Com os filhos em pânico, ela teve que deixar o imóvel

 

 

A segunda-feira (10), na Cidade de Deus, foi tensa, em especial para uma família, moradora da comunidade. A tensão chegou a um patamar difícil de descrever: pela manhã, o susto de ter uma vidraça da casa quebrada por um disparo. À tarde, o pânico com dez tiros atingindo a residência. Com medo, a mulher, o marido e os filhos do casal, de 1 e 3 anos, deixaram o imóvel e foram para a casa de um parente. De acordo com a Polícia Militar, houve operação no bairro tanto pela manhã quanto à tarde. Não há relato sobre feridos.

“Minha casa de novo. Alvejada. De novo. Não aguentamos mais. Voltei na minha casa rapidinho e está totalmente alvejada. Dez tiros que meu esposo contou. Fora o que deve estar escondido, que a gente ainda não viu”, contou ela, muito nervosa.

Com as crianças muito abaladas, a moradora e o marido decidiram passar a noite em outro lugar:

“Minha filha está em pânico. Ele não entende direito, mas chorou muito também”, disse a mãe.

A Polícia Militar informou que na manhã desta segunda-feira, policiais do 18° BPM (Jacarepaguá) e equipes do 2° Comando de Polícia de Área (2° CPA) realizaram uma operação na Cidade de Deus com o objetivo de “reprimir a movimentação de criminosos que atuam na região”. A corporação disse ainda que houve confronto com os criminosos armados e que na parte da tarde, houve nova troca de tiros na área.

Por causa da violência na região, oito escolas da rede municipal suspenderam as aulas, afetando 2.061 alunos. A Clínica da Família Francisco de Oliveira também fechou as portas e o Centro Municipal de Saúde Hamilton Land não realizou atividades externas, como visitas domiciliares.

A moradora que teve a casa atingida duas vezes relatou ainda que a residência de uma cunhada, que fica próxima, também foi perfurada por um disparo.

“Essa operação parece que não termina nunca”, lamentou.

Segundo os relatos de moradores, há cerca de 15 dias as operações são quase diárias na Cidade de Deus. A ONG Nóiz Projeto Social instalou um painel no teto do imóvel onde funciona para alertar atiradores de elite que ficam nos helicópteros das polícias.

Outra moradora também falou do susto de ter a casa atingida por um disparo. A bala quebrou uma vidraça e perfurou uma blusa de seu marido.

 

“De onde veio o tiro não deu para eu saber. Mas graças a Deus mais uma vez Ele guardou a minha casa. Nós moradores da comunidade só pedimos paz”, disse.

De acordo com ela, as operações na Cidade de Deus têm sido quase diárias nos últimos 15 dias:

“O problema não é morar na favela, mas sim a falta de respeito que estão tendo com a gente, os moradores. Será que as crianças vão crescer sem estudo?”, questionou ela.

Abaixo, a íntegra da nota da Polícia Militar:

“Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que na manhã desta segunda-feira (10/04), policiais militares do 18° BPM (Jacarepaguá) com equipes do 2° Comando de Polícia de Área (2° CPA) realizam uma operação na Comunidade da Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio de Janeiro. De acordo com o comando da unidade, o objetivo da ação é reprimir a movimentação de criminosos que atuam na região. No momento da entrada das equipes houve um breve confronto com um grupo de criminosos armados. Na parte da tarde, as equipes do 18° BPM e do 2° CPA se envolveram em uma nova troca de tiros com um grupo de homens armados. Houve um novo confronto e os suspeitos fugiram acessando o interior da comunidade. Até o momento, não há registro de feridos. A operação já foi encerrada e o policiamento segue reforçado na região”.