Como o bairro se modificou ao longo do século XX até chegar ao seu apogeu no novo milênio

Por Marcelo Perillier

Chegamos ao capítulo final desta grande jornada sobre a história da Barra da Tijuca. Vimos como o bairro foi cuidado pela família de Estácio de Sá, até passar pelos monges beneditinos. Assim como a passagem das terras para o Banco de Crédito Móvel e, finalmente, a divisão em geblas, compradas por grandes empresários do Rio, que construíram a Barra da Tijuca de hoje.

Em 1875, a Companhia Ferro Carril de Jacarepaguá fez com que os bondes chegassem até a Taquara e a Freguesia, mas não fez linhas para a Barra. Com isso, o local só podia ser atingiado por meio da via marítima (lagoa e oceano). Somente na administração Pereira Passos (1902- 1906), com as reformas estruturais na cidade, que a região ganhou melhorias, com a pavimentação do caminho do Alto da Boa Vista e sua continuação até a estrada da Barra da Tijuca.

No início do século XX, a Barra era conhecida por ser um lugar distante de tudo. Muitos vinham para cá a fim de relaxar, espairecer ou mesmo se “divertir”. Há relatos de que Getúlio Vargas jogava partidas de golfe no clube do Itanhangá e depois caía na folia no Bar do Oswaldo, famoso pela bebida “coquinho”: água de coco com um toque especial de teor alcoólico.

Muitos diziam que ela era perfeita para iniciar a noite, para ser finalizada nos hotéis próximos ao bar. Já Vargas, pela lenda, tinha um lugar cativo no próprio cantinho do seu Oswaldo. E como as pessoas vinham para a Barra! Simples: pela Estrada Velha do Joá, que ligava o bairro a São Conrado e a Vista Chinesa. Era a única passagem para a Barra, nas décadas de 1930 e 1940, criada pelo interventor federal - no Estado Novo (1937- 1945), Getúlio Vargas implementou uma ditadura fascista no Brasil e interventores nomeados por ele eram quem administravam os estados brasileiros no período - Henrique Dodsworth (1937-1945), com a melhoria da estrada da Barra da Tijuca e a ligação desta com a estrada do Joá, com a inauguração da Ponte Velha sobre a lagoa da Tijuca, em 1939. Por isso que o local era perfeito para uma boa casa de veraneio.

Já o prefeito - com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939- 1945), a ditadura fascista de Vargas acabou e o país retornou ao sistema presidencialista, com eleições para presidente, governador, prefeito, deputados e vereadores - Mendes de Moraes (1947- 1951) pavimentou a avenida litorânea – antiga Sernambetiba e atual Lucio Costa – e abriu a estrada Grajaú-Jacarepaguá, ligando a região até a área da Grande Tijuca (Grajaú, Andaraí, Tijuca, Vila Isabel). Em 1960, o prefeito Negrão de Lima construiu mais uma ponte sobre a lagoa da Tijuca, a Ponte Nova.

Contudo, a grande transformação na Barra veio em 1969, quando Negrão de Lima, então governador da Guanabara, anunciou um concurso para eleger o melhor plano de urbanização para o local. O vencedor foi o de Lucio Costa, o mesmo que fez Brasília e inspirado na “Ville Contemporaine” do arquiteto e urbanista francês Le Corbusier. Porém, muito antes do projeto ser contemplado, grandes empresários já estavam ou tinham adquiridos terrenos na Barra.

Com a extinção da Lei do Morgadio, as sesmarias da família Sá foram vendidas. Algumas terras, por Carta de Arrematação, passaram para Antônio Serpa Pinto que, mais tarde, vieram a se construir a Fazenda da Restinga para, depois, ser subdividida em geblas.

A nova era

Essas terras foram compradas, basicamente, por quarto grandes empresários do Rio: Carlos Carvalho Hosken, da Carvalho Hosken; Francis Walter Hime, da Esta – que depois seria vendida para Tjong Aiong Oei, o “chinês da Barra”; Pasquale Mauro, italiano naturalizado brasileiro; e Múcio Athaide.

O primeiro dos quatro empresários citados comprou 12 milhões de metros quadrados de geblas, adquirindo uma área próxima à Lagoa da Tijuca. Nela, construiu alguns dos principais empreendimentos da Barra, como Península, Rio 2, Cidade Jardim e Ilha Pura (Vila Olímpica Rio 2016). Além disso, Carvalho Hosken também comprou terrenos na avenida das Américas e na avenida Sernambetiba/ Lucio Costa.

O segundo, comprou terrenos de 10 milhões de metros quadrados nas Avenidas das Américas e Ayrton Senna. Dentre os empreendimentos mais famosos construídos nas propriedades da Esta estão os condomínios Nova Ipanema, Novo Leblon, Mandala, Santa Mônica e Santa Marina; BarraShopping; Casa Shopping; Makro; Carrefour; Via Parque; e o Terminal Alvorada, popularmente conhecido como “Cebolão”.

Pasquale Mauro comprou 13 milhões de metros quadrados na avenida das Américas, nas mediações entre a Barra e o Recreio. Neles, foram construídos os condomínios Rio Mar, Hospital Rio Mar, Américas Shopping, Pedra de Itaúna, entre outros.

Múcio Athayde pegou modestos 2 milhões de metros quadrados entre a avenida Senambetiba/ Lucio Costa e a Lagoa da Tijuca. Entretanto, seu projeto, a Athaydeville, é o mais controverso do bairro. Múcio Athayde pretendia inaugurar três grandes torres cilíndricas e envidraçadas, tendo como inspiração o Hotel Nacional, de São Conrado. Porém, apenas uma torre está habitada, a segunda inacabada e a terceira nem saiu do papel.

Parte dos terrenos da Athaydeville foram vendidos para outras empresas, como a Encol, que construiu grande parte dos condomínios localizados na avenida Canal de Marapendi/ Grande Canal/ Prefeito Dulcidio Cardoso, próximos às pontes Oscar Niemeyer e Lucio Costa.

Outros empresários de pequeno porte também compraram terrenos que eram da família Sá ou do Banco de Crédito Móvel.

E assim se encerra a jornada dos “proprietários” da região da Barra. Desde a família Sá, que ficou as sesmarias entre os séculos XVI e XIX, até perderem as terras para os monges beneditinos e para a caducidade da Lei do Morgadio, passando-as para o Banco de Crédito Móvel e aristocratas, até serem adquiridas por grandes empresários, que construíram grandes empreendimentos.

Empreendimentos estes que hoje representam o novo e as transformações da nova era, além do luxo e do glamour que faz a Barra da Tijuca um bairro nobre e sofisticado do Rio de Janeiro.