A taxa de desocupação já havia crescido em fevereiro, subindo para 11,6% e atingindo 12,3 milhões de pessoas

Por Diego Garcia/ Folhapress

O desemprego no Brasil foi a 12,2% no trimestre encerrado em março, o primeiro mês em que o país sentiu os efeitos econômicos do novo coronavírus, segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quinta-feira (30).

A taxa de desocupação já havia crescido em fevereiro, subindo para 11,6% e atingindo 12,3 milhões de pessoas. Em março, esse número saltou para 12,9 milhões de pessoas.

O registro representa uma alta de 1,3 ponto percentual na comparação com o último trimestre de 2019. São 1,2 milhão de pessoas a mais na fila por um emprego no país.

Apesar disso, a analista da pesquisa, Adriana Beringuy, apontou que o crescimento era esperado também por um fator sazonal e foi ainda menor do que o 1,7 ponto percentual da mesma época de 2017.

"O primeiro trimestre de um ano não costuma sustentar as contratações feitas no último trimestre do ano anterior. Essa alta na taxa, porém, não foi das mais elevadas", disse a analista da pesquisa.

A Pnad de março mostrou perdas em todos os setores de atividades, como indústria (2,6%), construção (6,5%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (3,5%), alojamento e alimentação (5,4%), outros serviços (4,1%) e serviços domésticos (5,9%).

As quedas em comércio, alojamento e alimentação e outros serviços, como cabeleireiros e outros prestados às famílias​, foram as maiores da série histórica desde 2012. Os setores podem ter sofrido os impactos da pandemia, com governos estaduais e municipais decretando quarentenas, e lojas, bares, restaurantes e shoppings fechados.

De acordo com o coordenador do IBGE Cimar Azeredo, os resultados da pesquisa mostram reflexos do novo coronavírus no Brasil. "Tivemos influência expressiva da Covid-19. Não temos como separar sazonalidade e efeitos da pandemia e do distanciamento social, mas de claro temos efeitos", apontou. "Alimentação não costuma ter queda nessa época, mas ela ocorreu", completou a analista Adriana Beringuy.

Segundo o IBGE, a queda no serviço doméstico também foi um recorde, assim como o recuo de 7% no emprego sem carteira assinada no setor privado. Também caíram o emprego com carteira e o por conta própria sem CNPJ.

A Pnad divulgada nesta quinta ainda registrou o maior recuo da população ocupada de toda a série histórica, reduzindo o contingente em 2,5%, equivalente a cerca de 2,3 milhões de pessoas, sendo 1,9 milhões de trabalhadores informais.

A taxa de informalidade apresentou variação e foi de 41%, no último trimestre de 2019, para 39,9% no primeiro trimestre deste ano. São 36,8 milhões de trabalhadores.

"Foi uma queda disseminada nas diversas formas de inserção do trabalhador, seja na condição de trabalhador formal ou informal", concluiu a analista da pesquisa, Adriana Beringuy.

Os informais são os trabalhadores sem carteira, os trabalhadores domésticos sem carteira, os empregadores sem CNPJ, os conta própria sem CNPJ e os trabalhadores familiares auxiliares.

Outro grupo que bateu recorde foi a força de trabalho, que subiu para 67,3 milhões, quebrando a marca desde 2012. Esse grupo é composto por pessoas que não procuram trabalho mas que não se enquadram entre os desalentados. Esses são aqueles que desistiram de procurar emprego e somaram 4,8 milhões.

"A população fora da força de trabalho já vinha crescendo, e é importante lembrar que, no primeiro trimestre de cada ano, essa população costuma aumentar, porque é um período de férias e muita gente interrompe a procura por trabalho", disse Adriana Beringuy.

Por ser uma pesquisa com periodicidade trimestral, a Pnad desta quinta apresenta números de janeiro, fevereiro e março, sendo que os dois primeiros não foram totalmente afetados pela crise econômica que se instalou no país após a chegada do novo coronavírus. Os efeitos começaram a ser sentidos apenas na segunda quinzena do mês passado.

Também reflexo da pandemia, o IBGE realizou a pesquisa pela primeira vez por telefone, com o objetivo de proteger os trabalhadores. Estava, porém, com dificuldades de ouvir os brasileiros.

O coordenador da pesquisa, Cimar Azeredo, explicou a dificuldade para fazer a coleta de dados da Pnad, que teve taxa de resposta dos entrevistados de 61,6%, bem menor do que os cerca de 88% do mês de dezembro, por exemplo.

"A pesquisa não foi desenhada para ser coletada por telefone. Ela tem um tamanho grande, e o que fizemos foi para não ficar sem nenhuma informação sobre o mercado de trabalho", disse Azeredo. Ele destacou que, com o formato atual, a pesquisa precisa ser realizada presencialmente, o que não vem sendo possível por conta da pandemia.

O IBGE, inclusive, perdeu o diretor de informática David Wu Tai, 71, que morreu nesta quarta (29) em decorrência de complicações da Covid-19. Ele estava internado desde 17 de abril na UTI da Unimed da Barra da Tijuca e trabalhou por mais de 40 anos no instituto.

Segundo Azeredo, ainda não se pode dizer até que ponto a pandemia mudou o resultado final da pesquisa. "Cada dia é um dia. Estamos fazendo de tudo para divulgar a pesquisa, isso eu posso dizer", disse.

O país vive uma espécie de apagão estatístico de emprego: os dados do Caged (sobre pessoas com carteira assinada) ainda não foram divulgados neste ano, o detalhamento do seguro-desemprego é irregular e o IBGE mudou a coleta de dados, passando a fazê-la via telefone.

Além disso, o governo afirmou que mais de 4 milhões de trabalhadores formais já tiveram o contrato de trabalho reduzido ou suspenso, com empregadores recorrendo à medida provisória do governo para tentar evitar demissões em meio à aguda crise.

O aumento do número de desocupados vem acompanhando a escalada da Covid-19 no Brasil e das medidas de fechamento de serviços não essenciais adotadas para conter a disseminação da doença.

O primeiro caso no país foi identificado em 26 de fevereiro, mas as primeiras medidas de isolamento social só começaram a ser tomadas na segunda quinzena de março.

Até a manhã desta quinta, o país soma 5.466 mortos e 78.162 infectados pelo novo coronavírus. Apenas nesta quarta (29), o país confirmou 449 novas mortes e 6.276 novos casos do novo coronavírus, mais do que no mês inteiro de março somado.