A Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS) avalia a possibilidade de aplicar a segunda dose de reforço das vacinas contra a Covid-19 um ano após a primeira dose de reforço. A informação foi dada pelo secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, a um podcast e confirmada pela assessoria de imprensa da SMS.

No caso de quem tomou as vacinas CoronaVac, Pfizer e AstraZeneca no esquema inicial, de duas doses, a primeira dose de reforço é a terceira dose, e a segunda seria a quarta. Já para quem tomou o imunizante da Janssen, que é de dose única no esquema inicial, a segunda dose de reforço seria a terceira. As informações são da Agência Brasil.

Segundo a secretaria, a segunda dose de reforço é uma realidade no município do Rio de Janeiro desde 27 de dezembro de 2021, em acordo com a recomendação do Ministério da Saúde, para pessoas com alto grau de imunossupressão.

"Para a população em geral, a Secretaria Municipal de Saúde avalia aplicar a segunda dose de reforço um ano após o recebimento da dose de reforço, ou seja, da terceira dose", explicou a SMS.

Na última segunda-feira (7), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que o tema tem sido discutido pela área técnica da pasta, mas não há previsão de aplicação de quarta dose para toda a população no Brasil.

"A secretária Rosana [Leite de Melo, secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid do Ministério da Saúde] conversou comigo na sexta-feira passada [4] e disse que o grupo técnico, nesse momento, não avalia aplicar a quarta dose. Mas, na prática, seria a dose de 2022. O que nós temos são doses para garantir que as necessárias, recomendadas pelos técnicos, sejam disponibilizadas para a população brasileira", disse o ministro.

Em um extenso boletim sobre os dois anos da pandemia do novo coronavírus, divulgado na manhã desta quarta-feira (9), o Observatório Covid-19 Fiocruz apontou que, mesmo com as incertezas ainda existentes sobre a doença, o atual cenário pode ser encarado com uma janela de oportunidades para bloquear o vírus.

"É fato que a explosão de casos [por causa da variante ômicron] cria temporariamente uma legião de pessoas com resposta imune ao vírus. Mesmo que esta resposta seja de curta duração ou temporária, isso significa que, por algum tempo, haverá centenas de milhares de pessoas ao mesmo tempo imunes a uma nova infecção", afirma o documento assinado pelos pesquisadores da Fiocruz.

"Este cenário pode ser encarado como uma janela de oportunidades. Em um momento em que há muitas pessoas imunes à doença, se houver uma alta cobertura vacinal completa, há a possibilidade de, tanto reduzir o número de casos, internações e óbitos, como de bloquear a circulação do vírus. Isto porque haverá menos suscetíveis, mesmo que temporariamente", diz também o texto.

Segundo o observatório, o momento atual da pandemia no Brasil pode representar uma chance de readequação do sistema de saúde para o atendimento de casos mais graves e o acompanhamento de pessoas infectadas com sintomas mais leves.

Para isso, diz o documento, é necessária a implementação de práticas de telessaúde, testagem estratégica de casos suspeitos e de pessoas do entorno do paciente, além do reforço de estruturas hospitalares e ambulatoriais.

No boletim, os pesquisadores lembram que alguns países e agências de saúde já discutem a transição da caracterização da doença de pandemia para a endemia.

"Essa mudança não representa, de nenhuma maneira, a eliminação do vírus e da doença, nem a redução da adoção de medidas de proteção individual e coletiva."

De acordo com o documento, a classificação de "endemia" somente poderá ser pensada após a drástica redução da transmissão pelas novas variantes e por meio de uma campanha mundial de vacinação.

O texto faz inúmeras defesas à vacinação em massa contra a Covid-19. Diz que caso o país, neste momento, intensifique a oferta de vacinas, conseguirá, "em tese, impedir a transmissibilidade do vírus de forma comunitária por algum tempo".

O boletim aponta que o avanço da vacinação no Brasil, depois de um ano, tem ocorrido, mas não de forma homogênea e evidencia as diferentes realidades do país.

Os pesquisadores explicam que enquanto as regiões Sul e Sudeste apresentam elevado percentual da população imunizada, áreas das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste "ainda têm bolsões com baixa imunização", lembrando que esses locais têm menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), populações mais jovens, menos escolarizadas, baixa renda e residentes de cidades de pequeno porte.

"Para estes locais, o fim da pandemia parece mais distante que para grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo, que já apresentam elevada cobertura vacinal com duas doses", aponta o boletim.

Em São Paulo, segundo o governo João Doria (PSDB), 80% da população paulista já tomaram ao menos duas doses da vacina. Nesta quarta, o tucano disse que o estado vai adotar a aplicação da quarta dose, mesmo com o Ministério da Saúde afirmando que ainda não há dados suficientes para se comprovar a necessidade para isso.
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Boletim sugere quatro estratégias de saúde pública:
- Dar oportunidade para vacinação, com unidades com horário de funcionamento expandido e em postos móveis
- Busca ativa por pessoas que ainda não começaram a se vacinar Massificar a vacinação de crianças
- Reforçar os benefícios da higienização e do bom uso de máscaras

Os cientistas citam também números e reflexos sociais dos dois anos de pandemia no mundo e fazem comparações com o Brasil.

Lembram, por exemplo, que o país, com cerca de 630 mil mortes, representa 11% dos 5,71 milhões de óbitos provocados pela doença.

"Enquanto no mundo a mortalidade por milhão de habitantes foi de 720, no Brasil ela alcançou 2.932, ou seja, quatro vezes maior, resultando em uma calamidade que afetou diretamente a saúde e as condições de vida de milhões de brasileiros", ressaltam.

Além de impactar a saúde, a pandemia, reforçam os pesquisadores, resultou em uma combinação de efeitos sociais e econômicos que agravam as desigualdades estruturais da sociedade.

"O Brasil é um dos países de maior desigualdade social no mundo, o que amplia a vulnerabilidade de diferentes territórios e populações à pandemia, em favelas, comunidades indígenas e quilombolas, entre outras", concluem.

Por: Raquel Lopes

O número de diagnóstico de novos casos de hanseníase caiu 35% no primeiro ano da pandemia do novo coronavírus. Foram 27,6 mil casos em 2019 contra 17,9 mil em 2020.

Já em 2021 foram 15.155 novos casos, segundo os dados preliminares que vão até 6 de dezembro. Os dados foram apresentados pela pasta nesta terça-feira (25).

Arnaldo Medeiros, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, destacou também os dados de hanseníase em menores de 15 anos. Foram 1.545 em 2019 contra 879 em 2020, redução de 43%.

"A gente tem falado de menores de 15 anos, ministro, porque isso de alguma forma tem relação com o contato. A linha de transmissão da hanseníase é lenta. Um adulto não diagnosticado acaba contaminando os seus filhos", disse.

Causada por uma bactéria, a hanseníase acomete principalmente nervos periféricos e pele, podendo causar incapacidades físicas, principalmente nas mãos, olhos e pés.

Segundo a pasta, apesar de haver cura, a doença permanece endêmica em várias regiões do mundo, como no Brasil, na Índia e na Indonésia.

Os sinais e sintomas mais frequentes são dormência, formigamento e diminuição da força nas mãos, pés ou pálpebras. Além de machas brancas ou avermelhadas com a diminuição ou perda da sensação de calor, de dor ou de tato.

Nereu Mansano, representante do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), avaliou que a queda nem sempre é boa. Isso pode estar relacionado com a pandemia do novo coronavírus e a dificuldade de acesso ao sistema de saúde nesse período.

"Isso aumenta o risco do diagnóstico numa fase mais avançada e com maior risco de sequela", destacou.

Os dados apontam ainda que de 2016 a 2020 foram diagnosticados 115,3 mil casos novos de hanseníase no país. Desses, 86,2 mil ocorreram no sexo masculino, o que corresponde a 55% do total. A maioria da população é parda e com o ensino fundamental incompleto.

Medeiros informou que o diagnóstico e tratamento são oferecidos no SUS e, neste ano, serão incluídos novos testes laboratoriais complementares ao diagnóstico da hanseníase, entre eles um teste rápido.

A pasta ressaltou que, com essa incorporação, o Brasil será o primeiro do mundo a ofertar em nível assistencial, de forma universal e no sistema público de saúde, um teste rápido para apoiar o diagnóstico.

O MPF (Ministério Público Federal) defendeu que o uso de cloroquina e hidroxicloroquina na prevenção e tratamento da Covid-19 não deve mais ser considerado pelo Conselho Federal de Medicina, em processo movido pela Defensoria Pública da União contra o CFM.

A manifestação defende a imediata suspensão do parecer 4/2020, "documento em que o conselho profissional ainda considera o uso de cloroquina e hidroxicloroquina em pacientes com Covid-19, apesar do posicionamento contrário da OMS [Organização Mundial de Saúde] e de órgãos públicos brasileiros especializados".

O parecer do CFM diz que o médico tem autonomia médica para que, em comum acordo com o paciente, estabeleça qual tratamento será realizado. Esse entendimento abre brecha para que remédios ineficazes continuem a ser receitados.

"O MPF defendeu ainda que o CFM delibere sobre a possibilidade de infração ética dos médicos que vierem a prescrever tais substâncias para a prevenção e tratamento da Covid-19", afirma o Ministério Público Federal.

Em entrevista à Folha, o presidente do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e secretário de Saúde do Maranhão, Carlos Lula, afirma que ainda há médicos que receitam o "kit Covid" no SUS.

Trata-se de remédios como hidroxicloroquina e ivermectina, com ineficácia comprovada contra a doença.

"A autonomia médica não é isso, não quer dizer que eu posso prescrever o que eu bem entender, não é isso a autonomia médica. Ela tem limites. Se eu tenho evidência científica que determinado medicamento não é eficaz para alterar a condição clínica do paciente, o médico não pode receitar o medicamento", diz Lula.

Na manifestação, o Ministério Público Federal afirma que CFM deve seguir as diretrizes da Organização Mundial da Saúde, "que são fortemente contrárias ao uso de hidroxicloroquina ou cloroquina contra o novo coronavírus, independentemente da severidade do quadro e da duração dos sintomas".

"Tal recomendação é fruto de um estudo envolvendo mais de 100 países que constatou a ineficácia desses medicamentos em reduzir a mortalidade de pacientes hospitalizados com Covid-19", diz a manifestação. "Além da OMS, órgãos nacionais como a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde [Conitec] e a Coordenação de Incorporação de Tecnologias do Ministério da Saúde também recomendam não utilizar cloroquina ou hidroxicloroquina no combate à doença", afirma o texto.

Ao assumir o Ministério da Saúde, em março de 2020, Marcelo Queiroga anunciou que promoveria o debate na Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS) para encerrar a discussão sobre o uso do chamado kit Covid.

No entanto, o tema tem ganhado holofotes nos últimos dias após o secretário de Ciência e Tecnologia da pasta, Hélio Angotti, rejeitar diretriz que contraindica os medicamentos.
Na avaliação do Ministério Público, ao expressamente manter aberta a possibilidade de uso de tais drogas no combate à Covid-19, "o CFM dá suporte normativo a situações que colocam a vida e a saúde das pessoas em risco."

"Além de violar a Constituição Federal, o conselho desrespeita decisão do Supremo Tribunal Federal [STF] que recomendou precaução e autocontenção se houver alguma dúvida sobre o impacto real de uma determinada substância na saúde da população", diz trecho da manifestação.

Questionado sobre a manifestação do Ministério Público, o Conselho Federal de Medicina não respondeu até a publicação desta reportagem.