Eduardo Moura (Folhapress)

O secretário especial da Cultura do governo Bolsonaro, Mario Frias, postou um comentário racista direcionado a um ativista negro. O assessor da Presidência Tercio Arnaud Tomaz reproduziu uma chamada do site Brasil247 com foto do ativista e título "Jones Manoel diz que já comprou fogos para eventual morte de Bolsonaro".

Tomaz comentou: "Quem caralhas é Jones Manoel?". Mario Frias então respondeu: "Realmente eu não sei. Mas se eu soubesse diria que ele precisa de um bom banho." Jones é um homem negro, com cabelo estilo black power e barba.

Jones Manoel é um historiador pernambucano, estudioso da obra do italiano Domenico Losurdo (1941-2018), que impressionou Caetano Veloso pela sua crítica ao liberalismo.

Anaís Motta e Sara Baptista (Folhapress)

Pai do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), Valmar Souza Paes morreu nesta sexta-feira (25), aos 78 anos, vítima de complicações causadas pela Covid-19. Ele estava internado em um hospital da zona sul da capital fluminense desde o fim de abril.

"A prefeitura do Rio confirma o falecimento do senhor Valmar Souza Paes, de 78 anos, pai do prefeito Eduardo Paes, nesta sexta-feira (25), vítima da covid-19. Advogado, Valmar Paes era baiano, casado há 54 anos com Consuelo Paes e deixa três filhos e cinco netos", informou em nota a administração municipal.

Valmar foi intubado em 29 de abril. Três dias antes, o prefeito do Rio havia retornado ao trabalho depois de ficar 15 dias isolado por ter se infectado pela segunda vez -a primeira foi em maio do ano passado.

Na ocasião, Eduardo Paes pediu orações ao pai.

"Aqui em casa, graças a Deus, eu e minha mãe já zerados da covid-19. Só falta agora meu coroa, que - se Deus quiser -, sai dessa em breve. Vamos prevalecer! Peço a oração de todos por meu pai", disse.

Igor Gielow (Folhapress)

Presidente eleito sobre uma plataforma de tolerância zero com malfeitos administrativos, Jair Bolsonaro (sem partido) não convence os brasileiros neste quesito: para 70% dos eleitores entrevistados pelo Datafolha, há corrupção em seu governo.

A percepção é amplificada pelas suspeitas de irregularidades em contratos do Ministério da Saúde, colocadas à luz pela CPI da Covid. Entre os entrevistados pelo instituto, acham que há corrupção na pasta 63%, e que o presidente sabia dela, 64%.

Os dados foram colhidos pelo Datafolha ao entrevistar 2.074 pessoas com mais de 16 anos, nos dias 7 e 8 de julho. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos.

Segundo o instituto, os grupos que mais veem corrupção na gestão Bolsonaro são mulheres (74%), jovens (78%), moradores do Nordeste (78%) e, claro, aqueles que reprovam a atual administração do governo federal (92%).

São estratos semelhantes em sua avaliação negativa do presidente da República em diversos itens coletados pelo Datafolha nesta pesquisa. O presidente está com seu maior índice geral de reprovação, 51%, e 52% dos ouvidos o consideram desonesto -invertendo a impressão colhida em junho de 2020, há pouco mais de um ano, portanto.

O único grupo pesquisado em que a opinião negativa sobre corrupção não é majoritária é o dos empresários (2% dos ouvidos), no qual 50% creem haver malfeitos no governo, tecnicamente empatados com os 48% que discordam.

Já aqueles que acham que não há corrupção no governo perfazem 23% da amostra. Aqui, a crença na probidade da gestão é maior entre homens (28%), pessoas com mais de 60 anos (29%), e os nichos de eleitores evangélicos (30%) e de moradores de Norte e Centro-Oeste (31%).

Por óbvio, a taxa dispara entre os que aprovam o governo (60%) e os que confiam na palavra do presidente (74%). No cômputo geral, contudo, o primeiro grupo soma 24% e o segundo, 15%.

A apuração de irregularidades na venda de vacinas ao governo federal tem dominado o noticiário nas últimas semanas e chegou ao presidente, que viu ser aberto um inquérito pelo Supremo Tribunal Federal para investigar se ele prevaricou no caso.

A suspeita sobre a compra de imunizantes veio à tona em torno da negociação da vacina indiana Covaxin, quando a Folha revelou em 18 de junho o teor do depoimento sigiloso do servidor da Saúde Luis Ricardo Miranda ao Ministério Público Federal (MPF), que relatou pressão "atípica" para liberar a importação de doses do imunizante indiano.

Desde então, o caso virou prioridade da CPI. A comissão suspeita do contrato para a aquisição da vacina por ter sido fechado em tempo recorde, em um momento em que a Covaxin ainda não tinha todos os dados de ensaios clínicos divulgados, e por prever o maior valor por dose, em torno de R$ 80 (ou US$ 15 a dose). Meses antes, o ministério já tinha negado propostas de vacinas mais baratas do que a Covaxin e já aprovadas em outros países, como a Pfizer (que custava US$ 10).

A crise chegou ao Palácio do Planalto após o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), irmão do servidor da Saúde, relatar que o presidente havia sido alertado por eles em março sobre irregularidades.

Bolsonaro teria respondido, segundo o parlamentar, que iria acionar a Polícia Federal para que abrisse uma investigação. A CPI, no entanto, constatou que não houve solicitações nesse sentido. O Ministério da Saúde suspendeu o contrato após a Folha revelar o teor do depoimento de Ricardo Miranda ao MPF.

Ainda segundo o relato do deputado, Bolsonaro teria dito a ele e ao irmão que o problema no ministério era um "rolo" do seu líder na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). O acusado nega, mas o presidente nunca negou o episódio –questionado por carta pela CPI da Covid sobre isso, usou termos chulos para dizer que não responderia.

A partir do caso Covaxin, a Folha chegou a outro caso de suspeitas de irregularidades envolvendo a Davati Medical Supply. A reportagem localizou Luiz Paulo Dominghetti Pereira, que se apresentou como vendedor da empresa.

À Folha ele disse que o então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou propina de US$ 1 por dose de vacina para fechar contrato. As acusações foram repetidas em depoimento à CPI da Covid. Dias foi exonerado em seguida.

Tal comportamento encontra eco na opinião pública. Para 63%, há corrupção na Saúde, ante 25% que a descartam e 12% que não sabem. A visão é mais sustentada por quem tem curso superior (68%).

Mais importante, 64% dos entrevistados acreditam que Bolsonaro sabia dos problemas, justamente o que o inquérito busca esclarecer. Outros 25% não creem nisso e 11%, não opinaram.

São mais crentes no conhecimento presidencial os jovens de 16 a 24 anos (72%) e os nordestinos (71%), repetindo o padrão crítico de outros itens desse levantamento. Já acreditam mais em que Bolsonaro nada sabia aqueles que ganham entre 5 e 10 salários mínimos (36%) e os empresários (44%).

O Datafolha também questionou acerca do conhecimento específico dos casos. Aí, 70% dos ouvidos disseram estar informados sobre eles, 22% bem, 34% mais ou menos e 9%, mal.
Nesse grupo, a taxa de quem acha que havia corrupção sobe para 77%, e chega a 85% entre aqueles que acham que Bolsonaro sabia. No geral, dentro daqueles que conhecem os casos, 74% avaliam que o presidente tinha conhecimento de tudo.

Já as pessoas que dizem confiar mais em Bolsonaro são majoritariamente aderentes da tese de que ele nada sabia dos malfeitos (71%). Na mão inversa, aqueles que defendem o impeachment do presidente (54% na amostra total) são quase unânimes (89%) em achar o contrário.

Apesar da percepção negativa e a chegada do tema aos protestos de rua, a expectativa de que haverá aumento nos casos de corrupção no governo caiu ante a pesquisa anterior na qual a pergunta foi feita, em 15 e 16 de março. Acham que o problema vai crescer 56%, ante 67% há quatro meses.

A opinião é espraiada pelos vários grupos socioeconômicos da amostra. Os que avaliam que a corrupção vai se manter nos níveis atuais oscilaram de 23% para 26%, com uma crença maior entre os mais ricos: 44% acham isso. Para 13%, haverá menos irregularidades, ante 8% em março. Aqui, os que ganham de 5 a 10 salários mínimos são os mais otimistas (22%). Não souberam opinar 5% (3% no levantamento passado).

Matheus Teixeira (Folhapress)

O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), solicitou ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos a inclusão do ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel e de seus familiares no programa de proteção às testemunhas, com direito à proteção e ajuda de custos.

A defesa de Witzel enviou à CPI requerimento pedindo proteção para que possa depor em sessão secreta da comissão. Ele já prestou depoimento em junho, mas disse que poderia apresentar novos elementos sobre corrupção envolvendo hospitais federais no Rio e também OS (Organizações Sociais). No entanto, disse que concordaria em colaborar apenas em uma sessão secreta.

Em ofício encaminhado ao ministério, Aziz pede a inclusão no programa de Witzel, sua esposa e seus três filhos menores de idade.

"Evidencia-se que o depoente, em razão dos fatos graves que tem a revelar à comissão, encontra-se em situação de expressivo risco a sua integridade física e à integridade de seus familiares, em especial, porquanto os referenciados fatos envolvem agentes dotados de relevante poderio político e econômico, bem como podem trazer à baila irregularidades concernentes a desvios de finalidades e à captura política de instituições de Estado", afirma Aziz no ofício.

O ofício requisita segurança, proteção e amparo a Witzel e seus familiares, segurança nas residências, incluindo o controle de telecomunicações, escolta e segurança nos deslocamentos, ajuda financeira mensal para prover as despesas necessárias à subsistência individual ou familiar, apoio e assistência social, médica e psicológica e custeio total de assessoramento jurídico -em caso de processos movidos contra o ex-governador por conta de seu depoimento.

A solicitação de Witzel foi assinada pelo advogado Diego Pereira, que elogia a decisão da CPI e pede a compreensão da ministra Damares Alves, responsável por conceder a proteção.

"Com muita assertividade o senador Omar Aziz deferiu nosso pedido. Agora, esperamos que a ministra Damares tenha sensibilidade com a situação, e também defira o pedido com a urgência que o caso requer", diz.