Especialistas apontam construções na orla e mudanças climáticas como principais motivos para o aumento do número de ressacas
No mês de agosto, o Laboratório de Geografia Marítima da UFRJ publicou um artigo que alerta a comunidade carioca, moradores e o poder público, da atual perda das dunas e áreas de restinga nas praias da Zona Oeste, em razão de modificações e construções promovidas pelo homem. A publicação enfatiza a necessidade de mudanças e monitoramento das condições climáticas e interferência humana em lugares de preservação.
A pesquisa traz paralelos com as constantes ressacas que acontecem em praias da Zona Sul (principalmente Leblon) e o que pode vir a acontecer com praias da Barra da Tijuca, com os efeitos desse fenômeno ambiental influenciado pelo avanço de construções urbanas na área costeira.
O estudo explica o funcionamento natural das praias da Barra, na qual as maiores faixas de areia, denominadas dunas frontais, servem como uma forma de barreira natural às fortes ondas em períodos de ressaca. No entanto, o artigo demonstra como o avanço da urbanização em faixas de areia prejudicam o funcionamento natural das praias e aceleram desastres relacionados ao avanço do mar.
O número de ressacas marítimas na região da Zona Sul tem aumentado. Um exemplo foi o caso do dia 29 de julho de 2025 na praia do Leblon, com ondas que chegaram a 4 metros de altura, causando a interdição dos dois sentidos da Av. Delfim Moreira (principal da orla do Leblon), e chegaram a danificar o portão de um prédio da Avenida, além da força da água ter deslocado um carro estacionado e um quiosque de academia que estava fixado no local. A pesquisadora Flávia Lins de Barros, autora do artigo e professora da Pós Graduação de Geografia na UFRJ, afirma existir a possibilidade de que, em um ano, casos como o do Leblon aconteçam com maior frequência na orla da Barra.
A pesquisa aponta que as dunas das praias da Barra da Tijuca chegam a até 7 metros de altura, e funcionam como um escudo natural contra as fortes ondas. Além da restinga, que mesmo escassa, controla a dispersão da areia na região. No entanto, a construção de quiosques irregulares (que vão além do calçadão), a expansão do próprio calçadão e a fixação de estruturas nas areias, estão comprometendo essa proteção natural das praias.
“Então, de um lado há essa pressão da sociedade e, de outro, a elevação do nível do mar, provocando o que chamamos de beach squeeze, ou seja, a praia está sendo espremida”, afirma a autora da pesquisa, Flavia de Barros Lins.
No dia 29 de julho de 2025, além do Leblon, a praia da Barra também foi atingida por grandes ondas que chegaram até o calçadão da praia. Em outubro de 2020, ondas de até 3 metros de altura atingiram as praias da Barra da Tijuca, desmoronando parte do calçadão da Av. Lúcio Costa na altura do posto 8. Esses são alguns do indícios da vulnerabilidade recente das praias da região, todas apontadas pelo estudo “Índice de Vulnerabilidade das Praias a Ressacas ao Longo da Orla da Cidade do Rio de Janeiro, das praias do Leme à Macumba: Contribuições para a Gestão Costeira”, publicado na revista Quaternary and Environmental Geoscience, da UFPR, com autoria de Pedro Piacesi, Pedro Costa e Flavia Barros.
Mar revolto em dia de ressaca. (Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil)
O artigo pretende servir como estudo de base para políticas públicas que visam a proteção da costa marítima da cidade do Rio de Janeiro. De acordo com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, existe um projeto que estimula a adoção com recuperação de vegetação nativa, com 60 módulos já sob cuidados, porém não está especificado quantos desses se apresentam na Barra da Tijuca.
E, em relação à irregularidade de quiosques, a prefeitura afirma que a Patrulha Ambiental está diariamente fiscalizando a orla e que está organizando uma ação com os órgãos que atuam na área para conscientizar os vendedores de seus direitos e deveres ao comercializarem na região.