Na atmosfera mais acolhedora e reconfortante do ano, um inesperado inverno gélido se abate como um choque térmico, desafiando a expectativa da época natalina. Entre corais de canções religiosas que celebram o nascimento de Cristo, "Os Rejeitados" se apresenta à audiência, despreparando-nos para a experiência que está prestes a se desdobrar.

Paul Giamatti entra em cena com a familiar aura cansada e frustrada de "Sideways – Entre umas e Outras". Imerso em um estilo de vida pouco atraente, porém prático, ele assume mais uma vez o papel de protagonista atípico, alguém que não escolheríamos, mas que nos atrai de uma maneira única.

No início dos anos 70, Paul interpreta um professor de História Antiga em um internato nos arredores de Boston. Encarregado de cuidar dos poucos alunos incapazes de passar as festas com suas famílias, ele se depara com os "Holdovers" - adolescentes de diferentes faixas etárias, oriundos de contextos financeiros privilegiados, com pouca noção da realidade externa.

A trama se desenrola, focalizando em Angus Tully (Dominic Sessa), abandonado por sua família e forçado a compartilhar suas festas com seu maior antagonista e a viúva da cantina, Mary Lamb. Neste cenário caótico, o comum se transforma em extraordinário, proporcionando a Alexander Payne a criação de uma obra linda e apaixonante.

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"Os Rejeitados" transita entre o drama e a comédia com a maestria de um contador de histórias experiente, envolvendo-nos em uma trama catártica sobre vida, crescimento, amadurecimento, solidão e família. Com protagonistas díspares, mas emocionalmente próximos, o filme celebra os "underdogs" da vida cotidiana, os que sofrem silenciosamente, os abandonados por escolhas alheias.

A direção de Alexander Payne, caracterizada por zooms rápidos e cortes secos, atinge o ápice criativo. "Os Rejeitados" é uma experiência cinematográfica inadvertida que convida a um recorte valioso da vida de três protagonistas atípicos, mas habilmente construídos e alinhavados.

Paul Giamatti, com sua performance verborrágica e cética, revela mais uma faceta de seu talento, tornando o protagonista inatrativo surpreendentemente carismático. Da'Vine Joy Randolph, como um pêndulo de humor, conecta os personagens de Paul e Angus. Dominic Sessa completa o trio como o aluno revoltado com síndrome de abandono.

Juntos, eles transformam "Os Rejeitados" em uma dramédia natalina única, onde o visco e as luzes de Natal não ditam a narrativa. O filme, realista e delicado, é uma reflexão sobre a beleza presente no feio, no soturno e no ignorado, tornando-se uma das pérolas mais valiosas de 2023.

Nota: 9,5/10