Assim como acontece em São Paulo, o Rio de Janeiro tem visto seus hospitais e alas reservadas para pacientes com coronavírus encherem novamente

Assim como acontece em São Paulo, o Rio de Janeiro tem visto seus hospitais e alas reservadas para pacientes com coronavírus encherem novamente. Na rede municipal da capital e na rede privada do estado, a ocupação de UTIs já supera os 90% - o governo estadual não informou os dados.

A disparada fez a prefeitura enviar uma carta interna às coordenações de atenção primária da cidade nesta terça (17): "Vivemos um expressivo aumento do número de atendimentos de síndrome gripal, casos confirmados e internações por Covid-19 nas últimas semanas", alerta o comunicado.

As dados são de relatórios das coordenadorias de atenção primária (CAPs), informações coletadas pelas direções de vigilância em saúde (DVSs) e informes da rede privada, diz o texto da Assessoria Especial de Atenção Primária à Saúde da Secretaria Municipal de Saúde.

A pasta orienta as unidades a reativar espaços separados para sintomáticos respiratórios, retomar equipes de resposta rápida, reforçar o uso de equipamentos de proteção e protocolos, reiniciar o monitoramento por telefone com pessoas de risco e, em caso de sobrecarga, adiar atendimentos a pacientes crônicos controlados.

O alerta técnico vai de encontro à posição do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), que concorre à reeleição contra Eduardo Paes (DEM). Há duas semanas, ele anunciou a última fase de flexibilização, liberando atividades como aulas, praias e restaurantes self-service. Festas e shows já estavam permitidos desde 1º de outubro, com restrições.

"Não há a menor hipótese de ocorrer [um "lockdown"]. Temos um hospital de campanha com 500 leitos e hoje eu tenho 400 vagas. Esses 500 leitos são 400 de enfermaria e 100 de UTI, de forma que temos vaga para enfrentar qualquer tipo de onda", defendeu Crivella em entrevista à CNN nesta terça.

Os números que o prefeito cita, porém, não deixam claro que havia apenas 8 vagas de terapia intensiva em toda a rede municipal na manhã desta quarta, por exemplo. Dos 251 leitos de UTI disponíveis, 243 estavam ocupados (97%).

O aumento é sentido na ponta pelos médicos. "Três semanas atrás, tínhamos de 2 a3 internações por plantão, agora são cerca de 15", relata Alexandre Telles, presidente do sindicato de médicos (Sinmed-RJ) que atua no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla. A unidade só atende casos de Covid-19 desde o início da pandemia.

Em uma das clínicas da família na Rocinha, na zona sul carioca, um profissional também conta que a média dos últimos meses, de 10 a 15 atendimentos por turno de pacientes sintomáticos, subiu para 25 a 30 atualmente, apesar de poucos casos serem graves.

"Nós nunca fechamos [a área dedicada à Covid-19], porque a unidade é grande e sempre tivemos procura. Diminuímos por um período, deixamos só um médico, mas agora já são dois com potencial de aumento para três quando necessário", diz.

Os leitos públicos vêm sendo reduzidos nos últimos meses no RJ. O único hospital de campanha que restou foi o da prefeitura, na zona oeste da cidade, já que a gestão do governador afastado Wilson Witzel (PSC) fechou todas as suas unidades. O governo federal também desativou as poucas vagas que existiam no Hospital de Bonsucesso após um incêndio em outubro.

Quando se somam os leitos municipais, estaduais e federais na capital fluminense, a taxa de ocupação está em 80% nas UTIs e 73% nas enfermarias. Essa taxa tinha chegado a cair para 61% e 41% em agosto.

A piora também atinge a rede particular. A ocupação das UTIs privadas supera os 90%, segundo o médico Graccho Alvim, diretor da principal associação de hospitais do estado (Aherj).

"Tivemos um aumento grande de atendimentos na emergência nas últimas três semanas, em torno de 40%, principalmente de jovens e crianças, a maioria de quadro leve. Também houve uma maior ocupação de leitos de UTI para Covid da semana passada para esta", afirma.

Alvim pondera que as alas dedicadas ao vírus haviam sido reduzidas, e que agora se necessário podem ser reabertas. Também diz que a letalidade tem sido menor, já que a idade dos infectados tem sido menor (18 a 30 anos), as equipes já estão mais experientes e não há mais falta de equipamentos.

"O aumento substancial é entre o pessoal que está saindo, indo em bar, aglomerando e trazendo a Covid para casa. Então é importante frisar os cuidados: usar máscara, não aglomerar, evitar lugares fechados etc. Ainda é uma primeira onda porque o vírus não teve mutação aqui, mas essa segunda onda na Europa é preocupante."

O uso da máscara tem sido cada vez mais desrespeitado no Rio, tanto nas praias da zona sul como nas favelas da zona norte. É comum ver passageiros e comerciantes sem proteção nos ônibus e nas lojas. Festas também têm se espalhado, como um luau na praia do Arpoador que reuniu 2.000 pessoas no domingo (14).

Apesar disso, Crivella convidou turistas a visitarem a cidade no fim do ano. "Gostaria de dizer que o Rio pode ser agora no próximo verão, com o dólar muito caro, um local seguro para as pessoas virem aqui e terem um entretenimento no verão", declarou à CNN.