Expansão de motofaixas, limitação de velocidade e algumas proibições para motociclistas são destaques do planejamento; medidas chegarão também à Av. das Américas
Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), 69% dos atendimentos nos hospitais municipais, por ocorrências em vias públicas, são motivados por acidentes envolvendo motos. Durante o mês de maio, em comemoração à campanha Maio Amarelo - que, este ano, adota o tema: "Mobilidade Humana, Responsabilidade Humana" -, a Prefeitura do Rio apresentou um novo plano municipal de Segurança Viária, que estabelece diretrizes para garantir a proteção no trânsito, principalmente na circulação de motocicletas. As medidas foram tomadas com base em dados alarmantes de acidentes em 2024, ano que registrou o maior número de mortes desde 2008.
Alguns destaques do planejamento são: a expansão de motofaixas – que também chegam à Avenida das Américas –; a limitação de velocidade para motociclistas e a proibição de circularem em vias centrais de algumas vias cariocas; e o acordo de cooperação técnica entre empresas de aplicativos de entrega e transportes por motocicleta.
Expansão de motofaixas
Atualmente, existem motofaixas instaladas na Autoestrada Lagoa-Barra e na Avenida Rei Pelé, no Maracanã. As duas totalizam seis quilômetros de extensão, com velocidade permitida de 60 km/h.
O plano de extensão traça a implantação de 200 quilômetros de corredores exclusivos para motocicletas no Rio até 2028, mas já prevê 50 quilômetros de motofaixas, que serão implantadas gradativamente a partir de junho nos seguintes trechos:
- Avenida das Américas (trecho de 33 quilômetros), na Barra da Tijuca;
- Rua Mário Ribeiro (2 quilômetros), no Leblon;
- Avenida Borges de Medeiros (7 quilômetros), na Lagoa;
- Avenida Epitácio Pessoa (8 quilômetros), na Lagoa.
Limitação de velocidade e restrição de motos em vias importantes
O prefeito Eduardo Paes anunciou também a limitação de velocidade máxima para as motocicletas nas vias da cidade em até 60 km/h. Além disso, a proibição da circulação de motocicletas nas pistas centrais passa a valer nas Avenidas das Américas, Presidente Vargas e Brasil.
“Instalar radar e estabelecer limite de velocidade é uma política de segurança, não de multas. Temos uma média de duas mortes por dia no trânsito do Rio. É o maior número desde 2008. Isso se deve a uma série de razões, entre elas o aumento do número de motos na cidade. É inaceitável que estejamos vivendo um verdadeiro genocídio de motociclistas sem tomar uma atitude. Não dá para colocar um guarda municipal em cada esquina. Ou a sociedade compreende a gravidade do problema, ou vamos continuar perdendo vidas”, diz Paes.
As iniciativas contribuem com o lema do município para a campanha de Maio Amarelo: “Desacelere, seu bem maior é a vida”.
A CET-Rio também proíbe a circulação de motos em pistas centrais na Av. Presidente Vargas e Brasil, permitindo apenas o uso das faixas laterais por esses veículos. A Av. das Américas também será outra via com restrição: motos poderão circular apenas nas laterais, com direito ao uso da motofaixa.
Segundo o prefeito, no entanto, as vias para motocicletas são inviáveis na Av. Brasil e Presidente Vargas.
“A Presidente Vargas tem um alto número de atropelamentos. É fundamental que todos façam a sua parte”, diz Maína Celidonio, secretária municipal de Transportes.
Acordo de cooperação com aplicativos de entregas
Segundo dados apurado no estudo Plataformização e precarização do trabalho de motoristas e entregadores no Brasil, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o número de entregadores inscritos nas plataformas saltou de 56 mil para 366 mil entre 2015 e 2021, destacando um crescimento estimado em seis vezes.
No Rio, são cerca de 30 mil entregadores cadastrados apenas no iFood. O novo plano prevê um intercâmbio de informações entre os aplicativos e o município, incluindo dados sobre velocidade média, sinistros e quilômetros rodados.
Participaram da reunião também a diretora de políticas públicas do iFood, Débora Gernon, e o gerente de relações públicas e assuntos governamentais da 99, Lucas Sabino. Dentre os objetivos estão: medidas punitivas para condutores infratores; elaboração de políticas públicas para segurança viária; campanhas de educação para condutores, passageiros e clientes.
Quando e como ocorrem essas mudanças?
A proibição de circulação nas vias centrais com limite de 60 km/h tem início em junho. No entanto, o prefeito esclarece que não pretende “pegar” os condutores de surpresa. “Esse sistema vai ser implantado gradativamente, não começa amanhã, se não tiver placa, essa regra não será aplicável. Vamos fazer isso ao longo deste ano", explicou Paes.
Em relação às motofaixas, o presidente da CET-Rio também reforçou que a medida ocorrerá de forma gradativa.
"Como qualquer operação desse tipo, não vai ser de uma vez. Vamos apresentar um cronograma, mas vai ter um período de adaptação. Estamos agindo onde tem um maior número de acidentes", explicou Luís Eduardo Oliveira.
A primeira via a contar com a proibição de circulação nas pistas centrais será a Av. Presidente Vargas, no Centro do Rio, por ser o local com maior índice de acidentes.
Já na Av. das Américas, a implantação das motofaixas e a proibição da circulação nas vias centrais acontecerão de forma paralela.
Aumento de acidentes é problema de saúde pública
Em 2024, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) prestou 19 mil atendimentos a vítimas de acidentes com motos, registrando uma alta de 32% em relação ao ano anterior. A gravidade do aumento de sinistros envolvendo motociclistas é uma realidade no Rio de Janeiro e deve ser combatida com políticas públicas.
Eduardo Paes faz um apelo: “Parem de morrer” e reforça a responsabilidade da prefeitura em tomar medidas para melhorar o cenário problemático. Além disso, o prefeito admite que, além do temor pela vida de motoqueiros, a preocupação também se estende aos gastos com a saúde pública.
“Primeiro, estamos preocupados com a vida de quem anda de moto, mas também com o impacto de desrespeito a leis de trânsito e eventuais irresponsabilidades no custo da saúde pública, nós deixamos de atender pessoas com doenças que não tem como evitar para atender vítimas de algo evitável”, disse.
Daniel Soranz, secretário municipal de Saúde, apresentou dados preocupantes: No primeiro trimestre de 2025, o número de mortes no trânsito cresceu 43% em relação ao período homólogo. Os feridos aumentaram em 17%.
O secretário destaca que o acidente com motocicleta é considerado o principal problema de saúde pública no Rio. “A Secretaria de Saúde gasta 130 milhões com cirurgias de acidentes de trânsito. Quase 80% das cirurgias ortopédicas são de vítimas de acidente de trânsito. O custo de atendimento é muito alto, mas o custo maior é a vida, assim como as sequelas permanentes, temos muitas famílias enlutadas. Foram 9.686 vítimas de acidente que ocuparam a vaga de outra pessoa que poderia estar fazendo cirurgia ortopédica”, finalizou Soranz.