O Jornal da Barra preparou uma coletânea de editoriais escritos ao longo desses 28 anos de trabalho que contam um pouco da história da região da grande Barra e do Rio, destacando os fatos mais marcantes de diversos segmentos.

Minha historia com a região que chamamos de Barra começou há 50 anos, e de lá para cá, apesar do crescimento desordenado, continuo cada vez mais apaixonado por ela..

O início dessa paixão, aconteceu em 1957 quando minha família mudou de Botafogo para Copacabana e no ano seguinte comprou uma pequena casa na Praia dos Amores.

A casa foi construída na areia branca e era separada da praia apenas por um muro baixo. A integração à natureza era total. Imaginem, não haviam túneis, nem viaduto.

A água do canal era muito limpa. Nas manhãs posteriores a maré cheia, poças d’água se formavam na areia e era possível pegar com as mãos, os camarões que ficavam aprisionados. Do outro lado do Canal, havia uma prainha, cujo único acesso era fazendo à nado a travessia do Canal, um verdadeiro viveiro de caranguejos. Na lagoa, havia abundância de peixes. Com uma varinha de bambu e um anzol mosquito, enchíamos o balde de mamareis, um peixe que parecia uma sardinha pequena.

No Bar do Compadre haviam micos e preguiças soltos nas árvores. Aos domingos almoçávamos no Dinabar, na Av. Sernambetiba, que era estrada de terra em pista única.

O acesso a Barra se fazia via Av. Niemayer ou Estrada da Gávea, pela atual Rocinha. Em São Conrado, parada quase que obrigatória para descanso, nas barracas que vendiam caldo de cana e milho cozido. Depois, percorrendo a Estrada do Joá, chegávamos á Barrinha. Daquele terreno enfrente a 16ª Delegacia, a travessia era feita em frágeis canoas até a parte da praia, hoje conhecida como Tijucamar.

Esse meu contato inicial durou apenas um ano.

Nos anos sessenta, as vindas á praia na frente do Riviera Clube se tornaram frequentes. Aqui também eram realizadas as corridas de Gordinis, Berlinetas e Dkws envenenados, o Circuito da Barra, cujo ponto alto era a curva do S, onde existe hoje a Praça do Ó.

No início dos anos 70, as vindas às boates, e as incursões aos motéis que eram points para os jovens de todas as idades, deixaram grandes memórias.

Em 1979 mudei para uma casa em condomínio, e de lá para cá, nunca mais me deixei a Barra. Vivendo com mais segurança e com muita qualidade de vida, criei meus filhos. Vi surgir o Freeway, o Barra Shopping, os grandes condomínios, o calçadão da Barra e depois o do Recreio. O crescimento foi vertiginoso.

Em 1989, me estabeleci profissionalmente na região, e desde então, passei a dizer aos amigos mais íntimos que não atravesso mais o túnel, só em ocasiões muito especiais.

Recentemente, por circunstâncias da vida, fui morar na Praia do Pontal (Macumba) e, confesso, estou surpreso, maravilhado mesmo. Descobri o Pontal...

O Pontal é uma parte da cidade que muitos não conhecem. Mar aberto, horizonte infinito, ondas perfeitas e paraíso dos surfistas. Lá cada dia é diferente do outro. Um dia tem nevoeiro de manhã, mas logo o sol aparece... É sempre fresco e não tem mosquito.O mar também muda todo dia e o por do sol é fantástico. Não existe movimento de carros junto a praia e ao calçadão, para tranqüilidade das pessoas. Contemplar as ondas, o morro do Pontal e a ilha das Palmas, é um colírio para os olhos.

Dois imponentes resorts, o Pontal Beach e o Villa Del Sol, deram um ar internacional ao local, que com a Prainha e Grumari, vem atraindo grande número de turistas.

Tim Maia, figura polêmica e de grande sensibilidade que nos deixou prematuramente, tinha razão ao cantar...”-Do Leme ao Pontal...Não há nada igual...”, e não foi à toa que ele escolheu aquele local para morar.A Grande Barra é isso aí, e, como muitos, continuarei apaixonado por ela, para sempre...

Cloris Miranda