Com estúdios bem equipados, o bairro concentra um número crescente de atrações na região 

 

 

Conteúdo em áudio, que pode ser apreciado a qualquer momento, como os podcasts, é algo já bem conhecido. No entanto, uma evolução desse formato, conhecida como videocast, está ganhando espaço. Diferentemente dos podcasts tradicionais, o videocast incorpora elementos visuais, criando um ambiente de produção mais imersivo. A Barra da Tijuca, com seus estúdios bem equipados e preços mais acessíveis em comparação com a Zona Sul, está se tornando o epicentro dessa crescente tendência, atraindo cada vez mais produtores.

Um dos videocasts mais recentes é o "Ser artista" (@serartistaoficial), que foi lançado em junho e é gravado em um estúdio no bloco 22 do Downtown. O programa é apresentado por Marcus Montenegro, um empresário renomado no mundo dos atores, e traz figuras de destaque no universo da televisão, teatro e cinema como convidados. Com uma estreia que contou com a entrevistada Nathália Timberg, o programa se destaca por revelar histórias e aspectos inéditos dos artistas, muitas vezes não divulgados na mídia.

“Tenho 35 anos de carreira e já produzi mais de cem peças. Em 2018, montei a Montenegro Talent, voltada para agenciamento artístico, e uma palestra sobre como construir uma carreira sólida, que em 2020 virou o livro “Ser artista” e teve participação de 30 personalidades, Daí tive a ideia de criar produtos derivados, como o programa, que é dedicado a arte, educação, cultura e formação”, contou Montenegro, morador da Barra. “O convidado sempre fala sobre sua história e principais trabalhos. E, como tenho intimidade com a maioria, boa parte do que contam nunca saiu na imprensa”.

Com uma decoração que inclui cortinas de veludo vermelhas, máscaras gregas e uma iluminação especial, o estúdio proporciona uma atmosfera teatral para as entrevistas.

“É como se fosse um programa de TV gravado dentro de um teatro”, define o apresentador. “Acho que a Barra hoje tem um volume de estúdios maior que o de outros bairros, ofertando boa infraestrutura técnica e logística, com a praticidade, por exemplo, de estacionamentos e restaurantes por perto, como no Downtown. Isso é um conforto para equipe e convidados”.

Outro entusiasta do videocast na Barra da Tijuca é o jornalista Eduardo Tchao (@eduardotchao), que lançou o Canal do Tchao no YouTube em maio. Seu programa recebe especialistas, autoridades e outros profissionais ligados à segurança pública, proporcionando um espaço para debater questões importantes.

Canal do Tchao. (Foto: Divulgação)

“Comecei a pesquisar e a observar que havia muita sala disponível na Barra e com preços mais justos. Resolvi então levar o programa para o GeralPod, um espaço que tem mais a ver com o formato jornalístico. Semana passada, fiz minha estreia no estúdio de vidro do shopping e achei a estrutura de primeiro mundo”, relata Tchao. “Recebo pessoas de direita e de esquerda, não importa o lado. Minha proposta é debater segurança pública. Minha convidada para meu primeiro programa gravado no MultiStudios foi a atriz Cristiane Machado, que virou ativista da causa da violência contra a mulher e chegou a sofrer cárcere privado do ex-marido”.

Além disso, o MultiStudios, um estúdio de vidro para gravação de podcasts inaugurado recentemente no ParkJacarepaguá, está se tornando uma opção popular para os produtores. Diversos programas estão sendo gravados lá, como o "Tudo sobre mim: a mãe!" (@tudosobremimamae), que explora a maternidade com a participação de personalidades e especialistas.

“Trabalhei por dez anos na RBS. A maternidade veio de forma avassaladora e isso despertou o interesse de discutir o tema. O objetivo principal é falar sobre como nos sentimos no papel de mãe e sobre a mulher que nasceu em nós com a maternidade. Quem é essa mulher que lida com essa nova estrutura de vida, com filhos? Tratamos de temáticas diversas, como puerpério e carreira. Cada temporada tem um foco. Esta é sobre saúde mental e física da mãe”, conta Shana. “Está sendo uma experiência bem legal ter as pessoas acompanhando do lado de fora enquanto a gente grava. Alguns acenam para os seus ídolos e querem tirar fotos, e os convidados vão interagir com elas ao fim da gravação. Assim, desmistificamos a distância entre nós e os espectadores. É algo diferente, porque normalmente gravamos em estúdio fechado”.

Outra atração planejada para o MultiStudios é o "Tourocast", um podcast sobre artes marciais que será comandado pelo ex-lutador do UFC, Rogério Minotouro. A energia única do estúdio de vidro cria um ambiente envolvente e permite que a audiência participe da gravação.

Tourocast. (Foto: Divulgação)

“Foi muito bacana gravar aqui no ParkJacarepaguá, num estúdio que é um aquário, na Praça de Alimentação. As pessoas passam, ficam curiosas e assim. Teve gente até batendo no vidro (risos). É bacana porque dá para sentir essa energia da galera. Fiquei super à vontade, principalmente porque tive ajuda da casca grossa campeã Juliana”, disse o apresentador Minotouro.

Estúdio registra mais que o dobro de aumento nos programas

A tendência dos videocasts na Barra da Tijuca é impulsionada pela presença de estúdios bem equipados e preços acessíveis em comparação com outras áreas do Rio. Isso tem atraído uma variedade de produtores e personalidades para a região, que estão encontrando na Barra da Tijuca a infraestrutura e a conveniência necessárias para produzir conteúdo de qualidade.

A EstudiosBK, uma central de podcasts que abriu na Barra em 2021, testemunha essa febre de videocasts na região. Inicialmente, eles contavam com 20 programas, mas a alta demanda levou à expansão, com a incorporação de mais estúdios e equipamentos para atender cerca de 50 programas atualmente.

A Positividade FM, localizada na Barra da Tijuca, também entrou no mundo dos podcasts este ano, com programas que incluem a participação de moradores da região. Um desses programas é o PositiviCast Conexões, focado no bem-estar e autoconhecimento, que estreou em agosto. A apresentadora, Rosane Ventura (@rosaneventuraa), que reside em Jacarepaguá, destaca a abordagem do programa em tornar conceitos de bem-estar mais acessíveis e práticos para todos os espectadores.

O programa se dedica a oferecer não apenas mensagens positivas, mas também demonstrar como as técnicas podem ser incorporadas no cotidiano para melhorar o bem-estar. Rosane compartilha técnicas de respiração que podem ser praticadas enquanto as pessoas realizam tarefas comuns, como lavar a louça ou esperar no ponto de ônibus. A ideia é democratizar essas práticas, tornando-as relevantes para pessoas de diferentes classes sociais.

Ela enfatiza que o autoconhecimento muitas vezes é visto como algo acessível apenas para aqueles com maior poder aquisitivo, enquanto pessoas em situações de vulnerabilidade social podem enfrentar desafios relacionados à saúde mental, como depressão e ansiedade. O PositiviCast Conexões busca quebrar essa barreira, tornando o bem-estar e o autoconhecimento disponíveis para um público mais amplo, independentemente de sua situação econômica.

Nessa empreitada, a apresentadora conta com o apoio de especialistas, líderes espirituais e convidados que já passaram por experiências de rotina estressante e conseguiram superá-las, como é o caso de Rosane.

Positividade. (Foto: Divulgação)

Rosane compartilha sua própria jornada, explicando que trabalhou por duas décadas como executiva na área de marketing, chegando até a ocupar a posição de diretora de marketing e comunicação da Riotur. Durante esse período, enfrentou longas jornadas de trabalho em grandes eventos e, antes de completar 30 anos, enfrentou várias crises de burnout, ansiedade e pânico. Para recuperar sua saúde, ela começou a adotar práticas ancestrais, como ioga, meditação e mindfulness. Inicialmente, sua intenção não era trabalhar com essas práticas, mas a pandemia trouxe mudanças em sua vida. Com o início do lockdown, altos executivos que a conheciam passaram a procurá-la em busca de ajuda. A partir desse momento, Rosane começou a compartilhar suas práticas terapêuticas, incluindo a ioga, com empresas e indivíduos. Nos últimos três anos, sua dedicação tem sido viver de acordo com seu novo estilo de vida e compartilhá-lo com outros, promovendo o bem-estar e o autoconhecimento.

Ela conta que tem observado a alta dos videocasts na região: “Como uma pessoa do mercado de negócios, percebo que, quando se fala de Zona Sul, o estúdio é mais caro. Eu gravo na rádio, mas muitas pessoas que estão apostando nessa área precisam fazer um investimento de grana num espaço para gravar. E locais mais em conta saem na frente”, avalia.

Outro morador do bairro que lançou programa recentemente na emissora foi o empresário da música e surfista Ricardo Chantilly (@ricardochantilly), que, desde março, comanda o “Positive surf — Gigantes de Nazaré” , ao lado da jornalista Bianca Medeiros (biancamedeiros). Basicamente, a atração, que vai ao ar aos domingos, às 20h, no YouTube, trata do estilo de vida ligado ao esporte, recebendo atletas, profissionais do ramo e personalidades que têm a modalidade como hobby.

“Nosso propósito é falar dos benefícios do surfe como esporte, lazer e ferramenta de mudança de hábito. Levamos todo mundo que tem a ver com a modalidade. Já fiz entrevistas a Dani Suzuki, que é atriz e surfista, o Papatinho, que é da música e pega onda, e os surfistas Carlos Burle, Rico de Souza e Alemão de Maresias. Temos um quadro que se chama ‘Surfista de terno’, com executivos que contam como o esporte transformou o dia a dia deles”.

Tudo Mãe. (Foto: Divulgação)

Ele conta que o convite para apresentar o programa veio após ele trazer a banda de surf music Hoodoo Gurus para uma nova turnê no Brasil, no início do ano.

“Nos anos 1990, eu apresentei um programa de surfe e rock na extinta Rádio Fluminense, após ter conhecido de perto bandas australianas de sucesso, como a Hoodoo Gurus. Com a vinda do grupo ao Brasil, fui convidado para reeditar o programa. Sempre foi um desejo voltar a apresentar. Estou muito feliz”, diz o empresário. “A vantagem nesse novo formato é que você pode se aprofundar mais nas entrevistas, porque tem mais tempo, e tratar de outros temas. Há duas semanas, entrevistamos Érica Prado, jornalista e surfista negra, e abordamos o racismo”.

Em suma, a Barra da Tijuca está se tornando um polo importante para a produção de videocasts, com seu ambiente propício, infraestrutura e custos competitivos, tornando-se uma opção atraente para uma variedade de produtores que buscam se destacar nesse meio de comunicação em crescimento.