Sancler batizou o nome do local em homenagem ao filho, que ficou pouco tempo na Terra, mas que ensina ao pai grandes lições de vida por meio do mundo espiritual. 

Jornal da Barra: Inicialmente Sancler, quem é você?

Sancler Mello: Eu sou uma pessoa que busco fazer o bem para o próximo, que dedica a vida para fazer o próximo mais feliz. Porque eu acho que a felicidade é um fato da ação e reação; de fazer e de receber. Quando você entende as pessoas na sua forma de ser, quando você ajuda as pessoas a vencerem seus obstáculos, você torna aquela pessoa mais feliz. E ai, a felicidade acaba acontecendo. Então, eu entendo que essa lei física, da ação e reação, funciona plenamente com a questão do amar ao próximo, de ajudar o próximo.

Jornal da Barra: Você se tornou espírita ou já era espírita?

Sancler Mello: Eu sempre fui humanista, sempre acreditei que a humanidade merecia um tratamento especial, ajudar os mais necessitados... Eu fui empresário, talvez um grande empresário, e eu sempre tratei meus funcionários de uma forma humana, com participação no núcleo da empresa, com atendimento às suas necessidades básicas, como moradia, alimentação. Eu sempre entendi que, se você cuidar das pessoas, vai estar cuidando de si. A minha empresa prosperou muito por esse cuidado e isso tudo me fez entender que existia alguma coisa além da matéria que poderia me fazer melhorar. Com o aprendizado do Alan, porque era um menino que veio para ensinar, e me ensinou muito, ele me mostrou que havia uma vida após a matéria. Passei a entender e me dedicar a essa vida pós a matéria. Porque a minha vida não é uma vida religiosa, eu não sou uma pessoa religiosa. Eu sou uma pessoa que acredita na espiritualidade, que acredita no amor, na caridade, em Deus. Eu caminho muito na questão do amor ao próximo, na caridade daquelas pessoas que precisam, e isso me tornou esse ser mais feliz, porque quando você faz alguém mais feliz, você se torna feliz.

Jornal da Barra: E o lado empresário? Como era o Sancler antes desse núcleo espiritual existir?

Sancler Mello: Eu tinha uma relação muito pessoal com os funcionários, que eram em uma grande quantidade, mas tinha isso com cada um. Eu acreditava que, se eu formasse uma família na minha empresa, essa empresa seria muito mais sólida muito mais compacta. E, para você formar uma família, você precisa conhecer as dificuldades de cada um. Era o que eu fazia. E tentava solucionar e ajudar aquela pessoa a sair dessa dificuldade material. Inconscientemente, eu estava contribuindo para evolução espiritual dessa pessoa também, eu só não conhecia a doutrina, mas já praticava.

Jornal da Barra: A sua empresa era de qual ramo?

Sancler Mello: Era de construção civil, que acabou formando um grupo de empresas, agregando empresas de aço, armários, tijolos... Então, você acaba criando um conceito de empresas, mas a cabeça era empresa de construção civil.

Jornal da Barra: E esse terreno que nós estamos?

Sancler Mello: Esse terreno pertence a mim e ele é super valorizado, pois está num lugar de expansão imobiliária gigantesca, mas entendo que a utilização dele material não nos favorece muito. Então, o transformamos em uma utilização mais humana. Estamos construindo a Cidade da Felicidade, um local aonde as pessoas chegam aqui e podem ser cuidadas, amparadas, tratadas. Esse espaço aqui tem uma função espiritual muito forte. Foi aqui que meu filho cuidou das vaquinhas para alimentar as crianças. É aqui que existe um mito de que houve um pouso de uma espaçonave. É aqui que sentimos que há uma atração de energia muito forte. Aqui foi o lugar escolhido pela espiritualidade para fazer essa grande obra, impendente do valor material, que deve valer muito.

Jornal da Barra: O que seria a Cidade da Felicidade? Este terreno aqui a comporta?

Sancler Mello: Pretendo criar aqui dentro um lugar em que as pessoas que necessitam de algo, ou de alguém, ela encontre aqui. Desde a questão material mínima, até a questão espiritual. Precisamos entender que as pessoas necessitam não só de um apoio material, de uma ajuda alimentar, mas de um cuidado espiritual em que ela possa ser autossuficiente. Porque, quando você da o peixe e não ensina a pescar, a pessoa fica dependente de você e não consegue evoluir. Nós queremos dar o peixe sim, para a pessoa poder se alimentar na hora dela está fragilizada, cansada, mas a gente também quer ensinar a pescar. E para você ensinar algo para alguém que não do seu feitio, precisa ensinar que ela é capaz, que ela pode. E é isso que a espiritualidade faz, ela reconstrói sua autoestima. Ela mostra que você é capaz de ser aquilo que quer ser. É o que a gente chama de poder da alma, o que a gente chama de física quântica.

Jornal da Barra: Sabemos que ciência e religião não se misturam com muita frequência, mas, na sua visão mistura?

Sancler Mello: Eu sou muito assim: ver para crer. Eu sou muito Tomé, e a única coisa que prova o que eu faço é a ciência. Se a ciência não conseguir provar, eu não posso acreditar em dogmas. Eu lembro que há uns anos fiz uma palestra e tinham vários médicos. Eu disse a eles que tinha uma informação do mundo espiritual que o coração pensaria mais do que o cérebro e, quando você faz o desligamento de uma pessoa, porque hoje, na morte cerebral, você abre o corpo para retirar os órgãos, você estaria fazendo na verdade uma eutanásia, porque o ser ainda está vivo. Na época, eu fui muito crucificado com isso. Hoje, a ciência mostra que o coração tem mais neurônios do que o cérebro. É essa união espiritual que eu luto muito para que ocorra com a matéria: de unir a medicina da Terra com a medicina espiritual. A física mostra que certas doenças são psicossomáticas, câncer, tireoide, fígado. Então, no meu entendimento, a cura da psicossomatia é a cura da alma. E a cura da alma é o que se faz aqui..

Jornal da Barra: Antes de você criar esse núcleo, você tinha hobbies de final de semana?

Sancler Mello: Na realidade, eu sempre fui muito desportista. Eu sempre acompanhei muito meu filho: do que ele gostava eu gostava, porque a gente tinha uma irmandade muito grande. Nós já surfamos, fizemos jiu jitsu, nadamos... Eu sempre gostei muito do esporte. Minha vida sempre foi assim. Eu fui casado 37 anos com minha única namorada, que foi a única mulher que beijei na vida. Quer dizer, eu sempre fui leal àquilo que eu acreditei. E sou leal ao esporte, ao casamento, e continuo fazendo. As pessoas acham que espírita não poder fazer, mas eu vou à praia, corro, pego onda, faço treinos de jiu jitusu. Tudo isso até hoje. Eu desmitifico um pouco essa questão do líder espiritual que fica encastelado dentro de seus centros espíritas ou igrejas pregando uma coisa. Porque, na realidade, muitos deles fazem coisas escondidas. Eu não, eu faço no claro. Não é porque eu me tornei espírita que eu me tornei um santo. Pelo contrário, ser espírita é reconhecer seus defeitos e tentar modifica-los. Eu não sou um santo porque eu curo as pessoas. As pessoas não são curadas por mim. Eu sou um intermediário entre a espiritualidade e a pessoa que está doente. Quem a cura é ela mesma, através da própria fé. A espiritualidade me entende como um trabalhador. porque eu me dedico ao que faço, ao que acredito.

Jornal da Barra: Voltando um pouco, a Cidade da Felicidade já começa com as atividades de biblioteca, cantina e bazar que podemos ver no núcleo?

Sancler Mello: Sim, porque as pessoas precisam ter conhecimento, e o livro é a melhor forma. A gente tem uma sessão de livros gratuitos, outra a R$ 5, e outra sessão com livros um pouco mais caros, que são os que a gente compra nas editoras e revende. O bazar é a mesma coisa, porque muitas pessoas têm em casa um excedente e, através disso, convencemos a viver com o suficiente. Principalmente o sexo feminino, que tem a mania de guardar essa roupa para quando emagrecer, ou o contrário. Muitas vezes, aquela roupa fica ocupando espaço e a pessoa não consegue alcançar seu objetivo. Então, nós a convencemos a doar esses trajes para que possamos vender barato para uma pessoa que não tem condições de comprar. Vou dar um exemplo. Uma vez, uma moça comprou uma bolsa por R$ 500, só que ela tinha cinco bolsas desse valor, então ela doou uma e nós vendemos por R$ 30. A pessoa que comprou ficou tão feliz, pois o sonho dela era ter uma bolsa dessas. E esse sonho ela nunca iria realizar, pois ela é uma pessoa humilde. Então, quando ela comprou a bolsa, foi a maior realização da vida dela. Isso é proporcionar felicidade.

Jornal da Barra: Quem são as pessoas que frequentam o núcleo?

Sancler Mello: As pessoas que frequentam precisam de alguma forma. Elas não vêm pelo amor, vêm pela dor. A psicografia é uma forma de pescar essas pessoas, porque a psicografia não classifica classe. Tanto ricos quanto pobres perdem seus entes queridos. Elas chegam com a ânsia de alguma mensagem, conhecem a casa e percebem que aqui temos outras ofertas. Temos cursos, oficinas, cursos de informática e inglês para crianças pobres, oficinas de artesanato, cursos de Aruanda... São cursos que geralmente são pagos. As pessoas vão conhecendo a casa e viram frequentadores. Consequentemente, trazem outras pessoas. Então, temos aqui uma miscigenação de classes. Desde o pessoal da Barra até Campo Grande, passando por Guaratiba, Santa Cruz e Recreio.

Jornal da Barra: Sabia que tem um vídeo que circula do Elymar Santos no núcleo?

Sancler Mello: Ele esteve aqui na última psicografia. Isso é muito interessante, porque eu não o conhecia. Não lido muito com música e esses artistas vem descaracterizados. No final, me avisaram que era famoso. Ele veio aqui, recebeu a mensagem e foi tratado pelas pessoas daqui como qualquer pessoa é tratada. Ninguém foi em cima pegar autografo, ele foi tratado como uma pessoa comum.

Jornal da Barra: Os cursos colaboram com o crescimento do lugar?

Sancler Mello: Claro, colabora para tornar as pessoas mais felizes. Imagina um menino da comunidade que, daqui a um ano, já está falando em inglês. Esse menino que falava tudo errado, em um ano está falando inglês. Tem crianças que chegam aqui e nem teclar no computador sabem. Ensinamos a elas como mexer no word, no excel... Saem daqui praticamente empregadas.

Jornal da Barra: Tudo isso é feito por meio de trabalho voluntário ou você tem uma equipe auxiliando?

Sancler Mello: Temos aqui 130 pessoas voluntárias. Tem pessoas que fica o dia inteiro, outras a metade do dia, outras poucas horas. Isso vai de cada um. Tem muita gente que chegou aqui dando 15 minutos e hoje fica aqui o dia inteiro. O amor é muito bacana, pois ele se desenvolve como uma flor. Você o semeia, o rega fazendo as atividades e ele brota. É uma coisa linda, uma coisa de louco. Você abraça e beija as pessoas que você nunca pensou. O amor é salvador. Ele salva não apenas quem sente, mas quem recebe também.

Jornal da Barra: Isso tudo você faz em homenagem ao seu filho, para que ele se sentisse orgulhoso, caso estivesse aqui presente?

Sancler Mello: Mas ele está vivo vendo isso tudo aqui, ele está orgulhoso. Porque é uma vitória para ele. Dele ter conseguido que o pai, supostamente o pai dessa vida, porque ele já foi meu pai em outras duas vidas, se recuperasse das suas falhas pretéritas. Para ele, veio me ajudar a evoluir. Ele conseguiu a missão dele, que era isso. Hoje, ele vê um pai muito mais feliz do que eu era. Eu era feliz, mas não como eu sou hoje.

Jornal da Barra: Antes faltava o que para ser feliz?

Sancler Mello: Faltava o desenvolvimento desse amor. Eu amava muito ele, minha esposa, minha mãe, meu pai. Esse amor era limitado. Hoje, eu amo todo mundo. Eu não deixei de amar minha mãe, meus filhos, mas a minha família cresceu. Hoje eu amo todas pessoas.

Jornal da Barra: Como é a sua relação com a sua mulher?

Sancler Mello: Muito boa. É uma relação de amor, mas de um amor diferente. Não é mais um amor de marido e mulher. É um amor da gratidão, da amizade, porque eu transformei todo aquele amor que eu tinha, especifico, em um grande amor.

Jornal da Barra: Quando você percebeu que seu filho tinha um dom especial?

Sancler Mello: Na verdade, eu digo que o Alan é diferente. Ele era uma criança diferente das crianças da sua faixa etária. Então, o Alan sempre falou muito da questão do amor ao próximo, de amar as pessoas. Ele tinha uma vocação muito humanista de ajudar as pessoas. Como eu tinha, e tenho também, isso tudo associado à passagem dele para o mundo espiritual. Isso me fez refletir que essa vida é muito curta aqui na Terra. Que não temos muito tempo para podermos nos melhorar. A busca incessante é o nosso melhoramento, porque como a vida aqui é muito curta, e uma alma dura para sempre.

Jornal da Barra: Se você tivesse frente a frente com seu filho, que mensagem você falaria para ele?

Sancler Mello: Eu diria que ele estava certo. Quando ele desencarnou, deixou um recado para mim que dizia o seguinte: “Pai, chegará o dia em que meus irmãos serão tão amados que a humanidade será uma única família”. Então, eu diria: “Filho, você estava certo. Eu estou transformando a humanidade em uma única família. A minha família”.