Área ainda tem resquícios do tempo que fazia parte da Freguesia de Jacarepaguá

Por Marcelo Perillier

Muitos da nossa região confundem ou não sabem ao certo onde começa e onde termina a Região Administrativa da Barra da Tijuca, nem quais são os bairros pertencentes a ela. Para tirar essa dúvida, é necessário voltar alguns séculos, para entender melhor essa situação.

Primeiramente, a Barra da Tijuca (bairro) pertence a uma região conhecida como Freguesia de Jacarepaguá, que em 1661 desmembrou-se da Freguesia de Irajá, criada em 1644. A área, na época, tinha suas lagoas, rios, alagadiços, dunas e um litoral de 30 quilômetros, sendo que 18 compreendem do Canal da Barra ao Pontal de Sernambetiba. O jornalista Ricardo Palma a descreveu no antigo “Diário Carioca” e no prefácio do livro “O Sertão Carioca”, de Armando Magalhães Corrêa, como a várzea mais bela do Rio.

No campo geográfico, a Baixada de Jacarepaguá é uma grande planície, que se estende da Serra do Mar até o oceano. Seu solo é composto por sedimentos turfosos, argila trazida pelos rios e areia deixada pelos movimentos das marés e ventos. Esses depósitos criaram fixas compridas e estreitas de terra junto às praias, bloqueando saídas das águas dos rios para o mar, fazendo com que lagoas e restingas fossem se formando ao longo do tempo. Então, fisicamente, a região tem três características: vastas planícies com seus alagadiços e lagoas entre os maciços da Pedra Branca e da Tijuca e o oceano.

As terras planas e secas que existem hoje vieram das obras de drenagem do solo, feitas para melhorar as condições de salubridade e para aproveitar melhor economicamente as terras. Essas obras fizeram com que as águas paradas se orientassem para as lagoas de Jacarepaguá (com as subdivisões de Camorim e Tijuca) e de Marapendi.

A lagoa de Jacarepaguá, a mais distante do litoral, é o destino final de rios, riachos, arroios e águas pluviais que vêm do maciço da Pedra Branca. Já a de Marapendi, mais próxima ao mar, é constituída das infiltrações freáticas, além das águas da Lagoinha e dos rios Morto, Paineiras, Cascalho e Portelo. Atualmente, as duas lagoas recebem mais esgoto do que água pura.

Há 40 anos, os alagadiços, que não existem mais, demarcavam bem as terras entre as lagoas e o mar, formando as restingas de Jacarepaguá e Itapeba, que tinha um solo rico em turfa, material constituído pela decomposição de vegetais e bons para ser empregado como combustível, embora de baixo poder de combustão. Porém, esse tipo de solo dificultava a implantação de vias públicas e de prédios.

Por este motivo, a região da Baixada de Jacarepaguá ficou durante muito tempo sem a ação das máquinas. Existiam moradores em casas e casebres, mas não os condomínios e prédios de Copacabana. Somente na década de 1970, com equipamentos mais modernos, os grandes empreendimentos imobiliários começaram a surgir. Com isso, o seu desenvolvimento, voltado para moradia, comércio e lazer, fez com que fosse criada uma Região Administrativa para a área.

Denominada de RA XXIV, ela consiste da própria Barra, do Recreio dos Bandeirantes, de Vargem Pequena, de Vargem Grande, de Grumari e do Camorim, além dos sub-bairros Itanhangá, Joá, e Jardim Oceânico. Mesmo assim, algumas denominações pertencentes a Barra (região) ainda se remetem ao tempo da Freguesia de Jacarepaguá, como o aeroporto da Avenida Ayrton Senna.

Detalhando os limites da região, no sentido longitudinal vai do túnel do Pepino, no morro da Gávea, a Ponta da Praia Funda, no sopé do Morro de Guaratiba. Subindo para o interior, da Serra de Guaratiba até o Morro dos Caboclos, passando pelo Morro de Santa Bárbara, Serra do Quilombo e Serra do Nogueira. Chegando à planície, os limites são sempre os rios, arroios e lagoas. A partir do Camorim, o rio de próprio nome, a Avenida Salvador Allende (parte), Avenida Embaixador Abelardo Bueno (parte), seguindo pelas lagoas do Camorim, onde toma rumo do Maciço da Tijuca, passando pelo Rio das Pedras, Morro da Marimbeira, Taquara, Pedra Bonita e Gávea. No litoral, começa na praia da Joatinga, entre o Pontal do Marisco e a Joatinga ( Joá) até o Pontal de Sernambetiba, Prainha, Grumari, Meio, Perigosa e Funda.

Portanto, a região da Barra da Tijuca, uma divisão da Baixada de Jacarepaguá, pode sustentar traços tempo da Freguesia de Jacarepaguá, como o aeroporto da Avenida Ayrton Senna. Mas a antiga várzea do Rio é, hoje, uma região administrativa própria, tanto que a Superintendência comporta exatamente os bairros e sub-bairros citados anteriormente.