Pouco mais de 50 mil concorrentes receberam de seus partidos verbas dos dois fundos para bancar as campanhas

A três semanas do primeiro turno das eleições municipais, os fundos eleitoral e partidário têm sido direcionados até agora em sua maior parte para uma parcela ínfima dos cerca de 550 mil candidatos a prefeito e vereador, apenas 0,8% do total.

Segundo dados das prestações de contas parciais das eleições divulgados neste domingo (25), pouco mais de 50 mil concorrentes receberam de seus partidos verbas dos dois fundos para bancar as campanhas.

Apesar disso, 80% do valor liberado (R$ 646 milhões de R$ 807 milhões) foram para cerca de 4.600 candidaturas, o que representa 0,8% dos postulantes lançado pelos partidos.

Terminou neste domingo o prazo para que candidatos e legendas entregassem à Justiça Eleitoral a prestação de contas parcial das suas campanhas. Os recursos repassados deverão crescer até o dia da eleição, em 15 de novembro, mas a priorização de "cavalos premiados" já é fonte de crise dentro das siglas.

Mais de um terço dos candidatos que o PSL lançou para disputar uma vaga na Câmara de Belo Horizonte divulgaram uma nota de repúdio pelo direcionamento, em detrimento dos demais, de R$ 690 mil do fundo eleitoral para a candidata a vereadora Janaina Cardoso (PSL), ex-mulher do ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo), cacique do partido em Minas.

Janaina é a sétima candidata a vereadora em todo o país que mais recebeu dinheiro público de campanha, até agora.

O campeão a essa altura é o prefeito Bruno Covas (PSDB), candidato à reeleição em São Paulo, com R$ 7,8 milhões declarados.

Desse total, R$ 5 milhões foram direcionados pelo próprio PSDB. O restante, por legendas coligadas –R$ 2 milhões do Podemos, R$ 700 mil do MDB e R$ 117 mil do PP.

Logo atrás de Covas, no ranking nacional, aparece o candidato do DEM à Prefeitura de Salvador, Bruno Reis, que disputa a sucessão ao cargo ocupado hoje pelo presidente nacional da sigla, ACM Neto.

Reis, que é vice de ACM Neto na prefeitura, recebeu R$ 7,7 milhões, sendo R$ 3,5 milhões do DEM e os demais valores das cotas do fundo eleitoral de quatro partidos coligados –R$ 2,7 milhões do PL, R$ 630 mil do PSL, R$ 500 mil do PDT e R$ 350 mil do Republicanos.

O DEM também está no topo quando se trata das campanhas de vereadores. Os campeões de verba pública, que reúnem cifras maiores do que as direcionadas à maioria dos candidatos a prefeito no país, são Milton Leite (DEM) e Abou Anni Filho (PSL), que disputam vaga na Câmara paulistana. O primeiro recebeu R$ 2,2 milhões do partido. O segundo, R$ 2 milhões.

O que mais recebeu verba pública de campanha com dinheiro vindo exclusivamente do seu partido é o deputado federal João Campos (PSB-PE), filho do ex-governador e ex-presidente do PSB Eduardo Campos, morto em 2014.

Candidato à Prefeitura do Recife, Campos recebeu R$ 7,5 milhões do fundo eleitoral do PSB, praticamente o teto do limite legal de gastos no primeiro turno na capital pernambucana e 7% da verba a que o partido tem direito para financiar a campanha de todos os seus candidatos a prefeito e vereador no país.

Apesar de seguir a tendência de quase todas as siglas de extrema canalização do repasse dos recursos a poucos candidatos, o PSB está até agora, proporcionalmente, entre os menos concentradores – 3.286 (12% do total) de seus mais de 26 mil candidatos já receberam dinheiro dos fundos eleitoral ou partidário.

O presidente do PSB, Carlos Siqueira, diz que a verba para o Recife reflete o desempenho do partido em Pernambuco nas eleições para deputado federal em 2018, quando o filho de Eduardo Campos foi o deputado mais votado da história do estado.

O grosso da definição sobre quanto cada partido recebe de dinheiro público é definido na proporção de seu desempenho na eleição para a Câmara dos Deputados.

Sobre os demais candidatos, Siqueira afirma que a decisão cabe às direções estaduais, que também estão recebendo a cota proporcional ao desempenho de 2018.

Logo abaixo de Campos, os candidatos que figuram no topo do ranking são o ex-ministro Alfredo Nascimento (PL), candidato à Prefeitura de Manaus, com R$ 6 milhões, e os candidatos a prefeito Alexandre Kalil (PSD, Belo Horizonte), com R$ 4,9 milhões, e Jilmar Tatto (PT, R$ 4,8 milhões).

Desde 2015, com a proibição do financiamento empresarial, a maior parte do dinheiro para bancar as candidaturas sai dos cofres públicos. Para essa disputa, são R$ 2,035 bilhões do fundo eleitoral e R$ 959 milhões do partidário, embora esse último não seja aplicado somente em eleições.

A análise dos repasses por partido mostra que apenas seis siglas têm, até o momento, uma distribuição das verbas públicas para mais de 15% de seus candidatos –os nanicos PCO (53%), PCB (51%) e PSTU (46%), além de PSOL (30%), Rede (20%) e PT (16%).

Especialmente por ter eleito a maior bancada de deputados federais em 2018, o PT é dono da maior fatia do fundo eleitoral (R$ 201 milhões).