metrô, ainda que na superfície, seja mais eficiente:
“O certo era fazer um metrô aéreo, que ia ser mais barato e melhor. Seria uma ótima solução e ainda estenderia o serviço até o Recreio, saindo ali do Jardim Oceânico e fazendo estações por cima, com o sistema de passarela. Não iam ter grandes problemas de construção”, destaca o presidente da Câmara Comunitária da Barra da Tijuca.