Redação

No calendário nacional, a primeira coisa que as pessoas dão atenção são as datas dos feriados. São eles que possibilitam se programar para uma viagem prolongada, uma reunião com amigos sem preocupações ou, no mínimo, uns dias extras para descansar. Ou para festejar, como é o caso do Carnaval, por exemplo.

Mas algumas datas comemorativas estrangeiras se tornaram muito famosas por aqui. O bastante para serem incluídas no calendário nacional. Os motivos para isso variam, podem ser por fatores econômicos ou simplesmente a vontade de aproveitar a comemoração.

Quer saber 5 feriados estrangeiros que celebramos em nosso país e suas origens? Continue lendo.


Halloween

O Halloween se tornou uma das primeiras datas estrangeiras comemorativas que mais caíram no gosto do brasileiro, e toda criança que faz curso de inglês a comemora.

Embora para nós seja uma famosa data americana, a comemoração do dia 31 de outubro tem origem britânica. Seu nome deriva de “All Hallow’s Eve”, termo que designa a noite anterior ao Dia de Todos os Santos, dia 1º de novembro.

Historiadores apontam sua origem para o antigo festival de Samhain, no séc. XVIII e também era celebrada em outras diversas culturas. Sua versão moderna (a que comemoramos nos dias atuais) tomou forma entre 1500 e 1800, e chegou na América em 1845.

Seus hábitos mais marcantes, a farta comilança e a participação de crianças indo de casa em casa, se mantiveram. Mas seus traços mais reconhecíveis, a abóbora entalhada que se torna uma luminária (baseada em uma antiga lenda de um ferreiro que conseguiu ser mais esperto que o diabo), as fantasias e a popular brincadeira infantil de doces ou travessuras (“trick or treat”, em inglês) surgiram no séc. XX.


Valentine’s Day

O Valentine's Day, ou Dia de São Valentim, é comemorado não só nos Estados Unidos mas em vários outros países de língua inglesa e latina. É a celebração do dia dos namorados, do amor e da união entre casais.

A data festiva é no dia 14 de fevereiro, em homenagem ao bispo Valentim, que é considerado um mártir, morto de Roma por desobedecer às ordens do imperador Cláudio II ao realizar casamentos secretamente.

No séc. V a Igreja Católica oficializou a data, como uma forma de estimular casais a legitimar a união e formar uma família. No séc. XVIII a Igreja retirou a data das festividades católicas, mas acabou se tornando uma comemoração popular.

No Brasil a data se tornou algo mais comercial, e é comemorada no dia 12 de junho, véspera do Dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro.


Black Friday

Embora não seja feriado, a Black Friday se tornou uma data de extrema importância. Ela surgiu nos Estados Unidos e é comemorada um dia após o feriado de Ação de Graças, geralmente a última sexta-feira do mês de novembro. E abre o período de compras natalinas.

Nela, as grandes lojas varejistas do país organizam descontos generosos em seus produtos, que faz com que as pessoas durmam na rua para garantir que vão ser as primeiras a entrar na loja e comprar o que desejam por um preço muito atrativo. Em algum momento você já viu algum vídeo de pessoas quase se pisoteando para comprar uma TV ou algum outro eletrônico.

O nome vem da “sexta-feira negra” que aconteceu em Nova York em 1869. Mas o termo como o usamos hoje surgiu na Flórida, anos mais tarde. Para que, em meados dos anos 90, ganhasse o país e tomasse a proporção que tem hoje.

Aqui no Brasil, a data passou a ser usada pelo comércio em 2010. Hoje é uma das mais esperadas pelas lojas para vender ao máximo.


St. Patrick’s Day

Mesmo não sendo uma data americana, o dia 17 de março, que celebra a morte do padroeiro da Irlanda, é amplamente comemorado na terra do Tio Sam. Isso graças à enorme quantidade de imigrantes irlandeses que vivem no país.

Lá fora a data ganhou um viés de celebração da cultura e costumes irlandeses. As pessoas se vestem de verde e branco e participam de festas, desfiles e festivais, com muita música, dança, comida e, é claro, cerveja.

Aqui no Brasil a data ganhou um grande apelo entre os pubs, que fazem elaboradas festas temáticas servindo cerveja verde para a comemoração. 


Star Wars Day

Essa é uma data que possui um público muito especial e cativo. Nela, os fãs geeks ao redor do mundo se reúnem para celebrar a cultura dos filmes da franquia Star Wars. A data do dia 4 de maio (May 4th) surgiu como um trocadilho com a famosa frase dos filmes “May the Force be with you” (Que a Força esteja com você), ficando “May the Fourth be with you”.

Mas os fãs também celebram a data do dia 25 de maio, que é quando o primeiro filme foi lançado nos cinemas, em 1977, quando também é comemorado o Dia do Orgulho Nerd (ou Dia da Toalha), que homenageia tanto os filmes de George Lucas quanto a obra literária “O Guia do Mochileiro das Galáxias”.

Flávia G. Pinho (Folhapress)

Uma nova marca de móveis desmontáveis busca atender quem trabalha em casa, mas não tem de um espaço exclusivo para isso. Lançada em junho, a Workally funciona no modelo de assinatura, contratado por empresas para seus funcionários em home office.

Com operação em todo o país, a companhia oferece duas opções de estações de trabalho, que podem ser montadas e desmontadas em minutos, sem uso de ferramentas. Ambas são fabricadas pela Alberflex em MDF e tubulações metálicas.

O modelo Minimally tem luminária de LED, biombo com tratamento acústico e tomadas integradas. Já o escritório Cally é dotado também de anteparos laterais e plataformas para teclado e monitor com regulagem de altura. Desmontadas, as estruturas podem ser guardadas debaixo de um sofá, por exemplo.

A assinatura do modelo mais compacto custa R$ 65 e, do mais completo, R$ 145 -preços para no mínimo 50 unidades. A marca se responsabiliza pela entrega e retirada dos móveis no endereço de cada funcionário.

As peças também podem ser customizadas com as cores e o logo de cada empresa. Dessa forma, o profissional tem a sensação de entrar no escritório, afirma o arquiteto Jean-François Imparato, 52, fundador da Workally.

"Assim como as grandes empresas alugam automóveis para seus executivos, elas podem assinar os móveis para os colaboradores que estiverem em home office. Achamos que a propriedade não faz mais sentido", diz.

Especializado em projetos corporativos, o arquiteto criou a Workally quando precisou repensar a sua atuação durante a pandemia. Francês, ele está desde 2012 no Brasil e assinou escritórios de grandes empresas, como o da Booking.com, da Chanel e da Evino.

Seu último projeto do gênero, para a Midway Financeira, foi entregue em dezembro de 2019. A equipe teve apenas dois meses para aproveitar o novo espaço antes da migração para o home office. ​

"Com os escritórios vazios, vi que nasceria um novo tipo de comportamento. Passei, então, a desenvolver um produto que permitisse, a qualquer um, trabalhar em casa ou em qualquer outro lugar."

Na opinião do arquiteto, o formato híbrido de trabalho veio para ficar e não será mais permitido às empresas improvisar -a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) determina que os empregadores são responsáveis por garantir boas condições de trabalho a seus colaboradores em home office, o que inclui fornecer mobiliário ergonômico.

"Nem todo mundo tem espaço e dinheiro para montar um escritório em casa, e essa solução permite que qualquer um tenha um local adequado para trabalhar". Por enquanto, os móveis Workally só estão disponíveis para o mercado corporativo, mas Jean-François não descarta a possibilidade de, em breve, fazer seus produtos chegarem ao varejo.

Phillippe Watanabe (Folhapress)

Um recorde de encalhe de baleias jubarte foi registrado no Brasil no primeiro semestre deste ano, segundo monitoramento feito pelo Projeto Baleia Jubarte em todo o litoral do país. Se o ritmo atual de incidentes permanecer, 2021 pode ser o ano com mais encalhes de jubartes. Foram 48 encalhes desses cetáceos nos seis primeiros meses de 2021.O recorde anterior pertencia ao ano de 2016, com 22 incidentes documentados. Para termos de comparação, o primeiro semestre de 2021 já superou os encalhes anuais registrados nos anos de 2002 até 2009, 2011, 2012 e 2015.

"Talvez estejamos começando o pior ano de encalhes desde que começamos a registrá-los", afirma Milton Marcondes, coordenador de pesquisa do Projeto Baleia Jubarte.

São diversas as razões possíveis para encalhe, que na maior parte das vezes é sinônimo de baleias mortas chegando à praia. Os óbitos podem ser naturais, como por velhice ou por doença, podem ser resultado de filhotes que se separaram das mães, mas também podem ser resultado de atividades humanas, como contato com redes de pesca e poluição.

Há ainda outras possibilidades. Segundo Marcondes, baleias magras e se alimentando nos litorais de São Paulo e Santa Catarina -estados líderes nos encalhes- têm sido observadas. Os animais que migram pelas costas brasileiras normalmente se alimentam nas águas antárticas da Geórgia do Sul e vêm ao litoral brasileiro para se reproduzir e ter filhotes.

O pesquisador afirma que a maior parte dos animais encalhados neste ano são jovens que ainda não alcançaram a maturidade sexual e estão aproveitando os volumosos cardumes de peixes nos litoral paulista e catarinense para se alimentar.

"Como não estão na idade de reproduzir, aparentemente não estão subindo para Abrolhos e talvez fiquem pelo sul e sudeste se alimentando", diz Marcondes.

O Parque Nacional Marinho de Abrolhos é conhecido como um importante berçário das baleias jubartes (Megaptera novaeangliae) no oceano Atlântico Sul, o que proporciona turismo de observação de cetáceos na área.

As jubartes se alimentam de krill (diminutos crustáceos) e pequenos peixes. Para o banquete, as baleias sugam a água do mar e "filtram" suas presas. Animais mais magros poderiam indicar, segundo Marcondes, uma diminuição recente da oferta de krill. O impacto das mudanças climáticas nesses pequenos crustáceos com complexo ciclo de vida causam preocupação entre pesquisadores, especialmente pela participação do krill na cadeia alimentar.

Uma pesquisa publicada na revista Nature Climate Change mostrou que as mudanças climáticas podem empurrar mais para o sul as áreas onde o krill podem se desenvolver, além de poderem desencadear uma certa incompatibilidade entre o ciclo de vida do krill e as condições oceânicas durante o ano.

No site The Conversation, os autores da pesquisa escreveram que, em momentos passados de pouca disponibilidade de krill, houve queda no sucesso reprodutivo de espécies como lobos-marinhos, pinguins e albatrozes, espécies que predam esses crustáceos.

"A cada ano, as baleias jubarte migram dos trópicos para os pólos para se alimentar da enorme quantidade de krill de verão. Se o pico do krill ocorrer mais cedo, as baleias devem se adaptar chegando mais cedo ou acabarão com fome", dizem os autores. Mas o maior número de encalhes também pode ser tido, indiretamente e em parte, como uma espécie boa notícia. "A população de baleias jubarte está crescendo", afirma Marcondes. "Com mais baleias você tem mais encalhes."

De fato, a situação das jubartes melhorou a ponto desse mamífero ter sido retirado da última lista de espécies ameaçadas de extinção. O "Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção", do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), aponta que a continuidade da proibição de caça e as iniciativas de conservação são essenciais para a espécie continuar fora de risco.

A nem tão antiga pesca comercial de baleias impactou fortemente as populações de jubartes no mundo. Uma moratória de caça de baleias, instituída pela International Whaling Commission e em vigor desde 1985/1986, tem ajudado na recuperação das jubartes, segundo a NOOA (National Oceanic and Atmospheric Administration, agência dos EUA).

Mas isso não quer dizer que todas as ameaças foram extintas. Os grandes cardumes no litoral de São Paulo e Santa Catarina aproximam as jubartes da atividade pesqueira comercial, o que pode colocar esses cetáceos em risco.

O ano de 2021 também já detém número recorde de baleias presas –e mortas– em redes de pesca, segundo Marcondes, que ainda contava com dados provisórios na última vez em que conversou com a Folha.

O pesquisador diz estar preocupado com a mortalidade atípica nesse ano. "Se forem mesmo mudanças climáticas afetando o ecossistema da Antártida e diminuindo a oferta de alimentos para as baleias, isso pode ser um problema sério", afirma Marcondes. "De qualquer maneira, se não é um problema que afeta a recuperação da espécie, certamente é um problema de bem-estar animal. As baleias que morrem por falta de alimento ou vítimas de emalhe em redes de pesca sofrem muito."

Redação

No passo em que a agenda climática brasileira ganha cada vez mais relevância internacional, o desmatamento e a emissão de gases de efeito estufa crescem no país, conforme os dados do SEEG Municípios. Apesar de existirem esforços envidados pela sociedade civil e pelo governo federal para identificar mecanismos de financiamento para projetos de mitigação e adaptação, e a despeito de sua importância estratégica, o financiamento climático para governos subnacionais é ainda pouco explorado no Brasil.

Neste contexto, orientado pela visão de apoiar as capitais brasileiras em suas trajetórias para tornarem-se cidades mais sustentáveis, o Fórum CB27, que reúne os dirigentes das pastas responsáveis pelo meio ambiente nas prefeituras das 26 capitais brasileiras e no governo do Distrito Federal, promove nesta sexta-feira (16/07) o XXI Encontro Nacional, com o objetivo central de promover o debate acerca do financiamento para a ação climática local.

Realizado em formato híbrido, o encontro terá transmissão ao vivo a partir de Rio Branco, capital do Acre e centro geográfico da Floresta Amazônica, e reunirá Eduardo Cavaliere, secretário de Meio Ambiente do Rio de Janeiro e Coordenador Nacional do Fórum CB27, Normando Salles, secretário de Meio Ambiente de Rio Branco, Carlos Ribeiro, secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Recife, Germano Bremm, secretário de Meio Ambiente e da Sustentabilidade de Porto Alegre e Elizabeth Sá, secretária de Meio Ambiente de Teresina.

– É um privilégio receber autoridades das 27 capitais do nosso país, Rio Branco sente-se honrada em sediar o XXI Encontro Nacional do CB27, um encontro de trabalho dos secretários do Meio Ambiente, todos unidos, num esforço global, criativo e perseverante, para melhor utilização do meio ambiente – afirma o prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom.

Durante o encontro, serão apresentadas boas práticas e experiências exitosas de cidades brasileiras na pauta de financiamento climático. Além dos secretários de Meio Ambiente e de representantes do ICLEI América do Sul, estarão presentes também instituições financeiras, como BNDES, Banco do Nordeste, BRDE e Climate Ventures.

Com a iniciativa, o CB27 espera contribuir para o amadurecimento da agenda climática a nível local, expandindo as capacidades das partes interessadas e conectando atores para identificação de desafios e oportunidades.

– Rio Branco é o centro geográfico da Amazônia. Cumprindo o compromisso assumido no pacto dos biomas, nossa gestão do CB27 propõe que as capitais brasileiras se dediquem ao financiamento climático e à proteção dos ativos ambientais como tema central para cooperação. Estamos em busca de soluções para o financiamento da ação climática. Menos carbono, mais desenvolvimento. A agenda construída no CB27 parte da defesa dura dos biomas como condição de retomada verde das capitais brasileiras. É este espírito que nos leva da Mata Atlântica à Amazônia – – afirma Eduardo Cavaliere, secretário de Meio Ambiente do Rio de Janeiro e Coordenador Nacional do Fórum CB27.

Em 2019, a SITAWI realizou o estudo “Finanças verdes para cidades brasileiras: mecanismos financeiros”, com o apoio do ICLEI e CB27, cujo objetivo foi identificar mecanismos de apoio financeiro aplicáveis ou já aplicados a projetos verdes no âmbito municipal no Brasil. A pesquisa identificou 71 mecanismos de 25 instituições financeiras que apoiam projetos dentro dos temas elencados, dos quais 50 são nacionais e 21 internacionais. Dentre os temas selecionados, água e saneamento urbano foi o pilar com maior número de mecanismos identificados (39), seguido de eficiência energética (31), mobilidade urbana sustentável (29) e infraestrutura (29). Observou-se que mais de 80% dos mecanismos apoiam projetos de mais de um dos temas elencados. Com este diagnóstico, cabe, portanto, aprimorar as capacidades dos governos locais para acessarem os recursos disponíveis, a partir da elaboração de projetos financiáveis.

O relatório “Financiamento Climático para Adaptação No Brasil: Mapeamento de Fundos Nacionais  e Internacionais” (Instituto Ethos e WWF-Brasil, 2017) também indica que o financiamento climático será o principal vetor para acelerar a redução das emissões de GEE e aumentar a resiliência dos territórios. Este é, também, reconhecido pela Convenção-Quadro das Nações Unidas de Mudança do Clima como um dos principais caminhos para a implementação local do Acordo de Paris.

As cidades têm responsabilidade e capacidade de executar políticas públicas e projetos locais para evitar impactos severos nos seus setores produtivos, no ecossistema biológico e na dinâmica urbana de seus territórios para demonstrar o compromisso com o enfrentamento à crise climática e contribuir para a implementação da NDC brasileira no âmbito do Acordo de Paris, governos locais precisam adotar medidas ambiciosas de mitigação e adaptação, de maneira urgente.

Dhiego Maia (Folhapress)

Ao menos 6.122 crianças e adolescentes foram mortos de forma violenta e intencional no Brasil em 2020, uma alta de 3,6% em relação aos 5.912 casos registrados no ano anterior.
São 12.034 brasileiros que não chegaram à fase adulta por causa da violência, o que representa 17 casos oficiais por dia ao longo dos anos de 2019 e 2020. Os números foram divulgados nesta quinta-feira (15) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em seu 15º anuário, um estudo que disseca a violência no país. A entidade diz que está compilando dados de violência contra crianças e adolescentes de anos anteriores para estruturar uma série histórica.

Os casos registrados no anuário são de homicídio doloso (quando há intenção de matar), feminicídio, lesão corporal seguida de morte, latrocínio (roubo com morte) e assassinatos decorrentes de intervenção policial.

As vítimas, no geral, têm um perfil: são meninos e negros. O crime que mais matou quem tinha até 19 anos em 2020 foi o homicídio doloso (82,4% dos casos). Os estados com as piores taxas por 100 mil habitantes de mortes violentas contra essa parcela da população são Ceará (27,2), Rio Grande do Norte (20,9), Sergipe (20,6) e Pernambuco (20,3). O levantamento chama a atenção para a influência da pandemia de Covid-19 como um agravante da violência letal contra os brasileiros menores de idade.

As vítimas perderam nesse período o principal canal de escuta: a escola. Forçadas a ficarem em casa, também tiveram que conviver mais tempo com pais e cuidadores que, em muitos casos, são os responsáveis pelas agressões.

De outro lado, os organismos de proteção à infância e as próprias polícias também perderam força de atuação nas regiões mais vulneráveis do país. No caso da Polícia Civil, as baixas de pessoal e a suspensão dos trabalhos das delegacias comprometeram a qualidade dos registros das ocorrências e as investigações dos crimes.

A pesquisadora Sofia Reinach, a responsável pelo estudo, fez um recorte por faixa etária. Ela tabelou os casos registrados nos boletins de ocorrência das polícias estaduais e no sistema DataSus, que notifica as agressões que resultaram em mortes cadastradas pelas unidades de saúde.

A pesquisadora descobriu que as crianças são vítimas potenciais de violência doméstica. Já os adolescentes são alvos da violência urbana. "As crianças foram mortas mais em casa, por uma lesão corporal grave com predomínio do uso de faca, com os autores dos crimes identificados como pais ou cuidadores", diz a pesquisadora.

Ao menos 480 vítimas tinham até 14 anos. Entre 0 e 4 anos, foram localizadas 170 crianças mortas violentamente dessa forma. O feminicídio também apareceu em aproximadamente 5% dos registros entre as meninas com até nove anos de idade.

Um crime recente registrado em março deste ano jogou luz sobre a gravidade das agressões domésticas contra crianças. O menino Henry Borel, 4, do Rio de Janeiro, foi assassinado em casa após sofrer 23 lesões.

A perícia no corpo do garoto localizou escoriações e hematomas, infiltrações hemorrágicas em três regiões da cabeça, laceração no fígado e contusões no rim e no pulmão à direita, entre outros. As investigações mostraram que Henry já havia sido agredido em ocasiões anteriores.

O vereador cassado Dr. Jairinho e a namorada dele, Monique Medeiros, 32, mãe de Henry, foram presos sob a suspeita de homicídio duplamente qualificado -por emprego de tortura e impossibilidade de defesa da vítima.

"É um tipo de crime que se espalha pelo país de uma forma silenciosa sem gerar uma indignação. Tem criança sendo espancada e morta dentro de casa", afirma Reinach. Mesmo que a violência não sendo diretamente à criança, ela pode ser facilmente afetada e vir a ser assassinada se estiver em lares cujas mães são agredidas pelos companheiros, conta a pesquisadora.

Nos grupos etários seguintes, a pesquisa mostrou que os homicídios dolosos passam a ter menor participação na distribuição e as mortes decorrentes de intervenção policial têm crescimento desproporcional em relação aos outros tipos de crime.

As mortes por intervenção policial representam 6% e 15% dos casos entre as vítimas de 10 a 14 anos e 15 a 19 anos, respectivamente. "A desigualdade é enorme nessas faixas etárias. Há predominância de meninos negros atingidos por armas de fogo nas vias públicas em algum tipo de intervenção feita pela polícia", diz a pesquisadora.

"Por isso, é fundamental que, ao discutir violência letal de crianças e adolescentes, tratemos de dois fenômenos diferentes conjugados", aponta o relatório. O que ocorre no país, segundo a pesquisa, é uma antecipação na curva etária de vítimas de mortes violentas na comparação com o que se observa em outras localidades, como nos países europeus -onde a faixa etária mais vulnerável está entre 30 e 44 anos, por exemplo.

"Existe um contexto pandêmico que tem exigido políticas públicas mais abrangentes que olhem para o problemas de forma diferenciada", diz Reinach. "É preciso ampliar os canais de escuta para amparar as crianças antes de uma tragédia".

"Estamos falando do ápice da violência que resulta em morte. Mas quantas crianças estão sendo agredidas e empurradas para um cemitério de forma silenciosa?".