Audiência pública propôs soluções para conflitos acerca do espaço compartilhado por barraqueiros e praticantes de esportes

 

 

O cartão postal do Rio de Janeiro tem sido uma área disputada entre os cariocas. A organização das praias foi o tema da última audiência pública, que aconteceu na terça-feira (8), com enfoque em soluções para o impasse entre o uso do espaço por donos de barracas e praticantes de esportes. O debate foi realizado pela Comissão de Segurança Pública, presidida pelo vereador Dr. Rogerio Amorim, do PTB. 

Disputada de segunda a segunda, a praia é um ambiente importante para barraqueiros, banhistas e esportistas do vôlei, futevôlei, beach tennis, entre outras práticas. De acordo com Anna Laura Monteiro Valente, secretária executiva da Secretaria Municipal de Esportes, a Prefeitura já emitiu 402 alvarás para atividades esportivas, sendo 200 para a Zona Sul, 150 para Recreio e Barra, 20 para Ilha do Governador e 15 para Tijuca, para a prática nas praças. 

Como representante do secretário Guilherme Schleder, Anna frisou que, ao emitir os alvarás, o objetivo da pasta foi organizar a prática de esportes na orla carioca que, até então, segundo ela, estava sem controle nas praias. “A intenção não é tirar os barraqueiros de seus espaços, mas sentar e conversar com quem se sente prejudicado. Precisamos estar todos em harmonia porque a praia é uma área de lazer, e temos o privilégio de usufruí-la sem custos”, reforçou. 

Apesar de compreender a reclamação dos barraqueiros, Anna Valente também observa que a prática esportiva é também geradora de renda e empregos. Até o momento, foram criados 100 empregos diretos e indiretos, que atendem cerca de 20 mil cariocas. 

(Foto: Divulgação)

A reclamação de um dos barraqueiros presentes à audiência foi a respeito do loteamento de vagas disponibilizadas nas redes. Apesar de a subsecretária ter informado que a Prefeitura concede alvará para apenas um CPF, os donos de estabelecimentos denunciaram que há um uso abusivo das autoridades por diversos profissionais nas mesmas redes. Eles também revelaram que as atividades esportivas estão sendo realizadas nos finais de semana, apesar de os alvarás serem válidos apenas de segunda a sexta-feira. “Nós somos os maiores operadores das praias e também geramos empregos e renda. Os esportistas são super bem-vindos. Nós amamos o esporte, mas precisamos de um plano robusto e de respeito por parte da Prefeitura, que acaba nos colocando numa rota de colisão”, disse Cristiane Pires, uma das representantes dos barraqueiros.

O presidente da Associação de Barraqueiros do Recreio dos Bandeirantes, Alex Alvarenga, ainda denunciou a falta de fiscalização para o uso da areia pelos profissionais do esporte. “Quais são as regras que estão nessas licenças? Quais os dias e horários de funcionamento? Podem deixar os módulos de esporte dia e noite na praia montadas?”, indagou. Segundo ele, os barraqueiros foram proibidos de deixar montadas as barracas depois das 20 horas.

 

O outro lado

Os profissionais do esporte também foram representados na audiência pública. Augusto dos Santos, proprietário de uma escola de vôlei de praia há 20 anos, explica que o conflito entre barraqueiros e esportistas teve início quando as escolas de futevôlei e beach tennis receberam autorização para funcionar, pois estas não precisam de profissionais formados para dar aula. “Nós, profissionais do vôlei de praia, temos que ser formados e com curso na Confederação Brasileira de Voleibol para ministrar nossas aulas. Já com esse boom de aumento de futevôlei e beach tennis, com professores que não são formados, os atritos começaram”, revelou.

 

(Foto: Divulgação)

Já Matheus Goulart, que tem uma escolinha de futevôlei há um ano, conta que tem uma boa convivência com os donos de barracas da orla, e se colocou disponível para participar de reuniões, entender melhor a situação e se adequar para não prejudicar quem está há mais tempo na área. “Com a delimitação de regras é possível ter uma boa relação com as barracas. Se a gente conseguir conviver em sintonia, será um ganha a ganha para todos”, explica. 

O vereador Dr. Rogerio Amorim acredita que as atividades esportivas são fundamentais para a cidade, mas é importante estabelecer uma organização e fiscalização por parte da Prefeitura do Rio. “Sem dúvida há um crescimento exponencial dos projetos esportivos nas praias do Rio, por quase toda orla a qualquer horário do dia. Mas há um clamor da sociedade, em especial dos barraqueiros. Em muitos pontos há uma impressão que não há mais espaço para estes profissionais e para os banhistas”, destacou o parlamentar.

A subsecretária Anna Laura prometeu criar um grupo de trabalho, com representantes das secretarias de Esporte e Ordem Pública, dos barraqueiros e profissionais do esporte para a reorganização dos espaços comuns. O agrupamento também deverá contar com a participação da Comissão de Segurança Pública da Casa Legislativa. “Iremos enviar alguns requerimentos de informações para saber sobre a fiscalização das redes, sobre o loteamento de vagas e sobre os alvarás. A desordem retira receitas, afugenta o turista, o morador e o investidor. A praia virou um local de conflito, e ela tem que continuar sendo um espaço democrático para os banhistas, para os esportistas e para os barraqueiros”, conclui o vereador Amorim.