A história de um artista dentro de um castelo de areia

Disseminando uma filosofia de conhecimento e de renovação cultural, Márcio Mizael Matolas, de 44 anos, mostra o prazer e o entusiasmo de traduzir e compartilhar um pouco de sabedoria com as pessoas que desejam ler ou doar um livro. Conhecido também por sua escultura de areia em formato de castelo, no posto 2 da Praia da Barra, foi apelidado carinhosamente pelos moradores locais como “Castelo”.

Há 22 anos na Praia do Pepê, Márcio teve uma infância difícil e desde seus oito anos de idade precisou aprender os ensinamentos da vida nas ruas do Rio de Janeiro. Foi assim que o leitor voraz começou o seu primeiro trabalho vendendo livros e revistas usadas - mesmo só tento estudado até o terceiro ano do ensino fundamental. Ao perceber que a praia da Barra era um lugar tranquilo, Castelo decidiu mudar seus ares e montou sua biblioteca "ao ar livre" e sua escultura na Zona Oeste da cidade.

Com um acervo diversificado e tendo parte de sua casa na orla da praia, ele conta que a placa com a frase “Pegue um livro e contribua na caixinha” não é o que te dá satisfação. Ter a sua biblioteca em constante mudança é o principal objetivo de todo seu trabalho: "as pessoas as vezes colocam uma contribuição ali, mas o meu ganho maior eu já tenho, é manter uma biblioteca de graça e sempre renovada".
Tendo a impermanência como ponto chave de sua personalidade, o aposentado e amigo pessoal de Castelo, Maurício Martins Menezes, de 72 anos, afirma que ele não se contenta apenas com uma escultura feita e preza sempre pela mudança: "a prioridade dele é fazer a escultura e manter a biblioteca. A sua única certeza é a mudança e o desapego. Ele tem a espiritualidade na natureza".

Entretanto, segundo Castelo, a Prefeitura tem alegado que a banca com os livros ao ar livre vai de encontro com os termos da legislação de ocupação do espaço público. Com isso, Márcio teria que pedir permissão a algum órgão municipal para continuar ocupando o espaço da banca. Em contrapartida a ação da Prefeitura, Maurício Martins ressalta a importância e o diferencial de ter um projeto literário como esse: "outro dia eu estava aqui na praia, a galera da escola saiu e eles estavam aqui na banca. Quando é que aquelas vinte crianças vão na biblioteca da escola pegar algum livro? Aqui na orla é diferente, o ambiente propicia isso."

Mais uma prova do sucesso do projeto, o apreciador de grandes autores brasileiros, como Jorge Amado, escritor de "Capitães de Areia", recebe inúmeras vezes pessoas que se solidarizam, doam e trocam livros. A defensora pública, Patrícia Ubal é uma delas e conheceu o trabalho de Castelo em um dia que estava passeando pela praia: “é fundamental o que ele faz porque o livro não é um artigo que você descarta. Muitas pessoas podem estar querendo ter acesso aquela cultura, aquele conhecimento ou aquela informação. É admiráve!"