Everton Lopes Batista (Folhapress)

A atividade física regular, de intensidade média a alta, pode potencializar a eficácia das vacinas. Uma pessoa que se exercita com frequência possui 50% mais chances de produzir mais anticorpos após a imunização do que um sedentário, segundo dados de uma pesquisa publicada no fim de abril na revista científica Sports Medicine.

Em um cenário de escassez dos imunizantes contra a Covid-19, essenciais para combater a atual pandemia, a descoberta mostra que é possível extrair o melhor das vacinas disponíveis se mantivermos o corpo em movimento.

Os anticorpos são produzidos quando o organismo entra em contato com um patógeno, como um vírus ou uma bactéria, e conseguem evitar que o invasor inicie uma infecção. Os anticorpos são específicos, isto é, criados com a função de combater um determinado microrganismo.

As vacinas carregam um pedaço do agente infeccioso ou ele inteiro e inativo –incapaz de gerar doença– para fazer o corpo fabricar os anticorpos antecipadamente e, assim, proteger contra o surgimento da enfermidade quando o patógeno ativo tenta infectar.

O estudo foi conduzido por um grupo de cientistas de instituições de pesquisa da Europa. Para chegar ao dado, os pesquisadores fizeram uma revisão de diversos experimentos realizados anteriormente. Foram analisadas pesquisas que investigaram a relação entre atividade física e resultados na vacinação contra gripe, pneumonia e o vírus da varicela (catapora).

Além da detecção de taxas maiores de anticorpos nas pessoas fisicamente mais ativas, elas também foram capazes de produzir mais linfócitos do tipo T, que produzem outras substâncias de defesa e, segundo estudos recentes, têm um papel relevante na proteção contra o Sars-Cov-2.

"[Atividade física] pode ser um meio fácil de impulsionar as campanhas de vacinação. Considerando as dificuldades das cadeias de suprimentos, pode ser uma forma de fazer cada dose valer mais", escreve Sebastien Chastin, professor da Universidade Caledônia de Glasgow (UCD) e principal autor do estudo, em um artigo publicado no site The Conversation.

Ainda não se sabe exatamente quais anticorpos são os mais eficazes contra o coronavírus Sars-CoV-2, uma vez que produzimos uma grande variedade deles e nem todos são eficazes. Mas um artigo publicado em 17 de maio na revista científica Nature sugere que a presença de alguns tipos de anticorpos neutralizantes específicos contra o vírus são fortes indicadores de proteção contra a Covid-19.

Esses anticorpos podem ser produzidos após a vacinação –a maneira mais segura e eficaz– ou após uma infecção natural, quando há riscos de complicação.

No estudo conduzido pela equipe de Chastin, os pesquisadores notaram ainda que o risco de adoecer ou morrer com uma doença infecciosa é 37% menor nas pessoas que se exercitam mais –cerca de 30 minutos por dia, cinco vezes por semana.

No caso específico da Covid-19, um artigo publicado no periódico científico British Journal of Sports Medicine em meados de abril mostrou que pacientes mais sedentários, inativos fisicamente nos dois anos anteriores à pandemia, têm um risco maior de serem internados, irem para a UTI ou morrerem da doença. O risco de ser sedentário só é superado pelo de ter idade mais avançada ou histórico de transplante de órgão, de acordo com a pesquisa.

Os autores do artigo, que são cientistas de instituições dos Estados Unidos, afirmam que as pessoas que realizam pelo menos 150 minutos por semana de caminhada vigorosa (como se estivessem com pressa) tiveram um grande benefício. Os que fazem qualquer atividade física tiveram risco menor de complicações com a Covid-19 do que os sedentários.

"A atividade física melhora a resposta imune por seus vários mecanismos, reduzindo o estresse oxidativo e a inflamação sistêmica, que sobrecarrega o sistema imunológico. Quem faz exercício tem uma reserva maior de músculos para perder", diz Christina May Moran de Brito, fisiatra e coordenadora médica do serviço de reabilitação do Hospital Sírio-Libanês.

Estudo realizado pelo Hospital Sírio-Libanês no ano passado mostrou que a perda muscular nos casos mais graves de Covid-19 pode chegar a 2% por dia no período crítico da infecção –quando são necessárias intubação e imobilização para a respiração mecânica.

Brito afirma que os exercícios são também aliados na recuperação dos pacientes que já enfrentaram a doença e ficaram com alguma sequela. "Mesmo após casos mais leves o paciente pode ter algum dano pulmonar ou cardíaco, sentir fadiga e dor e experimentar distúrbios cognitivos, do humor e do sono", diz a médica.

Para extrair as vantagens das atividades físicas, a médica recomenda primeiro uma avaliação médica e apoio profissional. "Exercício é remédio, então tem a dose, ou seja, a intensidade e a frequência adequadas para cada pessoa. Sem as orientações, os benefícios podem se perder", afirma Brito.

Para Chastin, da Universidade Caledônia de Glasgow, as atividades físicas são inegavelmente importantes para tornar a população menos vulnerável a doenças infecciosas. "Os exercícios devem ser usados de maneira urgente e eficiente para combater a pandemia atual, mas também devem ser um investimento de longo prazo para a prevenção dos impactos econômicos e sociais que a pandemia trouxe", escreve Chastin ao The Conversation.

Redação

A Prefeitura retomou nesta segunda-feira (24/05) a vacinação contra a Covid-19 dos trabalhadores da educação das redes privadas e pública do município. A imunização, neste caso, é para quem tem 49 anos ou mais. É preciso levar o último contracheque ou declaração das instituições educacionais e redes de ensino público ou privado da cidade do Rio.

 – Hoje é mais um dia importante para o Rio, para a educação e para a saúde. Retomar a vacinação de profissionais da educação é reforçar que eles são nossa prioridade. Sempre foram. Desde o início do ano, estamos trabalhando por isso – disse o secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, que acompanhou a imunização na Clínica Sérgio Vieira de Mello, no Catumbi.

 Até o próximo sábado (29/05), quando será concluído o calendário dos grupos prioritários, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) espera alcançar a marca de 30% de toda a população do Rio vacinada com pelo menos a D1. A partir de 31 de maio, a ampliação da campanha de vacinação avança para a população em geral, seguindo escalonamento por idade.

A expectativa é que, em cinco meses, até 23 de outubro, 90% dos cariocas com 18 anos ou mais estejam vacinados com a D1 contra a Covid-19. O cronograma completo foi planejado de acordo com a previsão de envio de vacinas divulgada pelo Ministério da Saúde. A manutenção do calendário de vacinação na cidade está condicionada ao cumprimento deste cronograma.

Profissionais da educação elogiam a volta da vacinação

Agente de apoio à educação especial, a professora Regiane Feitosa Ricato estava contando as horas para receber a primeira dose da vacina. Ela conta que agora se sentirá mais segura para voltar ao trabalho.

 – Fiquei bem ansiosa porque interrompeu a vacinação justamente quando eu ia tomar. Agora, eu me sinto mais segura. A vacina representa saúde, imunidade, segurança. Eu quero muito voltar a trabalhar de forma presencial. Acho que todo mundo tem que colaborar com esse momento e vir se vacinar o quanto antes – disse.

 Já a professora Ana Claudia Silveira de Carvalho, da creche Maria Luiza Nobre, no Catumbi, disse que se sentia muito vulnerável ao coronavírus, por usar dois ônibus diariamente para chegar ao trabalho.

– Estava ansiosa para voltar à rotina do trabalho na creche, mas também apreensiva por conta de não estar vacinada. Quando eu soube que voltariam a vacinar o pessoal da educação foi uma alegria muito grande. Depois que tomar a segunda dose, então, vou ficar mais tranquila.

Repescagem vai até o final de semana

 Além do avanço do calendário etário, a repescagem para as pessoas dos grupos prioritários que faltaram à D1 no dia destinado à sua idade está acontecendo diariamente, até o final de maio. Já o cidadão que perdeu a data da D2 deve ir o mais brevemente possível à mesma unidade de saúde onde tomou a D1, para completar o esquema vacinal.

A SMS disponibiliza mais de 260 pontos de vacinação em toda a cidade, funcionando de segunda-feira a sábado. A lista desses pontos, o calendário de vacinação e mais informações sobre grupos prioritários, documentos, etc estão disponíveis em coronavirus.rio/vacina e nas redes sociais da SMS.

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Isabela Palhares (Folhapress)

Com a chegada da primeiras doses da vacina da Pfizer ao Brasil, após longo imbróglio do governo Bolsonaro, adolescentes de 16 a 18 anos do grupo de risco para a Covid-19 vislumbraram a possibilidade de retormar parte de suas rotinas, como ir à escola e até mesmo dar continuidade a tratamentos médicos.

O imunizante é o único disponível no país com autorização para ser aplicado em pessoas a partir dos 16 anos. No entanto, o Ministério da Saúde e os governos estaduais ainda não incluíram os adolescentes dessa faixa etária nos grupos que podem se vacinar.

Por isso, jovens com comorbidades e síndromes estão mobilizados para serem incluídos no calendário de vacinação. As famílias têm acionado a Defensoria Pública e Ministério Público de diversos estados para garantir o direito à imunização.

"Quando as primeiras doses da Pfizer chegaram, eu tive uma esperança que há meses não sentia. Porque é a única vacina que minha filha poderia tomar no curto prazo, mas nunca houve menção de incluir essa faixa etária. É um grupo esquecido pelas autoridades", conta Denise Crispim, 42. Ela é mãe de Sofia, que irá completar 16 anos no início de junho. A adolescente tem tetraplegia, o que compromete seriamente o sistema respiratório e a coloca em grave risco para a Covid-19.

"Com o quadro de saúde da Sofia, se ela tivesse mais de 18 anos, nós já poderíamos tentar vaciná-la com as doses da xepa ou saber que seria vacinada até junho. Mas, por ser menor de idade, não temos qualquer previsão."

Enquanto isso, Sofia segue em rigoroso isolamento em casa. Ela não frequenta as aulas presenciais que foram retomadas na escola particular onde estuda. Também está desde o início da pandemia sem fazer fisioterapia, o que tem causado dores em todo o corpo.

"Há uma preocupação da sociedade em voltar com as aulas presenciais para retomar a vida dos jovens, mas ninguém olha para os adolescentes com deficiência. É mais uma exclusão, mais uma situação de invisibilidade", diz Crispim.

Para especialistas, adolescentes com comorbidades e síndromes têm risco tão grande de desenvolver casos graves da doença como o de outras faixas etárias e deveriam ter prioridade na vacinação.

Segundo eles, o que impede a imunização do grupo não é só a baixa disponibilidade de doses no país, mas, principalmente, a falta de organização das autoridades de saúde para distribuir o imunizante.

Caio Bruzaca, geneticista do Instituto Jô Clemente, organização que promove a saúde de pessoas com deficiência intelectual, diz que um planejamento eficiente e responsável teria buscado formas de priorizar essa faixa etária para receber o imunizante da Pfizer, já que é o único aprovado para o grupo.

Atualmente, as doses da Pfizer só estão disponíveis para aplicação nas capitais do país. Como o imunizante precisa ser conservado em temperaturas muito baixas, entre -40ºC a -70ºC, há dificuldade em levá-lo para outros municípios, como ocorre com os da AstraZeneca ou da Coronavac.

"O Ministério da Saúde pode argumentar que não incluiu os adolescentes por princípio de isonomia, já que os do interior com comorbidades não teriam acesso. Mas é tudo questão de organização e disposição. Outros países, como Estados Unidos e Israel, se organizaram e conseguiram vacinar os mais jovens", diz Ivan França, infectologista do AC Camargo Cancer Center.

Na sexta (21), a Pfizer protocolou pedido à Anvisa (Agência Nacional de Vigilâcia Sanitária) para ampliar o prazo de armazenamento das doses em temperaturas de 2ºC a 8ºC - o equivalente a um refrigerador comum. Atualmente, o prazo no Brasil é de 5 dias.

O pedido, que facilita o armazenamento, já foi autorizado à empresa em outros países. Na Europa, o prazo aprovado para conservação nessas temperaturas foi de 31 dias. Para os médicos, a invisibilização do grupo para receber a vacina reforça discriminações que já existiam e aumenta o risco de danos à saúde física e mental dos jovens. "Esse adolescente com comorbidades ou síndromes é obrigado a ficar ainda mais isolado enquanto seus colegas voltam às atividades", diz Bruzaca.

A poucos dias de completar 16 anos, Sofia Machado vê na vacina a esperança de voltar a ter contato com as amigas. Com um problema respiratório grave desde que nasceu, ela não saiu de casa desde o início da pandemia, mas vê os colegas retomando os encontros.

"Quando soube que a vacina da Pfizer tinha chegado, senti que poderia ter minha vida de volta. Me sinto frustrada em saber que ainda não é a minha vez. É como se eu fosse invisível, porque só escuto dizer que a Covid-19 não tem risco para adolescentes", conta.

Os médicos ressaltam que, apesar de estudos mostrarem pouca incidência de casos graves de coronavírus em crianças e adolescentes, o risco não se aplica aos que têm comorbidades e síndromes. Eles também destacam que as novas variantes têm sido mais agressivas para jovens, o que reforçaria a necessidade de incluí-los na vacinação.

"Meu maior medo sempre foi ver meus filhos doentes. Estamos vencendo uma batalha e tudo o que eu queria era poder proteger meu menino de outras doenças", diz Edna Moraes, 43.

Em novembro do ano passado, seu filho Cauê, 17, foi diagnosticado com câncer no joelho. O tratamento já está no fim, mas a família ainda teme por uma contaminação, já que o jovem continua com a imunidade menor.

"Ele faz tratamento em São Paulo e nós moramos em Guarulhos. Ele pega ônibus cheio para ir até lá. Com a vacina, acho que ficaria um pouco mais tranquila", conta a mãe.

Em nota, o Ministério da Saúde disse que a vacina da Pfizer só está disponível nas capitais e, para garantir a padronização da campanha, recomenda a vacinação apenas em maiores de 18 anos. Questionado se há previsão de inclusão da faixa etária, informou apenas que o plano nacional de vacinação está "em constante atualização".

O governo de São Paulo também não informou se há previsão de incluir os adolescentes na vacinação e disse que segue as diretrizes do PNI (Programa Nacional de Imunização). "A continuidade e a inclusão de novos públicos na campanha de vacinação contra a Covid-19 dependem da disponibilização de mais doses por parte do Ministério da Saúde", disse.