Redação

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) inaugurou, nesta terça-feira (13/07), um ponto de vacinação (PV) no Teatro Municipal Carlos Gomes, na Praça Tiradentes, no Centro do Rio. Palco de apresentações memoráveis ao longo de décadas, dessa vez o teatro abre suas portas para o espetáculo mais esperado pelos cariocas atualmente: a vacinação contra Covid-19.

Apresentação musical marca inauguração do novo PV

O PV funcionará de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, e conta com o apoio da ONG Core. Nesta terça-feira, o público convocado são homens de 39 anos, e haverá repescagem para pessoas com deficiência permanente. O ator Fábio Enriquez foi uma das primeiras pessoas a serem vacinadas no espaço cultural.

– É muito simbólico estar me vacinando aqui, no Teatro Carlos Gomes, que é um templo, um lugar onde me apresentei tantas vezes com a minha companhia Barca dos Corações Partidos. É um símbolo de saúde e arte caminhando juntas. Só assim a gente vai dar um mundo melhor para as novas gerações que estão vindo – disse.

 

O ator se vacinou num espaço onde já atuou diversas vezes – Marcos de Paula/Prefeitura do Rio

 

O ator lembrou que já se apresentou no Carlos Gomes com espetáculos como “Auê”, “Gonzagão, a Lenda” e “Ópera do Malandro”. Ele fez um apelo para que as pessoas completem a imunização.

– Tomem a segunda dose da vacina, por favor. É um privilégio estar sendo imunizado quando mais de 500 mil pessoas morreram no Brasil por conta dessa pandemia. Fica para nós a responsabilidade de fazer desse país e do mundo um lugar melhor para se viver.

Já o empresário Fabiano França disse que estava muito ansioso aguardando a chegada do dia para receber a primeira dose da vacina.

– É um passo importante na história, é a maior pandemia que a gente está vivendo. Nenhum de nós imaginava como seria e nem como poderia sair disso. Agora é não relaxar, manter a máscara, se possível, lavar as mãos e quem puder fique em casa – contou.

 

O novo PV vai funcionar de segunda a sexta, das 8h às 18h – Marcos de Paula/Prefeitura do Rio

 

Além do PV no Teatro Carlos Gomes, a parceria entre a Prefeitura do Rio e a ONG Core (Esforço de Ajuda Organizado pela Comunidade, na sigla em inglês) já promoveu a abertura de outros quatro macropolos de vacinação pela cidade: Parque Olímpico, quadras da Mocidade e da Portela e o Centro Esportivo Miécimo da Silva. Fundada pelo ator americano Sean Penn, a ONG Core é uma iniciativa humanitária que atua em diferentes países e, na pandemia, tem ajudado na ampliação do acesso à vacinação.

Os investimentos da instituição no município do Rio para o enfrentamento da Covid-19, em apoio ao SUS, estão voltados para a montagem de postos de vacinação e testagem, e contratação de profissionais. Todos os equipamentos adquiridos por meio da iniciativa serão doados para a rede municipal de saúde após o término da parceria.

Redação

A campanha de vacinação contra a gripe foi ampliada no município do Rio e, a partir da próxima quarta-feira (14/07), será estendida à população em geral, seguindo um calendário por idade. Todas as pessoas com seis meses ou mais poderão receber a imunização nas unidades de atenção primária (clínicas da família e centros municipais de saúde), de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, na semana determinada para sua faixa etária. É necessário respeitar o escalonamento para evitar aglomerações nos postos. A meta da Prefeitura é vacinar 2,2 milhões de cariocas contra a gripe.

Até o dia 14, a campanha segue vacinando exclusivamente os grupos prioritários: idosos a partir de 60 anos; crianças de seis meses a cinco anos; gestantes e mulheres até 45 dias após o parto; indígenas e quilombolas; pessoas com comorbidades ou deficiência permanente; trabalhadores da saúde e da educação; caminhoneiros e trabalhadores do transporte coletivo e de longo percurso; portuários; população privada de liberdade, adolescentes sob medidas socioeducativas e funcionários do sistema prisional; forças de segurança e salvamento e forças armadas.

Para quem tomou ou ainda vai receber a primeira ou a segunda dose da vacina contra a Covid-19, é preciso respeitar o intervalo de 14 dias entre as imunizações.

Os locais de vacinação podem ser consultados em prefeitura.rio/ondeseratendido.

Confira o novo calendário:

 

 

Júlia Barbon (Folhapress)

Pela primeira vez neste ano, nenhum estado registrou alta nas taxas de incidência e mortalidade pelo coronavírus, diz boletim da Fiocruz divulgado nesta sexta (9). Isso significa que houve queda nos números diários de novos casos e óbitos nas duas últimas semanas, de 20 de junho a 3 de julho.

O relatório também aponta diminuição na ocupação de UTIs públicas pela quarta semana consecutiva em todo o país e conclui que essas melhoras se devem principalmente ao avanço da campanha de vacinação, que vem ajudando a evitar formas graves da doença.

"As vacinas são efetivas na prevenção de casos graves e parecem vir cumprindo bem esse papel. O surgimento de variantes continua sendo uma ameaça com potencial de reduzir a efetividade das vacinas disponíveis, e essa é uma preocupação que não pode ser perdida de vista", pondera o texto.

De acordo com os dados analisados, quase todas as unidades da federação mantiveram ou reduziram em até 5% o patamar de infectados e mortos no período considerado –Acre, Ceará, Paraná e Sergipe registraram reduções ainda mais intensas que essa nos óbitos.

Com relação aos leitos, pela primeira vez em meses apenas um estado apresenta taxa de ocupação superior a 90%, que é Roraima (97%). Também na zona crítica, com taxas acima de 80%, encontram-se Paraná (89%), Santa Catarina (85%) e o Distrito Federal (82%).

Os pesquisadores ponderam, porém, que não é possível saber se essa tendência de melhora vai se manter ou se estamos vivendo um período de flutuações num patamar alto de transmissão, que se estabeleceu a partir de março –foram 61 mil casos e 1.600 mortes diárias nas duas últimas semanas, em média.

Apesar das tendências de estabilidade ou redução, as taxas de transmissão de síndromes respiratórias agudas graves (SRAG) ainda são extremamente altas em vários estados, principalmente nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste (com exceção de Espírito Santo e Rio de Janeiro).

Também chamam atenção para o fato de que, se analisados os últimos meses, a tendência de queda nos óbitos não foi acompanhada pelos casos, e estados com transmissão alta hoje podem apresentar crescimento nas internações e na mortalidade nas próximas semanas.

"É fundamental que se mantenham medidas de distanciamento físico, uso de máscaras, cuidados com a higiene das mãos. É fundamental que as pessoas se vacinem, conforme o calendário dos seus municípios, sabendo que todas as vacinas disponíveis têm produzido excelentes respostas", escrevem.

O relatório cita ainda o atraso nos dados, pela "descontinuidade de investimento em equipes e infraestrutura nos sistemas de registro em saúde", e o avanço desigual da vacinação pelo país, que tem provocado a migração de pessoas para outras cidades e pode facilitar a disseminação do vírus e suas variantes.

"A vacinação tem sido buscada em cidades com campanhas mais organizadas e com calendário mais adiantado, distantes até 250 km do município de residência, o que provoca interrupções da campanha nessas cidades pela dificuldade de se prever o número de doses necessárias", afirma.

Os pesquisadores também repetem que os infectados são cada vez mais jovens e que é urgente reforçar as medidas de mitigação da pandemia neste público. Se comparadas a primeira semana do ano e a penúltima semana de junho, o percentual de idosos despencou de 63% para 28% entre os internados e de 81% para 52% entre os mortos.

"O fato é que o Índice de Permanência Domiciliar se encontra no ponto mais baixo desde o início da pandemia. Em contrapartida, a cobertura vacinal de segunda dose ainda não alcançou sequer 20% da população. A interseção destes indicadores [...] é exatamente a população mais jovem."

Por fim, citam uma pesquisa feita para entender os efeitos da pandemia nesse público, respondida por mais de 68 mil pessoas de 15 a 29 anos em todos os estados. Destacam-se como consequências a ansiedade (61%), o uso exagerado de redes sociais (56%) e exaustão e cansaço constantes (51%).

Sobre o uso de máscaras, os resultados mostram que, quanto mais públicos forem os espaços e abertos à circulação de pessoas desconhecidas, como mercados, farmácias e transportes, mais os jovens usam máscara (89%). Já nas ruas, o número cai para 69%. Sete em cada dez dizem que não frequentaram festas no último ano.

Cláudia Collucci (Folhapress)

A regulamentação da telemedicina, que hoje funciona em caráter provisório, tem provocado um novo embate na classe médica opondo, mais uma vez, duas das principais entidades da categoria no país, o CFM (Conselho Federal de Medicina) e a AMB (Associação Médica Brasileira).

Ao longo da pandemia de Covid-19, ambas divergiram em relação ao tratamento precoce com medicamentos sem eficácia para a Covid A AMB se posicionou contra o uso, e o CFM deixou a critério dos médicos.

Agora, as divergências dizem respeito a uma questão central discutida tanto na elaboração de uma nova resolução do CFM sobre telemedicina quanto em projetos de lei que tramitam na Câmara dos Deputados sobre o tema: a obrigatoriedade de que a primeira consulta seja presencial.

Em debates virtuais sobre o assunto, o vice-presidente do CFM, Donizette Giamberardino Filho, tem defendido que a primeira consulta por telemedicina deva ser presencial. Em nota enviada à Folha, porém, a entidade disse que ainda analisa o assunto. Já AMB entende que essa decisão deva ser do médico e do paciente.

Há discussões também em torno da chamada territorialidade. Médicos poderiam fazer telemedicina em todo o país ou apenas nos estados onde possuam registro profissional? Hoje, além do certificado no estado onde atua predominantemente, o médico pode ter outros em locais onde também atende.

A questão é que agora, com a telemedicina, o médico pode atender, em tese, pacientes em qualquer lugar do país. A AMB defende que o profissional tenha autonomia para isso.
Giamberadino Filho, do CFM, tem opinado que se a primeira consulta for presencial, o acompanhamento depois poderia ser virtual, em qualquer lugar. Em nota, o CFM diz que ainda estuda o assunto.

"Essas ferramentas [de telemedicina] existem para beneficiar o paciente. Ainda temos limitações. Há situações em que eu, como médico, não vou conseguir resolver tudo [virtualmente]. Vou precisar do paciente presencialmente", explica o ginecologista César Fernandes, presidente da AMB.

Segundo ele, é o médico que, durante a primeira consulta virtual, deve arbitrar se vai precisar ou não de uma consulta presencial. "É decisão do médico, autonomia do médico. Se ele se aventurar a fazer uma proposição terapêutica sem ter todos os elementos necessários, ele será responsabilizado por isso. Não atenua a responsabilidade do médico se ele atender presencialmente ou por teleconsulta."

Pesquisa feita pela AMB com uma amostra representativa de 980 médicos mostra que 66% consideram que o profissional deve ter autonomia para decidir pela consulta virtual ou não e 62% dizem que ela não deve se restringir ao estado onde o médico possua o registro profissional.

Para Fernandes, o fato de parte da categoria defender que a telemedicina só seja exercida no estado de registro pode ser pelo fato de que há médicos em locais que não têm recursos tecnológicos para concorrer em condições iguais com outros de centros mais avançados.

"Talvez imaginem que vão ter prejuízo. Mas é um direito do paciente de querer passar onde quiser e com quem quiser. Senão daqui a pouco o médico vai ter que ter 27 CRMs para poder atender por telemedicina no país?", questiona.

O pediatra Clóvis Constantino, professor de ética médica e bioética da Unisa (Universidade Santo Amaro), lembra que uma questão que precisa ficar muito clara é que, para algumas especialidades médicas, a telemedicina funciona muito bem, mas para outras, não.

Ele sugeriu ao CFM que as 34 especialidades aprovassem a forma como a telemedicina poderia ser usada (ou não) em suas respectivas áreas. "É uma forma de utilizar a telemedicina com segurança. Na psiquiatria, por exemplo, há mais segurança [de uma primeira consulta virtual]. Mas, em outras, o exame físico, tocar no paciente, é muito importante."

Nesta quinta (8), às 14h, haverá uma audiência pública na Câmara dos Deputados para discutir projetos sobre a autorização da telemedicina e a segurança no uso de dados durante a prática.

Sob uma legislação provisória aprovada no início da pandemia e com validade até o fim da crise sanitária, a telemedicina já está sendo amplamente usada tanto em plataformas estruturadas, que obedecem a regras de sigilo e proteção de dados, quanto por meios informais, como aplicativos de mensagens.

Segundo dados da Saúde Digital Brasil, uma associação que representa os principais operadores de telemedicina do país, entre 2020 e 2021, mais de 7,5 milhões de atendimentos virtuais já foram realizados por mais de 52,2 mil médicos. A grande maioria (87%) deles foi das chamadas primeiras consultas.

Para Eduardo Cordioli, presidente da Saúde Digital Brasil, mais importante do que o volume dos atendimentos a distância, é o alto índice de resolutividade: 91% nas consultas avulsas de pronto-atendimento. "São pacientes que tiveram seu problema resolvido e não precisaram recorrer ao pronto-socorro. E 1% desses atendimentos foi essencial para salvar vidas", afirma.

Na opinião de Cordioli, limitar a utilização da medicina, seja determinando quando uma consulta deva ou não acontecer a distância ou impedindo que médicos atendam pacientes de outros estados, deixa a saúde mais vulnerável e anula as tentativas de se levar cuidados às regiões até então pouco assistidas.

Na pesquisa da AMB, 56% dos médicos dizem que já estão atendendo a distância e 59% pretendem continuar após a pandemia. Uma outra pesquisa da FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar) também mostra ampla utilização da telemedicina pelas empresas de assistência médica e odontológica.

Em debate virtual recente promovido pela Anahp (Associação Nacional dos Hospitais Privados) sobre o novo papel dos médicos com a telemedicina, um dos pontos abordados foi a sobre a Lei Geral de Proteção de Dados, que deverá ser seguida à risca pelos profissionais que fazem consultas virtuais.

"A pandemia acelerou os processos de saúde digital e o avião já decolou. É muito importante estabelecer regras, princípios éticos para que essa implantação seja dentro do que imaginamos como adequada", disse Giovanni Cerri, presidente do conselho do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas de São Paulo.

"É preciso entender que consulta por WhatsApp não é telemedicina", disse Giamberardino, do CFM. Ele afirmou que o conselho está estudando formas de proporcionar aos médicos meios de prescrição e assinatura digital seguros, já inclusos na mensalidade.

Outra questão é a capacitação dos médicos. Segundo Chao Lung Wen, professor associado e chefe da disciplina de telemedicina da USP, apenas 12 das 340 universidades com curso de medicina no Brasil possuem aulas voltadas para a telemedicina.

Uma preocupação levantada pelos participantes é que a telemedicina não deve ser usada pelos gestores públicos e privados de saúde como forma de reduzir custos e, por exemplo, deixar de investir em estruturas locais necessárias.

"É irresponsável achar que a telemedicina substitua tudo. Se uma gestante estiver apresentando sangramento, por exemplo, pode ser necessária uma intervenção, então é preciso ter estrutura física", afirmou.

Para os locais remotos, ele defende uma combinação de unidades móveis de deslocamento e telemedicina. Nessas regiões distantes, em que não há médico, Giamberardino diz que a primeira consulta poderia ser virtual. "Mas deve ser a exceção, não a regra."

CFM DIZ QUE AVALIA PONTOS POLÊMICOS COM RIGOR E CRITÉRIO

Em nota encaminhada à Folha, o CFM disse que questões como a exigência de uma primeira consulta presencial (ou não) ou a definição de territorialidade "estão sendo avaliados, com rigor e critério, a partir de considerações feitas por todos os setores envolvidos."

"Esse esforço tem sido conduzido de modo exaustivo para que o Brasil ganhe uma norma que permita o exercício da telemedicina com lastro em princípios éticos, técnicos e legais", diz.

Sobre a norma que ainda está em discussão no âmbito do CFM, destaca que tem procurado ouvir os conselhos regionais de medicina, as sociedades médicas de especialidade e especialistas renomados para construir um normativo que atenda aos interesses dos pacientes e dos profissionais. Sugestões encaminhadas por meio de consulta pública também estão sendo analisadas, segundo o CFM.

"É preciso lembrar que a telemedicina não vem para substituir a presença do médico, mas para melhorar a qualidade do serviço prestado, bem como o seu acesso. Dentre os princípios abordados na revisão está a autonomia do médico e do paciente. A valorização dessa relação é fundamental para o estabelecimento da confiança interpessoal", diz o conselho.

O CFM reitera também que já tem como parâmetro fundamental, a ser contemplado na nova resolução que disciplinará o tema, que as plataformas de consulta e de prescrição deverão oferecer elementos de proteção aos dados recebidos/transmitidos. Também entende que todo ato médico deve ser registrado em prontuário específico do paciente, para conferir mais segurança na assistência prestada.

Everton Lopes Batista (Folhapress)

A variante delta do coronavírus Sars-CoV-2, causador da Covid-19, consegue escapar da ação de alguns anticorpos que o organismo produz após infecção ou vacinação. O vírus também é capaz de driblar alguns anticorpos monoclonais, proteínas feitas em laboratório para combater o invasor.

O estudo que traz os resultados, publicado nesta quinta-feira (8) na revista científica Nature, mostra que uma maior vigilância é necessária para conter a variante, recentemente detectada na cidade de São Paulo.

A delta foi registrada pela primeira vez na Índia e é apontada como a principal responsável pelo surto de Covid-19 que abalou o país asiático no início deste ano, com recordes sucessivos de casos e mortes causadas pela doença. Dados do Reino Unido e dos Estados Unidos mostram que ela já é a principal fonte de novas infecções nos países. Evidências recentes já indicavam que a variante delta é mais transmissível do que as outras, pode gerar sintomas ligeiramente diferentes e também pode levar a mais hospitalizações. Ainda não se sabe se a delta pode causar mais mortes.

Os cientistas isolaram o vírus a partir de uma amostra de secreção nasal de um paciente infectado pela variante delta e o replicaram em laboratório. Depois, passaram a fazer tentativas de neutralizar o patógeno usando os anticorpos monoclonais ou o soro de 103 pessoas que tiveram a doença. Os pesquisadores também testaram o soro de 59 pessoas que receberam as vacinas da Pfizer/BioNTech ou da AstraZeneca/Oxford.

A neutralização acontece, via de regra, quando os anticorpos conseguem se conectar a uma das estruturas que o vírus usa para entrar na célula e, assim, impedem uma infecção. Um alvo comum dos anticorpos para combater o Sars-CoV-2 são as espículas que revestem o vírus.

No experimento, o soro convalescente (dos curados) foi cerca de quatro vezes menos potente contra a variante delta do que contra a alfa (primeiramente registrada no Reino Unido). "A variante delta demonstrou uma resistência maior à neutralização dos anticorpos de pessoas que tiveram a doença e não se vacinaram, especialmente após um ano da infecção", escrevem os autores.

O achado reforça o resultado de uma outra pesquisa publicada em junho no periódico científico Cell por um grupo internacional de cientistas, que mostrou um aumento nas chances de uma segunda infecção pelo vírus desde o surgimento da variante delta.

"Os dados mostram que essa variante tem uma maior facilidade para infectar as células humanas. Isso quer dizer que os anticorpos produzidos em uma infecção com outra variante do vírus não são capazes de nos proteger adequadamente contra a delta", diz a microbiologista Viviane Alves, professora do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB/UFMG) que não esteve envolvida na pesquisa.

Os anticorpos de pessoas vacinadas com apenas uma dose das vacinas da Pfizer/BioNTech ou da AstraZeneca/Oxford também foram pouco eficientes contra o Sars-Cov-2. Após a segunda dose, a resposta imunológica se fortaleceu, mas a variante delta se mostrou mais resistente a essa reação do que outras variantes, como a alfa e a beta (registrada pela primeira vez na África do Sul).

Ambas as vacinas demonstraram taxas de eficácia estimadas maiores do que 60% contra a variante após a vacinação completa, mostrando que os imunizantes ainda são a melhor forma de prevenção e combate à pandemia. "Mas é muito importante que sejam tomadas as duas doses da vacina", lembra Alves.

Segundo o Instituto Butantan, há indícios de que a Coronavac funciona contra a variante delta, mas novos estudos são necessários. Um estudo divulgado pela Janssen, cuja vacina contra Covid é aplicada em apenas uma dose, mostrou que o imunizante mantém a eficácia contra a delta. Os dados estão disponíveis no formato pré-print (ainda sem revisão por outros cientistas).

O soro de pessoas que tiveram a Covid-19 e se vacinaram é o que carrega os anticorpos mais fortes contra o vírus, diz o estudo publicado na Nature nesta quarta. Os cientistas testaram ainda os anticorpos monoclonais bamlanivimabe (LY-CoV555) e etesevimabe (LY-CoV016), produzidos pela farmacêutica americana Eli Lilly; o casirivimabe (REGN10933) e o imdevimabe (REGN10987), produzidos pela também americana Regeneron. O bamlanivimabe não funcionou contra a variante, e os demais permaneceram com alguma ação contra o vírus.

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou em abril o uso emergencial do Regen-Cov, da Regeneron. Trata-se da combinação dos remédios biológicos casirivimabe e imdevimabe. No mês seguinte, deu aval ao pedido de uso emergencial no Brasil do medicamento que combina o banlanivimabe e etesevimabe, desenvolvido pela empresa Eli Lilly. As quatro formulações já tinham recebido autorização de uso emergencial nos Estados Unidos.

Para Alves, da UFMG, os dados tornam cada vez mais claro que as medidas de proteção contra a Covid-19 –como uso de máscara, distanciamento, higiene das mãos e vacinação completa– devem ser intensificadas, mesmo por aqueles que já receberam a vacina.