Embora ainda não haja tratamento específico, a identificação pode ajudar a conhecer melhor o caminho da epidemia e a contê-la

Por Gabriel Alves/ Folhapress

Laboratórios públicos e privados estão investindo na produção de testes diagnósticos para detectar o novo coronavírus. Embora ainda não haja tratamento específico, a identificação pode ajudar a conhecer melhor o caminho da epidemia e a contê-la.

A Fiocruz, por meio de Bio-Manguinhos, sua unidade responsável por vacinas, biofármacos e kits diagnósticos, planeja abastecer todo o setor público do país de testes diagnósticos. Nas últimas duas semanas foram produzidos perto de 20 mil kits, segundo Antonio Ferreira, gerente do programa de diagnóstico do instituto.

Até domingo (15), o número de testes realizados em todo o país, incluindo casos suspeitos, confirmados e descartados, era de 3.599, segundo o Ministério da Saúde.

Estima-se que agora o país já esteja na fase exponencial da epidemia, quando os casos se multiplicam progressivamente. Segundo algumas projeções, em algumas semanas o total de infectados pode ser de dezenas de milhares de pessoas.

Mesmo que o número de casos exploda, a produção de Bio-Manguinhos vai acompanhar o ritmo, de acordo com Ferreira. As medidas incluem aumentar o número de pessoas por plantão para ampliar a capacidade de produção.

A meta é que os testes sejam distribuídos não só para os laboratórios de referência (como o da própria Fiocruz, o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e o Instituto Evandro Chagas, no Pará) mas para laboratórios públicos de todos os estados da federação. Os esforços incluem ainda promover treinamento para fazer o ajuste fino na realização do protocolo.

O valor a ser pago pelo governo por teste, diz Ferreira, é de entre R$ 75 e R$ 100, mas é possível que o custo seja um pouco maior do que isso.

Além do teste convencional, baseado no chamado protocolo de Berlim, a Bio-Manguinhos também desenvolve um outro, baseado num protocolo dos CDC (Centros de Controle de Doenças dos EUA), especificamente para casos que pairam numa zona cinzenta entre o sim e o não na primeira análise.

A perspectiva é que, com o padronização nos serviços públicos, a chamada contraprova (repetição) do testes torne-se desnecessária.

O Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, que identificou o primeiro caso de coronavírus no país, validou sua metodologia ao ter os primeiros casos confirmados pelo Instituto Adolfo Lutz.

O Einstein também está aumentando sua capacidade de produção. Já podem ser feitos 3.600 casos diariamente em sua unidade de diagnóstico, conta o virologista João Renato Rebello Pinho.

A próxima meta é automatizar o processo. "Já dava para prever que só os laboratórios públicos não iam ter capacidade de receber todas as amostras nos próximos meses", diz ele.

A preocupação, diz Pinho, é com a disponibilidade de insumos para que os testes possam ser realizados. "Poderia haver uma facilitação na importação, como aconteceu no caso da zika", diz. Atualmente, o hospital está fazendo mais de 700 exames diariamente e já acumula dezenas de resultados positivos.

A rede Dasa relata que até 12 de março processou 1.616 amostras, sendo 46 testes positivos. O laboratório Fleury, que também realiza o exame, não divulga números.

Os testes de ambos os laboratórios são oferecidos apenas com exame médico em hospitais parceiros e custam entre R$ 150 e R$ 160.

Além disso, a rede Dasa também disponibiliza a coleta domiciliar, a R$ 260. "Quando um paciente se desloca a um laboratório, há um risco aumentado de transmissão, pois entra em contato com outros pacientes e com profissionais de saúde", explica o laboratório em nota.

O paciente também recebe um kit de máscaras e álcool em gel para para serem utilizados até que saia o resultado do exame, o que acontece em entre 24 e 48 horas.

Outros laboratórios, como a Afip Medicina Diagnóstica, também implementaram seu teste para detecção do Sars-CoV-2. De terça até hoje foram 61 exames realizados e nenhum positivo.

As coletas são feitas apenas com pedido médico e indica-se que sejam avaliados apenas os casos suspeitos, explica Débora Ramadan, diretora técnica do laboratório.

A expectativa é, no futuro, também oferecer o teste a hospitais do setor público. Ali o exame particular sai por R$ 250.

Os exames são baseados em uma técnica conhecida como RT-PCR (reação em cadeia da polimerase em tempo real), que amplifica uma determinada sequência genética (no caso, aquelas do próprio vírus) a partir de uma espécie de isca molecular.

Essa isca (ou sonda) se gruda ao material genético do vírus, permitindo, na presença de um coquetel de reagentes e em temperaturas controladas, que novas cópias dessa sequência sejam produzidas. Se essa amplificação acontece, o resultado é considerado positivo.

É importante que a sonda seja específica o suficiente para não amplificar o material de outros coronavírus aparentados, como o vírus da síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers), que circula desde 2012, ou o da síndrome respiratória aguda grave (Sars), que circulou entre 2002 e 2004.