Doença atinge cerca de 10% das mulheres jovens e pode afetar a fertilidade de até 50% das pacientes 



Por: Déborah Gama

 

A campanha Março Amarelo acontece mundialmente no mês de março, com o intuito de alertar e conscientizar a população a respeito da endometriose, doença que afeta 10 milhões de brasileiras e começa ainda na adolescência.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, mais de 176 milhões de mulheres sofrem com os sintomas da endometriose em todo o mundo - cerca de 10% em idade reprodutiva. A doença acontece devido ao crescimento inadequado do endométrio e pode causar graves problemas quando não tratada, como dificuldades para engravidar e até mesmo a infertilidade.

O dia 13 de março é a data mundial do enfrentamento da doença e chama atenção para a importância do diagnóstico precoce da enfermidade.

 

Como surgiu a campanha “Março Amarelo”? 

O movimento teve início nos Estados Unidos, na cidade de Milwaukee, e foi idealizado pela ativista americana Mary Lou Ballweg, em 1993. A portadora de endometriose fundou a primeira associação voltada à doença - “The Endometriosis Association” - da qual ainda é a diretora-executiva. 

A ideia se espalhou pelo mundo e chegou ao Brasil. Em 2013, começou a ter expansão nacional com o evento I Brasil na Conscientização da Endometriose, no MASP em São Paulo, onde desde então acontece a EndoMarcha, evento de marcha mundial para a conscientização da endometriose.  

 

O que é a endometriose? 

A endometriose é uma doença inflamatória, crônica, multifatorial e ainda sem cura, que impacta fortemente a vida da mulher. A enfermidade consiste na presença do endométrio (tecido que reveste o interior do útero) fora da cavidade uterina, podendo atingir o útero, trompas, ovários, intestino, bexiga, rins, mamas, pulmões e ainda outros órgãos. 

A doença pode causar infertilidade, depressão e fadiga, por ser uma das 10 doenças mais doloridas do mundo. 

“A endometriose também pode afetar os ovários, prejudicando a ovulação e, em alguns casos, sendo uma possível causa do trabalho de parto prematuro”, explica a Dra. Helizabet Salomão, membro da Comissão de Endometriose da FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).  

 

Sintomas comuns da endometriose

A doença pode ser identificada pela paciente a partir dos seguintes sintomas: cólicas menstruais incapacitantes (aquelas que não melhoram com analgésicos via oral e que interferem nas atividades diárias usuais), dor durante a relação sexual, dor ao urinar ou evacuar, dificuldade de engravidar, e barriga inchada no período menstrual.

A endometriose pode ser sintomática ou não, dependendo da pessoa; fique atento e consulte-se regularmente. (Foto: Reprodução/Freepik)

“Entre os sinais de risco estão menarca precoce - quando a primeira menstruação ocorre antes dos oito anos de idade -, menopausa tardia, filhas de mulheres que já tiveram endometriose e alguns fatores imunológicos”, explica a especialista.

Vale destacar que a endometriose também pode ser assintomática em alguns casos, o que reforça ainda mais a necessidade de consultas médicas e exames em dia, pois desta forma a doença pode ser identificada o quanto antes.

Andrea Brígida sofria dores intensas causadas por cólicas desde a primeira menstruação, aos 13 anos. Com o passar do tempo, as dores só pareciam aumentar. “Eu ficava de cama por causa da cólica e chegava a tomar uma cartela de analgésicos por dia. Comecei a tomar anti-inflamatórios e vez ou outra ia ao pronto socorro e ficava no soro, sendo medicada com remédios mais fortes”, conta.

A jornalista de 51 anos também relata que as dores eram tão intensas que a impediam de trabalhar, por causa das constantes pontadas na barriga, coluna lombar e pernas, além da fadiga.

 

Importância de um diagnóstico precoce 

O diagnóstico da endometriose ocorre por meio de exames ginecológicos, laboratoriais e de imagem, como o ultrassom e a videolaparoscopia. Esses exames podem ocorrer por solicitação do ginecologista ou então para investigação da suspeita de endometriose.

Em casos sintomáticos, a paciente deve procurar o ginecologista, que solicitará exames para a confirmação do quadro. Geralmente o processo de diagnóstico acontece em fases mais avançadas da doença, o que pode prejudicar a fertilidade da mulher. Assim que a paciente é diagnosticada com endometriose, o tratamento é iniciado e pode ser medicamentoso (com o uso de remédios como anticoncepcional) ou cirúrgico (seja para retirada do tecido em excesso ou então para retirada do útero).

Andrea foi diagnosticada aos 38 anos e descobriu a doença por acaso. Após identificar um mioma uterino que crescia, a jornalista teve o mioma retirado pela técnica de videolaparoscopia – uma cirurgia minimamente invasiva, que proporciona uma recuperação mais rápida e com menos cicatrizes.

“Fiz a cirurgia em outubro de 2012 e isso representou uma nova vida para mim. Hoje estou excelente! Há quase 12 anos sou assintomática, mas também nunca deixo de me cuidar através da alimentação anti-inflamatória, exercícios físicos, e as consultas e exames anuais de acompanhamento da doença”, relata Andrea.

Consultas ginecológicas regulares podem detectar doenças em fases iniciais e o melhor tratamento para cada caso. (Foto: Reprodução/Freepik)

Para mulheres e adolescentes que sofrem os sintomas da endometriose, é natural a procura por médicos e a busca pelo problema, para que as dores e desconfortos cessem. Contudo, em casos assintomáticos, o diagnóstico é um pouco mais complicado. Para as mulheres que costumam fazer exames de rotina, o ginecologista pode detectar alterações e suspeitar da doença. Por isso, é essencial manter os exames e consultas ginecológicas em dia, para que, caso irregularidades apareçam, sejam tratadas da melhor forma pelos médicos especializados.

 

Paciente funda Associação Endo Mais Vida 

A Associação Endo Mais Vida é fruto do trabalho de conscientização feito pela jornalista Andréa Brígida. Ela decidiu transformar sua história com a doença em uma causa, depois de ter sofrido por quase 15 anos com as dores da Endometriose.

A jornalista é presidente e fundadora da instituição e divulga a doença por meio de palestras, ações socioeducativas, em espaços públicos e privados, pelas redes sociais, em programas de rádio e de TV, a fim de alertar a sociedade.

Andrea Brígida sofreu com dores da endometriose por quase 15 anos e escolheu trabalhar com a conscientização da doença. (Foto: Arquivo pessoal)

“A endometriose é um caso de saúde pública, então precisamos de informação, campanhas educativas, que alertem a sociedade. Um dos maiores objetivos da Associação é tirar a doença da invisibilidade e ajudar mulheres a conhecer seu corpo e os sintomas da doença, para que sejam diagnosticadas o quanto antes”, diz Andrea.

A jornalista também compartilha informações sobre a endometriose pelo perfil no Instagram (@andreabrigida_endometriose).