Candidata à presidência da OAB-RJ e moradora da Barra, advogada explica seus planos à frente da Ordem e analisa as atitudes do poder Judiciário em relação aos recentes acontecimentos políticos

Mãe de dois adolescentes e nascida no bairro do Méier, na Zona Norte do Rio, a advogada Sylvia Drummond é uma das concorrentes à vaga da presidência da OAB-RJ. Caso vença a eleição, marcada para 16 de novembro, vai se tornar a primeira mulher a comandar a seccional do Rio da Ordem dos Advogados do Brasil. Nesta entrevista, Sylvia fala sobre seus projetos para a OAB-RJ, suas opiniões sobre a advocacia e o poder Judiciário e alguns assuntos pessoais.

Por Cláudio Magnavita

Cláudio Magnavita: Sylvia, o que leva você, com 23 anos de advocacia, renomada, ser candidata à sucessão da presidência da OAB-RJ e enfrentar essa maratona eleitoral?

Sylvia Drummond: Eu vou devolver a resposta em uma pergunta. Quando eu aceitei o convite, muitas pessoas me perguntaram: “Sylvia, mas você não acha que isso é um projeto de poder”. Eu disse: “É, um projeto de poder acima de tudo, mas que vai deixar uma marca”. Eu acho que eu, uma advogada com 16 anos, mais de 23 de exercício da advocacia, eu acho que posso deixar uma marca na advocacia, de fato, fazendo algo na gestão da Ordem pelos advogados e pelas advogadas.

CM: Você já começou fazendo algo e promovendo a inclusão, permitindo, através de uma decisão judicial, que aqueles advogados que estão inadimplentes, pudessem ter o direito de votar o futuro da Ordem. Você está deixando uma marca nessa campanha, não?

SD: A inadimplência é uma situação que ninguém na verdade quer. É muito humilhante e é um fato hoje na advocacia, considerando o período difícil que vivemos, considerando o valor da anuidade, a inadimplência é muito grande. Então, como eu disse, é um projeto de poder, mas um projeto de poder que acima de tudo eu quero deixar uma marca. Optamos por uma vez homologada a chapa, nós entrarmos com uma ação de mandado de segurança com o objetivo de que fosse autorizado e que todo advogado inadimplente no dia 16 de novembro pudesse estar nas urnas exercendo seu direito ao voto. A liminar foi deferida, mas após a concessão da segurança, a OAB entrou com um recurso e essa decisão, por ora, importante que se diga, por ora, os efeitos dessa decisão estão suspensos. Deste então estamos lutando pela inclusão da advocacia nesse processo.

CM: Quais foram as alegações? Qual o contraponto da Ordem em fazer o recurso? qual o objetivo?

SD: O principal contraponto deles é que assegurar a participação dos inadimplentes nas urnas seria desprestigiar quem se esforçou para manter a anuidade em dia.

CM: Não quero entrar nesse mérito, porque eu tenho uma atuação, já fui presidente de classe e vi essa questão da inclusão, do compreender o todo. Eu gostaria de mergulhar na questão eleitoral, pois o pleito é no dia seguinte a um feriado. Isso não gera um esvaziamento do processo eleitoral?

SD: Na verdade, acho que uma série de fatores acaba resultando no esvaziamento do processo eleitoral, de forma propositada.

CM: O “já ganhou” por exemplo, atrapalha?

SD: Existe hoje um estado de arrogância. Existe um espírito de “já ganhou”, e as vezes quando você coloca a eleição após um feriado você quer manter aquele público cativo, aqueles que sempre estão ali por algum interesse, e essa mobilização que nós pretendemos. Que esse ano seja diferente. Que o advogado esteja com vontade no dia 16 de novembro de votar para que efetivamente haja uma mudança, ainda que seja o dia seguinte de um feriado. Cada voto faz muita diferença. A mobilização de todos vai fazer muita diferença. Nós podemos dizer que a insatisfação é muito grande, principalmente no interior. Viemos de um período de pandemia em que as subseções ficaram fechadas por um longo período. A realidade de alguns advogados do interior é que eles precisam da subseção para fazer um peticionamento, para usar um notebook, para ajudar no processo eletrônico, então, eu posso dizer: se existe uma ideia equivocada de uma onda de “já ganhou”, a insatisfação também é muito grande.

CM: Eu queria falar sobre essa composição de um colégio eleitoral, pois é a primeira vez que estamos vivendo uma série de representações de novas regras, questão de gênero e de raça. Como foi montar uma chapa seguindo essas normas?

SD: Eu gosto de dizer que a eleição da Ordem não é de um presidente e um vice-presidente exclusivamente, mas sim uma eleição que envolve toda a chapa. Somos cinco na diretoria além 160 conselheiros, 80 efetivos e 80 suplentes. Toda essa chapa teve que ver o critério da paridade pela primeira vez. Ou seja, 50% homens e 50% mulheres, além de 30% do total ser composta de pessoas pretas e pardas. Só que isso para nós foi um processo muito natural porque desde o inicio quando eu recebi o convite para a presidência, uma das primeiras pessoas que me apoiou é uma pessoa parda e nossa chapa é composta por mulheres. Respeitei a questão da paridade, mas muitas mulheres que fazem parte da chapa, foram as que me apoiaram lá atrás. Por isso, foi um processo absolutamente natural. Eu e a Carolina que é a minha vice presidente, nós queremos que a nossa marca seja a marca da competência, do exercício da advocacia, de entender o problema das advogadas e advogados, com essa marca de ser a primeira eleição com os critérios de paridade.

CM: Você foi vice presidente do Luciano Bandeira na Barra e esteve lado a lado com ele. Como é agora estar concorrendo contra ele?

SD: Eu fui vice no momento de criação da subseção da Barra e acumulei a função de diretora da EZA, porque eu acho que uma ordem com uma escola superior de advocacia forte é absolutamente fundamental para a capacitação do advogado, porque, capacitado, ele defende as suas prerrogativas. Mas foi justamente por estar dentro que eu optei hoje por estar fora. Não tínhamos as mesmas ideias e pensamentos em relação a gestação da ordem, então optei me afastar para fazer um projeto de construção. Então chegar hoje nessa candidatura foi um trabalho de construção na minha carreira durante esses anos.

CM: Nós temos como presidente da Ordem Nacional Felipe Santa Cruz, ex-presidente da OAB-RJ, que tem politizado a questão do projeto sucessório. Mas, apesar do Santa Cruz ter essa visão, na composição da sua chapa e na da outra, há uma pluralidade de correntes. Isso mostra um deslocamento do Rio de Janeiro ao próprio Santa Cruz?

SD: A Ordem como instituição precisa exercer uma visão política, mas não uma função partidária. As nossas pautas são exclusivamente voltadas para a advocacia, eu acredito que partidarização da ordem distanciou o advogado da OAB. Então se muitos advogados não se interessam hoje pelo pleito eleitoral do dia 16 de novembro é por conta de uma ordem partidarizada. A nossa proposta não é essa, é a Ordem pela Ordem, Advocacia pela Advocacia. A Ordem é sim uma instituição política e a sociedade precisa entender, porque hoje eu vejo que as pessoas não entendem esse papel social que a Ordem deve fazer por conta desse distanciamento partidário.

CM: Existe uma tendência perigosa que é a criminalização da advocacia. Misturar o advogado com os malfeitos de um cliente. Como você vê essa criminalização?

SD: A união da classe é muito importante nesse momento. O advogado para mostrar que o trabalho dele é melhor, ele acaba criticando o trabalho do outro e isso acaba denegrindo a imagem da classe toda. Então o advogado precisa fazer a defesa do outro colega para que a prerrogativa dos advogados não seja efetivamente violada como tem acontecido nos últimos tempos.

CM: Eu tenho colocado que o advogado é o ultimo bastião de uma sociedade civil organizada para poder se defender. Se ele cai, o que resta para a nossa sociedade?

SD: A figura do advogado não pode ser maculada e cabe ao próprio advogado zelar por isso. Porque o que vai ser capaz de melhorar a imagem que a sociedade tem do advogado? Só o outro advogado. Então eu sempre digo para que todos se juntem formem uma aliança. Não criticar o outro colega achando que isso vai fazer com que você se valorize. É, ao contrário, reflexo social que verificamos hoje mostra isso.

CM: Eu vejo que a disputa entre você e o Luciano tem uma sintonia de respeito mútuo entre os dois, diferente do que vemos em alguns casos.

SD: Exatamente, principalmente porque se eu fizesse o contrario eu estaria indo contra o que eu acabei de falar. O Luciano acima de tudo é um colega de profissão. Você concorda que se eu entrasse em uma disputa com desrespeito ao Luciano, que acima de tudo é um colega advogado, eu estaria indo contra o que eu acabei de colocar.

CM: Exatamente. E eu queria que você falasse também da qualificação do advogado. O que um jovem que entra no Direito tem que fazer para se aprimorar? Vamos pegar o seu exemplo. Qual faculdade você frequentou?

SD: Até me orgulho muito de dizer que sou advogada, mas também sou professora de processo civil. Dou aula de processo civil há muitos anos na escola de magistratura do estado do Rio de Janeiro, nas escolas do Ministério Público, na escola da Defensoria... Obviamente que estar em sala de aula e dando aula de processo civil me capacitou muito como advogada. E óbvio que entendi isso muito cedo, eu não vim de uma família de advogados. Não tome isso como uma crítica...

CM: Não, mas é muito comum isso, até também em famílias historicamente composta por militares, por exemplo.

SD: Exatamente. Mas isso pra mim é um dado, né? Eu não vim de uma família de advogados, então eu precisei entender. E como é que foi isso, né? Para falar a verdade, eu queria fazer educação física. Eu era apaixonada por educação física, mas minha mãe falou: “Não, não. Educação física, não. Você vai fazer direito”. Mas eu não queria fazer direito, eu queria educação física. Só que ela não deixou. E ali, logo no início, eu me identifiquei tamanhamente. Eu sempre gostei da leitura, eu gosto de estudar, e acho que isso é um ponto que a gente tem que trazer hoje. O estudo no direito é fundamental. Os tempos podem mudar, vai vir a tecnologia, e a forma de estudo vai mudar, claro. Eu comecei dando aula no quadro de giz, hoje eu dou aula pelos aplicativos. Então, quer dizer, a forma mudou, mas esse apreço pelos estudos, pelo direito, precisa ter.

CM: Então sua mãe disse: “Não, vai ser doutora!”. E aí?

SD: E aí que eu logo comecei a me apaixonar, obviamente esse é um conselho que eu dou hoje para os novos advogados: há necessidade de uma especialização. Tem que pensar em quê você quer ser especialista. A tendência do advogado iniciante é querer fazer um pouquinho de cada coisa, achando que isso vai dar uma captação. Mas não vai dar uma captação. Você precisa ser identificado como um profissional especialista em alguma coisa. Isso é fundamental. Lamentavelmente, hoje, as universidades despejam no mercado profissionais não habilitados para o exercício da advocacia porque muito são estimulados ao concurso público no decorrer da faculdade.

CM: Já que nós estamos aqui num papo de confidências, vou contar uma. Em 1979, eu acho, ou até um pouquinho antes, fiz meu primeiro vestibular para a Universidade Federal da Bahia e passei na faculdade de direito, que era tida como a grande casa do professor Orlando Gomes e de muitos mestres do direito. E eu comecei a fazer, mas já atuava como jornalista. Fiz dois anos e meio de direito, que me ajudaram a entender muitos documentos desse meio, como repórter forense e tal. E como questionava muito, porque a questão da mente do jornalista é questionar, o professor Pastorinho disse que eu deveria focar mais no jornalismo. Disse que ou eu seria jornalista ou seria legislador, porque eu questionava tudo. Então, eu mudei meu curso para comunicação e meu pai disse: “Vai fazer comunicação e vai ser doutor de quê?”. Para você ver, como o direito tem esse endeusamento.

SD: E hoje eu preciso dizer que agradeço minha mãe. Aliás, eu já agradeço a minha mãe há muito tempo.

CM: E qual o nome dela?

SD: Shaina. É um nome diferente também, né?

CM: Falando em nome, qual o seu nome completo? Você deve ser única na Ordem, não?

SD: Então vamos lá, qual o meu nome completo [risos]. Eu sou uma pessoa que não tem homônimo. Meu nome é Sylvia Drumond Rhaddour Bravin Greth. Não tem outra pessoa.

CM: O seu pai é alemão?

SD: Eu sou neta de sírio. E o meu marido é neto de alemão, aí deu essa mistura.

CM: Agora, Sylvia, eu queria falar também sobre a questão do cenário nacional voltado ao que está ocorrendo no Brasil e no mundo, em relação, à insegurança jurídica, à inexistência do contrato, do que está escrito. Às vezes, a gente brinca que, no jogo do bicho, o que está escrito na cartela tem muito mais valor do que contratos e algumas leis que precisam ser cumpridas. Como que você vê essa questão de ter que estabilizar os macros jurídicos e, sobretudo, de um STF julgar e não legislar?

SD: Você vai entender a comparação que eu vou fazer. Eu sou mãe de dois meninos, o que não é fácil. Um tem 12 anos e o outro tem 14, então é uma idade em que as regras precisam existir. E essas regras precisam ser muito definidas. Então, o pensamento que eu tenho hoje é que há uma tendência. Inicialmente, se achava que era uma tendência muito do brasileiro, mas hoje eu vejo que não, do desrespeito à regra. Nós precisamos entender que a partir do momento que há uma regra, a regra precisa ser cumprida. O respeito à regra torna a sociedade mais saudável. Óbvio que quando a regra é ruim, nós precisamos rever a regra...

CM: Mas aí entra no mérito da interpretação que eu perguntei: STF em vez de julgar, legisla?

SD: Isso que eu digo. O respeito ao processo legislativo e a cada uma das casas, eu penso que é fundamental para a democracia. Cada um tem que exercer sua função.

CM: E aquele conceito que eu cunhei de chamar de santíssima trindade, porque hoje você tem um STF que investiga, vitima e vai julgar. Isso não é uma medusa?

SD: Ele é autor, vai julgar, conduz o processo... Você concorda que isso desestabiliza a sociedade como um todo? Isso gera na sociedade uma falta de credibilidade aos poderes. A partir do momento em que cada um dos poderes é muito bem definido, a sociedade passa a respeitá-los.

CM: E nesse caso eu incluo aí uma crítica pesada à Ordem dos Advogados do Brasil pela omissão na questão da censura. Como quem tem sido censurado são pessoas de direita, que interessam politicamente ao então presidente da Ordem, o Santa Cruz, é um silêncio mortal. Você não acha que a OAB deveria estar mais veemente na defesa da liberdade de expressão?

SD: Você concorda que isso cai um pouquinho com o que eu disse antes? A Ordem tem uma função político-social. O presidente da Ordem, como presidente da Ordem, não pode confundir opiniões pessoais acerca de determinadas questões com a função da OAB diante da tal questão. Então, sempre que um presidente da OAB se pronunciar, ele tem que se pronunciar como presidente da OAB. E dependendo da questão sobre a qual ele irá se pronunciar, tem que haver uma consulta. Eu tenho que traduzir o pensamento da advocacia e não o pensamento pessoal como cidadã. Essa é a diferença que nós precisamos fazer.

CM: Eu queria falar agora sobre o Judiciário, já que é professora da Emerj, tem uma qualificação altíssima da nova geração de juízes. Eu senti que melhorou muito e tem muita mulher entrando no Judiciário. A mulher dá uma boa juíza, não?

SD: Apesar de estar na advocacia, eu vou ter um carinho enorme, porque, como eu disse aqui, eu dou aula de magistratura no Ministério Público há 18 anos. E obviamente tem muitas posses que eu estou lá abraçando meus alunos e alunas, chorando junto, porque é uma carreira e um sonho. Um sonho que passa por um processo que não é fácil, é um processo difícil, e concordo com você que o nível de capacitação aumentou muito nos últimos anos. Mas acho que a gente vê isso como uma forma salutar.

CM: Eu publiquei, no Correio da Manhã, uma capa sobre a posse do desembargador Henrique Figueira como presidente do TJ, ao lado de desembargadoras. E quando teve a questão do Tribunal Especial Misto, você viu a belíssima atuação das nossas desembargadoras. Dá orgulho ver a mulher ocupando esse papel de protagonismo no judiciário?

SD: Então, eu sempre digo que é até uma tendência social da mulher sentir um pouco de medo de ocupar os cargos de poder. Isso é uma questão social, isso é um fato. Então foi até uma das primeiras perguntas que as pessoas me fizeram. Você não tem medo de se atirar numa eleição da OAB? O medo não pode nos dominar. Então é justamente afastar esse medo que tem feito com que a mulher ocupe mais espaços de poder. E obviamente que eu sempre vou olhar isso com uma dose de orgulho muito especial.

CM: Eu também dei uma nota sobre a tendência atual de se prorrogar a escolha do quinto, porque temos três vagas de indicados da OAB que serão votados pelo colégio, deixar para que a nova diretoria eleita. Você concorda com isso? Aliás, explica o que venha a ser o quinto constitucional e seu processo?

SD: Então, o que é o Quinto Constitucional? Eu acho que é natural que muitos não saibam exatamente o que é isso, então vou colocar de forma simples. 1/5 das vagas dos tribunais vem de indicação inicial da Ordem. Então é um ponto que a gente precisa deixar claro. Não é uma escolha da OAB, de um advogado que ocupará uma vaga no tribunal, isso é um processo. Então os escolhidos passam por uma lista que será encaminhada ao Conselho da Ordem dos Advogados. Então ali nós temos uma primeira votação. Depois vai ao tribunal. E são seis. Desses seis que vão ao Conselho da Ordem, vão sobrar três. Esses três vão ao tribunal para que chegue nas mãos do governador. Então, quando a gente fala no quinto constitucional, pode dar a falsa ideia de que seria uma escolha exclusiva da Ordem. E não é, é um processo. Então obviamente quem vota, hoje, no Quinto Constitucional, claro, inicialmente os conselheiros. Como eu disse aqui, a eleição da Ordem não é uma eleição de um presidente ou de um vice-presidente, é uma eleição de chapa. Então são esses conselheiros que votam nessas três vagas que existem.

CM: Então, diretamente, quem tiver eleito vai estar podendo opinar nessa lista. Você concorda, hoje, que se espere? Que o tribunal espere, já que são três vagas para que a nova gestão decida?

SD: Claro, para que quem for eleito que faça a escolha.

CM: Inclusive, o seu oponente, Luciano, muda muito a composição. Algumas pessoas estão com a sensação de conforto acabam se surpreendendo.

SD: Até porque, como eu expliquei, o processo não pode ser uma promessa de quem venha a ser presidente da Ordem, porque a escolha não vem exclusivamente dele. Isso é bom deixar bem claro.

CM: Agora, eu tenho uma curiosidade. Toda quinta-feira você está indo para o interior e nós estamos falando para a Região Serrana. Quais são os planos para Petrópolis, Teresópolis e Friburgo?

SD: Não é um processo que começou agora. Vem desde 2017, 2018... Quem me acompanha sabe que eu já vinha estando muito próxima das subseções. Óbvio que, inicialmente, como eu dou aula de processo civil, nada melhor que poder ajudar os colegas e advogados com a capacitação. Então eu vim fazendo palestras. Eu não cobro por essas palestras. Palestra pra advogado, se é pra capacitar, já era algo que eu fazia. Sem ser pra campanha. Eu fazia porque eu acredito que se recebi tanta coisa boa da advocacia, eu preciso devolver para a advocacia tudo que eu recebi de bom nesses anos todos.

CM: Agora, de alguma forma, essa imersão sua disciplinada para o interior, muda um pouco a percepção? É um aprendizado?

SD: Muda muito. É um aprendizado muito grande. Visitar as subseções do interior é um aprendizado. Os problemas e as questões dos advogados que estão aqui nos escritórios da capital, principalmente nos grandes escritórios de advocacia, não são os mesmos problemas dos advogados do interior. Por exemplo, eu já tive algumas questões com alguns juízes aqui da capital. Prontamente, quando eu entendi que era necessário, eu fui lá e entrei com uma representação. Para o advogado do interior, é necessário entender que isso aqui é só um dos pontos que eu estou trazendo, é muito difícil. Porque muitas vezes é um juízo único, é o mesmo juiz que está ali há muito tempo, que ele vai passar ali muito do dia ali com aquele juiz, fazendo audiência, despachando. Então são questões próprias do interior. Então, uma outra questão que eu trouxe aqui sobre falar hoje do peticionamento eletrônico. De repente, para mim, para quem está lá no escritório, para alguns que estão nos ouvindo, fazer um peticionamento eletrônico é muito simples, mas nem todo advogado acha tão simples assim. Nem todo advogado tem um acesso à tecnologia tão fácil como nós temos.

CM: Está aí aquela necessidade da seccional suprir essa estrutura?

SD: Exatamente! E eu ainda vou um pouco mais além, por exemplo, em uma subseção da Ordem no interior... às vezes para uma mulher vítima de violência doméstica chegar em uma delegacia no interior pode ser constrangedor. A subseção da Ordem pode ser o primeiro canal de atendimento dela e após o apoio, “vamos direcionar para o judiciário, para delegacia”. Ela já vai acompanhada por um representante da Ordem.

CM: Então a Sylvia Drummond que sair dessa campanha será completamente diferente daquela que entrou?

SD: Certamente, independentemente de qualquer resultado eu quero que os advogados e as advogadas me vejam como alguém que sempre lutou. E não estou lutando agora, quem me acompanha sabe que eu tenho uma luta há muitos anos pela valorização da advocacia.

CM: Eu tomei um susto quando cheguei à redação, você estava com um grupo. É uma tropa que você está tendo, certo?

SD: É uma tropa fiel, e muitos já tiveram essa experiência que é uma tropa fiel comigo. Isso é algo de que eu me orgulho de carregar, pessoas que me cercam há muitos anos e que têm um grau de fidelidade muito grande. Obvio que isso é sempre uma troca e, volto a dizer, me orgulho muito de ter essa tropa fiel junto a mim.

CM: Nós estamos entrando na reta final da entrevista, mas eu queria pedir a sua visão do Ministério Público do Rio de Janeiro hoje.

SD: Eu posso dizer que eu tenho um carinho especial pelo Ministério Público, acabei de dizer aqui que eu sou professora de ambas as escolas do MP. Eu penso que a função do órgão é indispensável dentro de uma sociedade, obvio que sempre que falamos de uma instituição sempre vão existir algumas deficiências. A tendência é sempre apontar mais o ponto negativo do que o ponto positivo, claro, isso é natural, mas penso que o trabalho do MP dentro de uma sociedade é indispensável.

CM: Você tem um bom relacionamento com o Luciano Mattos?

SD: Eu na verdade não tenho relacionamento próximo, é um relacionamento com um outro.

CM: E o Henrique Figueira? Outro dia publiquei na coluna uma foto em que o nosso desembargador entrou em uma fila, eu estava acompanhando uma visita ao Museu da Justiça, e ele ia se vacinar. Chegaram seguranças e falaram para ele passar à frente e respondeu que não. Essas atitudes emblemáticas são simples, mas são de uma grandeza de caráter.

SD: Sim, e óbvio que a OAB tem que estar próxima de todas essas instituições. Se uma das minhas pautas é buscar, lutar, pela mudança na forma, por exemplo, do recolhimento de custos hoje no TJ-RJ, tem que haver proximidades. Se uma das pautas é uma maior fiscalização da gratuidade, pela Defensoria, principalmente no interior, pois muitas das vezes a Defensoria acaba absorvendo demandas que não caberia a ela e que poderia estar no advogado. Então, essa fiscalização é importante, logo a aproximação do presidente da Ordem com o Judiciário, com a Defensoria, com o Ministério Público, é fundamental.

CM: Como é que está você com relação das seccionais, está se mantendo distante? Você é Chapa Dois, certo?

SD: Chapa Dois na seccional, aliás são pontos super importantes para a gente esclarecer. No dia 16 de novembro, vamos votar aqui no Rio de Janeiro nas eleições da Seccional e nas Subseções. Paralelamente, em todo o Brasil, nós também vamos ter as eleições nas OABs dos respectivos estados. Importante deixar registrado que em muitos estados do país, temos mulheres concorrendo à presidência, como, por exemplo, São Paulo e no Distrito Federal. Isso tem sido um movimento em todo o país.

CM: Sylvia, eu quero agora, na reta final, fazer um pingue-pongue. Qual é o seu grande momento, aquele inesquecível, na advocacia?

SD: O Encontro Nacional da Jovem Advocacia, eu quando comecei a falar, comecei a me ver milhares de pessoas no Armazém em Tupi, no Cais do Porto, pegando cadeira e colocando na cabeça. Milhares de jovens advogados, eu tenho essa foto até hoje em minha rede social e é possível que algum esteja nos assistindo e diga: eu estava lá! Esse é um dos grandes momentos da minha carreira.

CM: Algo a lamentar que tenha ocorrido em sua vida profissional?

SD: Eu sou meio esquecida para essas coisas, eu não fico lembrando muito. Não sei dizer, vou largando essas coisas para trás.

CM: Um sonho?

SD: Muitos ainda! Principalmente de ajudar as mulheres a acreditar que elas podem. A chegar em espaços de poder e para com isso, estimular outras mulheres.

CM: Você vai influenciar seus filhos na carreira jurídica?

SD: Não. Um deles joga futebol na base do Botafogo e o outro o meu marido disse que vai ser comentarista de futebol, porque ele é mais falante como eu. Mas não quero influenciar nisso.

CM: O seu marido, qual é a atividade dele?

SD: Advogado também, para poder me aguentar.

CM: Como vocês se conheceram?

SD: Ele era meu coordenador, no lugar que eu dava aula. Para aguentar uma advogada que fala muito, só outro advogado.

CM: Qual o seu signo?

SD: Touro com ascendente em escorpião, vamos ficar amigos a partir de hoje.

CM: Muito obrigado e eu queria agora finalizar com a Sylvia Drummond falando da Sylvia Drummond.

SD: Na verdade, acredito muito nas coisas que eu quero, deposito muito tudo o que eu quero, sou guerreira, gosto de gente junto, gosto de mostrar que quando nos unimos somos capazes de transformar e essa força que eu quero levar para as urnas no dia 16 de novembro.

CM: Eu vou franquear uma coisa, já que estamos em processo eleitora e se o Luciano vier aqui, vou fazer a mesma coisa. Um minuto para você falar diretamente com o seu eleitor.

SD: Eu acho que nós vivemos hoje um momento histórico que muitos podem participar que é justamente esse momento de mudança. De olhar e dizer que você pode participar comigo de um momento histórico, de mudança, de verdadeira valorização da advocacia. Então é no dia 16 de novembro, essa possibilidade de transformação. Acordem nesse dia não dizendo assim “tenho que ir lá na Ordem votar”, acordem querendo exercer o seu direito democrático ao voto, que é a partir dele que a mudança vem.

CM: Sylvia, muito obrigado, tenho muito respeito pela categoria que você representa. Muito respeito pelas pessoas que saem do seu conforto e procurem se dar um pouco, ou retribuir um pouco, o que uma carreira deu para essa própria pessoa. Acho importante esse ativismo, essa participação. É com prazer que recebemos você aqui hoje, na estreia de um primeiro programa gravado especialmente para a TV Correio, falando diretamente para a nossa Região Serrana, para o nosso interior.