A campanha busca promover conversas sobre saúde mental com foco na importância do diálogo e do tratamento adequado
O setembro amarelo é o mês mundial de prevenção ao suicídio. No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV), em conjunto com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM), é uma das entidades que comanda e promove ações e campanhas para o mês de setembro. A temática do suicídio é um tabu na sociedade brasileira, o que faz com que falte informação e crie-se preconceitos em relação a conscientização do tema.
No ano de 2025, a campanha completa onze anos de existência e, atualmente, é vista como o principal movimento de mobilização nacional em prol da valorização da vida e prevenção a pensamentos suicidas. O tema central deste ano é “Conversar pode mudar vidas”, que busca reforçar a ideia de que o diálogo é o melhor caminho para quem está sofrendo em silêncio. De acordo com o CVV, a morte por suicídio é um problema de saúde pública e pode ser prevenida, e é a partir da conversa que essa prevenção começa. O Governo Federal afirma que, no Brasil, são registrados aproximadamente 14 mil casos por ano, sendo em média 38 vítimas de suicídio por dia.
A temática deste ano vem de um lugar além da conscientização, que se trabalha desde 2014, e vai para um ponto de diálogo aberto sobre os sentimentos, emoções e pensamentos, trazendo para pauta a importância de conversar e não guardar o que se sente para si. “Através do diálogo a gente consegue criar um ambiente de acolhimento, sem julgamento. Ajuda a pessoa a não se sentir sozinha e sem desesperança”, afirma o psicólogo clínico Pablo Carpinter.
História do “ Setembro Amarelo”
A campanha do setembro amarelo surgiu nos Estado Unidos e foi inspirada na história do adolescente Mike Emme, que tirou a própria vida aos 17 anos, em setembro de 1994. O jovem possuía um carro amarelo, e no velório dele foram distribuídos cartões com fitas amarelas e frases de motivação para qualquer um que pudesse estar enfrentando problemas psicológicos. Foi daí que surgiu a cor amarela como símbolo de representação da prevenção ao suicídio.
Mustang amarelo de Mike Emme, menino que inspirou a campanha do "Setembro Amarelo". (Foto: Reprodução/ YellowRibbon)
Em 2014, o movimento foi adotado no Brasil pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). E, há 11 anos, a iniciativa cresce e ganha mais voluntários. Segundo o Centro de Valorização da Vida, em 2024, foram oferecidos 2,7 milhões de apoios e mais de 3 mil pessoas se voluntariaram.
Ainda na Organização, é por meio de movimentos como esse que se tem a oportunidade de tratar a questão do suicídio de maneira consciente e responsável. Que abrange diversas camadas da população por meio da imprensa, das redes sociais, de debates, palestras e diversas outras plataformas.
O Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio é lembrado em 10 de setembro, mas as ações de conscientização se estendem ao longo de todo o ano. Iniciativas como o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferecem apoio emocional gratuito e sigiloso 24 horas por dia, todos os dias da semana.
Embora taxas mundiais de suicídio estejam diminuindo, América Latina tende a um aumento de casos
O comportamento suicida é um problema que impacta a sociedade como um todo, de acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), todos os anos, mais pessoas morrem como resultado do suicídio do que malária, HIV, câncer de mama ou guerras e homicídios. Os dados mostram que não são casos isolados, e sim uma epidemia que deve ser combatida com o esforço tanto do poder público quanto da comunidade.
Entre jovens de 15 e 29 anos, tirar a própria vida é a quarta maior causa de morte, podendo afetar pessoas de diferentes origens, sexos, culturas, classes sociais e idades. E, também de acordo com o CVV na “Cartilha Falando Abertamente sobre suicídio”, o ato de interromper a própria vida é causado por um conjuntos de sintomas e situções em pessoas que desejam aliviar pressões sociais como cobranças sociais, culpa, remorso, depressão, ansiedade, medo e outras causas. Essa junção de sentimentos depreciativos é chamada de ambivalência.
Mesmo com uma tendência mundial de diminuição dos índices de suicídio, segundo dados da OMS, a região das Américas tem apresentado um um crescimento contínuo. Entre 2000 e 2019, a taxa global caiu 36%, enquanto no mesmo período, nas Américas, as taxas aumentaram 17%.
“Além da depressão, a Associação Brasileira de Psiquiatria vai dizer que 90% dos suicídios é porque a pessoa não teve um tratamento adequado, ou ela não buscou ou não teve acesso. Além de outros transtornos psiquiatricos que também são associados ao suicídio, como bipolaridade, esquisofrenia, etc”, conta o psicólogo Pablo Carpinter.
Psicólogo clínico, Pablo Carpinter, destaca a dificuldade para acesso a tratamentos de prevenção ao suicídio e depressão. (Foto: Acervo Pessoal)
A mais de 10 anos organizações brasileiras se movimentam para excluir o estigma que existe na comunidade ao falar de suicídio. E, por mais que ainda seja um processo, hoje muitos indivíduos já entendem que tirar a própria vida ou o pensamento do mesmo vem de um lugar de desespero e não é motivo de vergonha.
Quando existe a suspeita de que um amigo ou familiar está passando por pensamentos de autodestruição, há formas de identificar o que está acontecendo e protocolos publicados por especialistas do que fazer em certas situações. De acordo com a Organização Setembro Amarelo frases como “Quero desaparecer”, mudanças de comportamento, piora no desempenho escolar ou no trabalho, alteração no sono ou apetite são fatores que devem ser considerados. De acordo com Carpinter, “A lista de risco não quer dizer que a pessoa vai chegar ao suicídio por passar por aquelas situações, mas podem indicar um grande sofrimento psíquico e consequentemente predispor ao ato”.
Caso haja esse tipo de suspeita, no lugar de familiar ou amigo, existem alguns caminhos a se seguir. Segundo o psiquiatra Neury Botega, para o portal do CVV, a sigla ROC, desenvolvida pelo médico, pode ajudar a saber como lidar com esse tipo de situação. “R” refere-se a REPARE , indicando que grande parte das vezes quando uma pessoa está pensando em tirar a própria vida existem sinais e ao repararmos o que se passa ao nosso redor podemos ajudar. “O”, de ouvir com atenção, escutar quando alguém precisa falar é essencial para ajudar, ouvir sem julgamentos, sem pressa e sem o objetivo de aconselhar (isso exige conhecimento) é um caminho. E por último “C”, de conduzir, saber conduzir a pessoa, agir por ela quando a mesma já não consegue mais, o ideal é levá-lo (a) ao atendimento de um psiquiatra que tem o conhecimento e instrução necessária para lidar com pessoas que estão correndo risco de tirar a própria vida.
Canais disponíveis para ajuda
Como um movimento em conjunto entre diversas organizações, existem vários meios disponíveis para pedir ajuda caso esteja enfrentando risco de tirar a própria vida. O Disque 188 pode ser usado 24 horas por dia, sem custo de ligação, onde pessoas capacitadas estão abertas para conversar com qualquer um que as ligue. Além do telefone, o chat do Centro de Valorização da Vida (no site da Instituição) também está aberto com voluntários treinados que trabalham todos os dias, ficando disponível também o e-mail da instituição (também disponível do site na Organização) e pontos físicos de atendimento em todo Brasil. Na Barra da Tijuca, o endereço fica no Città Office Mall, Av. das Américas 700.
Caso não esteja procurando ajuda, mas queira participar do voluntariado, existem vagas disponíveis na unidade da Barra, para entender mais como fazer parte da ação acesse o link.
Ações relacionadas ao Setembro amarelo na Barra da Tijuca
Na Universidade Estácio de Sá, é disponibilizado o Serviço Escola de Psicologia (SEP), que são atendimentos psicológicos gratuitos que acontecem o ano inteiro de forma gratuita. O atendimento é realizado por alunos, que colocam em prática tudo que aprenderam na sala de aula. Todas as sessões são supervisionadas pelos professores da unidade, que tem a formação adequada para estar presente. Na Barra da Tijuca o campus Tom Jobim fica na Av. das Américas, 4200 e possui esse serviço. Para participar a inscrição deve ser feita pelo site da unidade que deseja (nem sempre existem vagas abertas).
Na Universidade Veiga de Almeida existe o programa SPA (Serviço de Psicologia Aplicada) que atende o público o ano todo, com consultas realizadas por alunos e com supervisão de professores capacitados. Para participar existe um custo simbólico que mantém o programa funcionando. Além deste programa, a UVA, no mês de Setembro, está com um serviço de plantão psicológico gratuito, com atendimentos emergenciais que oferecem um espaço de escuta e acolhimento a quem precise. E, caso seja identificada a necessidade de acompanhamento psicológico, o paciente é encaminhado para o SPA ou outro serviço de atendimento. Na Barra da Tijuca a UVA fica na Av. General Felicíssimo Cardoso 500 (bloco B, 3° andar). Para dúvidas, fica disponível o email da unidade Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo., o telefone (21) 2574-8898 e o Whatsapp (21) 97214-1488.
No dia 13 de Setembro, a ONG Nóiz, localizada na Cidade de Deus promove uma ação em prol do “Setembro Amarelo”, a iniciativa será uma palestra do médico psiquiatra Ervin Cotrik, para jovens e adultos. O objetivo é incentivar a pseudoeducação e combater o preconceito ao falar de saúde mental, falando sobre medidas de prevenção, sinais de alerta e formas de tratamento. A ONG fica localizada na Rua Vila Nova Cruzada 23, Cidade de Deus (Karatê - Rocinha 2), Jacarepaguá.
Ação na ONG Nóiz com o médico psiquiatra Ervin Cotrik. (Foto: Divugação)