Não é preciso muito esforço para perceber a grave contaminação das lagoas, rios e estuários costeiros da cidade do Rio de Janeiro. Imediatamente vem em mente que o esgoto é o principal vilão e que a CEDAE é a responsável única. Ledo engano de uma conclusão precipitada.

Não é preciso muito esforço para perceber a grave contaminação das lagoas, rios e estuários costeiros da cidade do Rio de Janeiro. Imediatamente vem em mente que o esgoto é o principal vilão e que a CEDAE é a responsável única. Ledo engano de uma conclusão precipitada.

A CEDAE, em primeiro momento, pode parecer a principal culpada, e o problema fica resolvido se conseguirmos acioná-la. Contudo, esta conclusão fácil nos impede de ver que a poluição que chega aos rios, lagoas e estuários só é possível devido ao transporte realizado pelas águas de chuva (águas pluviais). Estas adentram pela galeria de águas pluviais e são lançadas para o rio através de vários tubos, que podem ser achados ao longo dos cursos d’água urbanos. Destas inúmeras bicas são vomitadas diariamente um enorme volume de esgoto clandestino, lixo fugitivo e sujidades urbanas, como óleo vazado além da fuligem de escapamentos e pneus de automóveis.

Extensas áreas urbanas, impermeabilizadas pelo asfalto e concreto do calçamento, recebem a poeira dos veículos, lixo, esgoto e óleo que são lavados e conduzidos pelas chuvas até os espelhos d’água naturais dos rios, lagoas e baías.

Neste sentido, torna-se mais perceptível a alta toxicidade destes resíduos e a necessidade evidente do tratamento das águas residuais urbanas que correm na rede de drenagem das grandes cidades.

A moderna gestão pública das metrópoles mais avançadas pelo mundo afora já realiza o tratamento das águas pluviais urbanas antes de lançá-las nos corpos d’água naturais. Tal procedimento evita uma enorme variedade de doenças e a perda da qualidade de vida nos centros urbanos densamente ocupados.

Assim, para cada célula urbana de captação das águas pluviais, principalmente no entorno de rios, lagos e bacias, devem existir unidades de tratamento de águas pluviais, evitando-se assim a contaminação das águas naturais que permeiam uma cidade. As águas pluviais urbanas devem sofrer tratamento, pois geralmente tem qualidade tão ruim ou mesmo pior do que as águas servidas existentes na rede de esgotos.

Neste quesito, inovar também é chamar a prefeitura para sua responsabilidade de segregar lixo, sedimentos, sujidades urbanas e mesmo esgoto da sua rede pluvial através do correto tratamento destas águas urbanas.

Portanto, trata-se de uma necessidade imediata, tendo em vista o quadro calamitoso com que se encontram as águas dos rios e lagoas urbanas.

Para nossa sorte já existem tecnologia e experiência no tratamento e adequação das águas pluviais urbanas. Contudo ainda faltam políticas e clareza de que o tratamento das águas pluviais urbanas são procedimentos preventivos e importantíssimos em favor da saúde pública. Através da redução drástica da possibilidade de contrair doenças, se desonera os serviços de saúde pública. É muito mais inteligente e econômico investir na prevenção da doença do que ter que curá-la, uma vez instalada.

Assim, o novo prefeito eleito deve procurar inovar e tratar do meio ambiente como se estivesse tratando da saúde pública do município. Muitas vezes, para atingir uma prioridade (saúde pública), é preciso saber mirar em algo diferente, mas não menos importante, que é a saúde ambiental urbana.

Prof. Dr David Zee
Vice-Presidente da Câmara Comunitária da Barra da Tijuca