Uma entrevista exclusiva com Sylvia Jane Hodge Crivella e a sua vida dedicada ao espirito de servir

Por Claudio Magnavita

JORNAL DA BARRA esteve na residência do casal Sylvia e Marcelo Crivella, prefeito do Rio. O foco foi uma entrevista com Sylvia Jane Hodge Crivella, Dona Sylvia, como é chamada pelos auxiliares do prefeito e colaboradores das obras assistenciais que comanda como primeira-dama. Ela é de suma importância na vida do marido. Foi sua primeira namorada, sonhava com a vida missionária que acabaram tendo juntos na África, e desenvolveram uma grande obra assistencial na Bahia. Até na vida política ela é unanimidade. Podem discordar do marido, criticar a sua gestão, mas todos concordam: ela é uma pessoa muito especial. Até o marido usa um termo ecumênico para definir a esposa: “Ela é uma santa”.

Na eleição passada teve uma breve incursão política, sendo candidata a suplente de senadora na chapa do candidato a reeleição Eduardo Lopes. Conseguiu passar por um processo eleitoral sem macular a sua essência. Para se preservar, não assiste televisão e lê poucos jornais. Tem três filhos, duas meninas e um rapaz, Marcelinho, que está cada dia mais parecido com o pai fisicamente.

De família inglesa pelos dois lados, foi o DNA da família Hodge que pesou na hora de o casal ser escalado para ampliar a Iurd na África do Sul. Eles falavam inglês, e os dois desejavam a vida de missionário dos avós de Sylvia.

Nesta entrevista, o JORNAL DA BARRA apresenta o lado humano, fatos que marcaram a vida de Dona Sylvia e os princípios que norteiam os seus pensamentos e suas ações.

Primeiro, vamos falar desse trabalho que a senhora desenvolve, porque a senhora é muito conhecida como escritora, radialista, tem uma linha de autoajuda e de preocupação que transcende esse momento hoje da vida do casal, que é o fato do Marcelo ser prefeito. Me fala do que é compartilhar a informação, sabendo que isso pode mudar a vida das pessoas?

Em primeiro lugar, muito obrigado Claudio por essa oportunidade, e eu gostaria de falar que para chegar aonde cheguei, eu tenho uma história. Meus avós foram missionários, e eu cresci com as histórias dos meus avós de sempre se doarem para o próximo. Meus pais sempre tiveram a casa aberta para missionários e para pessoas que estavam em necessidade. Então, eu cresci com muito desejo de fazer o mesmo, e muito cedo na minha vida eu tomei uma decisão: também quero ser missionária! Eu quero ir para os lugares mais inóspitos da Terra, na minha infantilidade, para servir aqueles que precisam. Mas eu era uma criança, tinha 13 anos quando decidi isso, e demorou muito até encontrar um parceiro, um grande parceiro que é o meu marido. Nós nos conhecemos ainda adolescentes e juntos tivemos o mesmo coração de servir ao próximo

Eu queria agora mergulhar na família, porque a questão do DNA da família diz muito do nosso futuro. Quem respeita e sabe de onde veio, sabe para onde vai. E a senhora é neta de missionários que se estabeleceram em Pernambuco. Me conta um pouco dessa história. Vamos entrar nessa origem, nessa sementinha que tanto germinou.

Olha, essa é uma história até um pouquinho longa que eu vou tentar resumir. O meu avô era missionário, mas antes de ser missionário, ele veio ao Brasil como engenheiro químico. Ele trabalhou nas minas de ouro de Morro Velho, hoje Nova Lima. Ele era natural da Inglaterra, mas como tinham poucos químicos naquela época, ele veio para cá trabalhar nas minas de ouro.

E por um descuido no laboratório, ele foi envenenado com arsênico e iria morrer. Então o pessoal da mina dizia que ele tinha que voltar para a Inglaterra, porque aqui ele não teria tratamento. Aí, ele fez um voto com Deus e disse: “se o Senhor me curar, eu quero voltar para o Brasil, mas de outra maneira. Eu quero ser missionário, quero trabalhar no meio desse povo”, porque ele amava o Brasil. E assim foi à Inglaterra, se recuperou e voltou para o Brasil com a minha avó e cinco filhos. E aqui no Brasil, nasceu a minha mãe. A minha mãe é a única brasileira, nascida no interior de Pernambuco.

E a sua família, inglesa?

Inglesa! E aos 10 anos a minha mãe foi para a Inglaterra estudar porque achavam que um dia voltariam para a Inglaterra. Mas nunca voltaram. Morreram aqui, e aqui foram sepultados.

Qual foi a influência dessa missão deles no Brasil, nos netos e nas gerações seguintes?

Para mim, foi muito impactante pois eu ouvi as histórias. Meu avô faleceu e eu era muito pequena ainda. Eu tinha pouco contato com ele, mas minha avó era muito próxima de mim. Ela chegou a conhecer o Marcelo, quando a gente estava namorando...

Ela falava português com sotaque, tinha acento?

Tinha muito (risos). Ela falava: “Are you triste?” (Você está triste?). Então ela misturava o inglês com português, sabe? Mas ela era uma mulher extraordinária, Claudio. As lembranças que eu tenho dela são uma grande inspiração para mim.

Ou seja, a família veio para o Brasil por conta de uma graça, pois ele se curou e ele veio cumprir uma promessa?

Exatamente. Então, essa graça foi multiplicada através dele na vida de muitas pessoas. Hoje inclusive, eu recebi notícia de que lá em Goiás, em uma cidade que o meu avô ajudou a fundar chamada Cristianópolis, e vão fazer uma homenagem para ele! Me ligaram dizendo que iriam fazer uma homenagem para o meu avô, que fez parte da fundação dessa cidade. Então, ele foi desbravando o Brasil, porque ele andava muito em jumentinho, levava um fardo de carne seca e farinha... e um inglês comendo carne seca e farinha era algo bem curioso. Mas ele amava o Brasil. Ele escreveu dois livros que é a tradução da selva com o livro, que era a bíblia, e as aventuras com a bíblia no Brasil. São livros assim que valeria fazer um filme, porque como ele descreve o Brasil é uma coisa linda.

Está aí o gene de escritora, que a senhora acabou herdando, não é?

Desde pequena eu gostava de escrever minhas memórias, meus pensamentos, enfim, eu acho que está bem no DNA mesmo.

E os seus pais? O que falar do seu núcleo familiar? Pai, mãe e suas irmãs?

Minha mãe é a filha desse casal inglês, e meu pai é filho de outro casal inglês, e eles se conheceram em Minas, quando minha mãe foi trabalhar como professora lá. Os dois me criaram juntamente com minhas irmãs, e eu sou a caçula das três. E sempre aprendíamos português e inglês. Em casa era inglês toda hora. À mesa, só podia ser inglês, porque eles achavam que isso iria ajudar no futuro. E ajudou muito, principalmente quando fui para a África.

Então, o meu pai e minha mãe sempre foram pessoas que sabia que eu podia contar. A minha mãe é viva. Ela está com 92 anos, e o meu pai já tem 13 anos de falecido, mas o Marcelo sempre dizia que eu não tinha um pai, que eu tinha duas mães, por que meu pai era um amigo de toda hora, sempre com a mãe estendida, compreensivo, nunca meu pai me bateu, sabe? Sempre com energia, mas com muito amor, misericórdia e respeito. E isso me impressionou muito.

E como eles aceitaram o Marcelo?

Então, o Marcelo foi o meu primeiro namorado, sabia? Meu primeiro namorado. E se encantaram com ele. Eu era muito jovem. Eu conheci o Marcelo e eu tinha 14 anos. Ele tinha 15. Nós começamos a namorar depois. A gente se conheceu na igreja, no grupo jovem. A gente era muito criança, mas aquilo foi amadurecendo e a gente começou a namorar quando eu tinha 17 anos e ele, 18. E os meus pais o receberam muito bem. Era algo que me preocupava por que eu nunca tinha tido um namorado antes, então...

Isso para mim, me trazia muita paz, pois os meus pais estavam de acordo.

E os pais do Marcelo?

Ele é filho único. E casar com filho único é um desafio. Você pode imaginar, né? E as pessoas falavam: “você é maluca, vai casar com filho único”. E quem dizia isso não era minha família, mas amigas que achavam que ele podia ser um filhinho de mamãe. Mas muito pelo contrário. Minha sogra o criou, com medo de deixa-lo mimado, com muita dureza. Ele foi trabalhar cedo, aos 14 anos de idade, como office-boy. Aos 18 anos, passou a ser motorista de táxi. Ele sempre foi muito responsável, trabalhava de dia e estudava à noite. Então, meus sogros souberam educá-lo.

Agora, quem tem uma relação duradoura, uma relação privilegiada que vem desde o primeiro namoro, a pessoa tem a chance de acompanhar a evolução do parceiro. Como é que a senhora vê o crescimento do Marcelo? Do garotinho que a senhora conheceu ao homem público que ele é hoje?

A essência dele é a mesma. O mesmo rapaz que tinha amor ao próximo, que tirava a roupa do corpo para dar para aquele que necessitava. Ele é até hoje assim. Ele não consegue ver ninguém em necessidade que aquilo não o incomode ele de tomar alguma atitude. Agora, nós crescemos praticamente juntos. De adolescentes a adultos, e depois nos tornamos pais, depois avós, e é uma jornada realmente. Mas a gente amadurece, a gente sofre. Faz parte do processo, é inevitável. Nenhum relacionamento é um mar de rosas. Aliás, é um mar de rosas, mas tem espinhos. Isso é normal. Mas o grande desafio é a gente superar isso. Vencer, olhar a visão macro, não o detalhe. Eu sempre falo assim: “eu concentro nas qualidades”. Se for concentrar os defeitos, ninguém aguenta ninguém. Ele tem muitas qualidades, e são nelas que eu vou focar e vamos em frente.

E eu estava vendo a foto dele com a primeira filha. E agora você tem a foto dele com a primeira neta, ou primeiro neto. Como é esse primeiro lado do seu marido? Como é que foi depois de ser pai, depois entramos como foi de ser avô.

Olha, Marcelo é filho único. Então, o sonho dele era ter uma família enorme. Ele queria muitos filhos. O primeiro móvel que ele comprou para a gente, quando nos casamos, foi uma mesa de banquete. Não tinha lugar para mais nada, e ele dizia: “nós vamos encher isso aqui de filhos”. Quando nasceu a primeira filha, ele ficou tão bobo. Ele não sabia o que fazer, ele beijava, ele me ajudou muito, trocava fralda, deixava eu dormir para ficar com a criança. Ele foi um paizão. Ele realmente me surpreendeu. Quando nasceu o neto, aí ele babou de vez. Porque os netos são a sobremesa da vida. Com filho, eu e ele éramos muito inexperientes. Nunca havíamos pego um recém-nascido na vida. A minha filha foi a primeira bebezinha que eu segurei. Então, eu tive que aprender. A gente aprendeu junto. Mas quando vieram os netos, veio a recompensa. Já tínhamos cumprido a nossa missão e agora é só curtir. Antes, a gente tem a responsabilidade de educar, né.