População do bairro relata o medo em meio ao confronto de milícia e tráfico  

 

 

Dias tranquilos em Vargem Grande já são antigas lembranças para os moradores da região. Devido aos conflitos entre milícia e tráfico, a população sente o impacto da violência na rotina do bairro, que já registra casos de sequestro relâmpago, roubos, tiroteios e assassinatos. 

Um caso recente foi a morte de um homem, no dia 6 de abril, no local conhecido como “Pombo Sem Asa”, comunidade da região. A vítima estava dentro do carro quando criminosos chegaram em outro automóvel e dispararam tiros de fuzis contra o motorista, que não teve sua identidade revelada. Ao menos 30 cápsulas deflagradas foram recolhidas durante a perícia da Delegacia de Homicídios. 

Horas antes do assassinato, um empresário foi rendido por quatro homens. Os assaltantes entraram no condomínio do homem, onde morava com a esposa e a filha. Os criminosos roubaram celulares, jóias e dinheiro, assim como espancaram e proferiram golpes de faca no trabalhador, que foi socorrido pelo Hospital Lourenço Jorge e não corre risco de morte. 

“Sinto a minha liberdade ameaçada. O medo virou rotina por aqui”, conta uma moradora de Vargem Grande. A jovem mora há 20 anos no bairro e tem acompanhado de perto as situações violentas da guerra entre os grupos criminosos. “Vargens sempre foi conhecida por ser um bairro tranquilo. Ter que encarar essa triste realidade afeta diretamente a minha segurança ao sair de casa. Sempre tenho que estar atenta”, afirma. 

Além disso, sequestros são registrados continuamente ao longo da região. A residente afirma que os ataques não têm horários fixos, portanto variam desde o raiar do dia até a madrugada. “Já teve às sete horas da manhã e também às sete da noite. São horários e lugares aleatórios, onde e quando a vítima menos espera”, diz. 

O clima de terror se intensificou após o suposto aviso de toque de recolher, anunciado pelos traficantes do bairro. A informação foi compartilhada pelos aplicativos de mensagens e disseminada entre os moradores da região. A jovem natural de Vargem Grande recebeu a notícia quando estava em uma van à caminho da Barra da Tijuca, para um compromisso. Assim que percebeu a urgência de voltar para a casa antes do toque de recolher, desceu do transporte imediatamente e retornou. “Foi um terror, muitas pessoas assustadas e saindo do trabalho correndo para evitar a rua durante o toque de recolher às 20h daquele dia”, relata. 

Ao refletir sobre o fim da paz da população de Vargem Grande, outra moradora diz que a comunidade da área está totalmente largada. “Os bandidos vêm e fazem. Nada é feito por Vargem Grande”, completa. 

Em meio ao medo e constante estado de alerta, o reforço policial é perceptível, através da presença de carros blindados e patrulhas no local. “Em cada canto das Vargens há policiamento ativo. Recebi fotos de moradores registrando um ‘caveirão’ em Vargem Grande. Chocante e assustador, para uma área que sempre foi tranquila”, diz a estudante, que se refere ao carro utilizado pela Polícia Militar do Rio de Janeiro em incursões de áreas de risco. 

Para o reforço de medidas de segurança, a Subprefeitura da Barra, que cobre a área do Recreio dos Bandeirantes e Vargens, informa que tem realizado diversas ações conjuntas com os órgãos de segurança, fiscalização e ordenamento urbano. O Subprefeito, Raphael Lima, também participa de todas as reuniões do Conselho Comunitário de Segurança (31º CCS), e mantém comunicação direta e interação total com a Polícia Militar e o Programa Segurança Presente.